Depois de muito ponderarmos, decidimos encomendar uma caixa de transmissão em Martinica. Comprámos em segunda-mão, pois uma nova, da mesma marca que a nossa, custa quase quatro mil euros… Esta fica-nos por muito menos. Segundo o revendedor, dá garantias de durar alguns anos. No entanto, como já nos vamos acostumando, nas Caraíbas os prazos de entrega estão sempre dependentes do transporte entre as ilhas.
A distância entre Guadalupe e Martinica é mais ou menos a mesma de Macau a Cantão, podendo ser percorrida por “ferry” em pouco mais de três horas. Ainda assim, a empresa que efectua o transporte de encomendas apenas envia os pacotes à quarta-feira. A nossa ficou pronta na quarta-feira, mas já depois da hora do envio. Conclusão: sendo que só fomos informados deste “pequeno” pormenor depois do facto consumado, vamos ficar uma semana à espera, sem podermos recorrer a outra solução. Mas não vale a pena desesperar dado que aqui tudo funciona desta maneira e nada muda por nos queixarmos. Resta esperar e passar o tempo concentrados noutras tarefas.
A última semana foi passada entre idas a terra para ir ao parque de diversões com a Maria, ao supermercado, ao centro comercial, e alguns afazeres no barco. Mudámos o óleo do motor e os filtros, para além de outros trabalhos de manutenção que estavam pendentes.
Havendo tempo disponível, também retirámos parte da protecção do poço, cujo plástico transparente das janelas precisa de ser substituído. O trabalho era para ser realizado por um profissional, mas como experimentámos a nossa máquina de costura e ela foi capaz de costurar o material metemos mãos à obra, o que nos permitiu poupar umas dezenas de euros. Durante os nossos passeios pela cidade de Pointe-a-Pitre encontrámos uma loja especializada em tecidos para exteriores – desde impermeáveis a todo o tipo de plástico – a preços muito mais baratos do que os praticados pelo profissional da marina.
Houve ainda tempo para limpar e montar a caixa de transmissão danificada, para que mais tarde possa ser reparada e servir de reserva. Algo que planeio fazer quando tiver a oportunidade de comprar um conjunto de reparação, colocando à prova as minhas habilidades mecânicas.
Também tivemos o prazer de conhecer uma família – um inglês, uma sul-africana e um jovem nascido na Nova Zelândia – que viveu em Portugal alguns anos e que agora vive a bordo do seu pequeno catamaran. Conhecemo-los depois de termos visto o marido a tentar manobrar o barco, com a ajuda de um bote durante uma chuvada. Estávamos a acabar de almoçar e decidi ajudar na manobra. No dia anterior tínhamos visto a família a sair da zona da marina, também com a ajuda do bote, pelo que pensámos que estivessem com problemas no motor. Suspeitas que se confirmaram depois de o ter ajudado a ancorar numa zona segura, junto do centro da cidade. Quando subi a bordo fiquei a conhecer a história desta família.
Chegaram da Europa no ano passado, tendo feito a última paragem em Cabo-Verde, onde abasteceram de água. Água essa que acabou por causar um problema de rins ao filho do casal, tendo ficado internado duas semanas em Guadalupe.
Planeamos oferecer-lhes um jantar no nosso veleiro para que possamos partilhar as nossas histórias e ficar a conhecer melhor a sua experiência de vida. Trata-se de um casal de idade avançada, com um filho de dezasseis anos.
Na última crónica não tive a oportunidade de referir que fomos entrevistados para uma rádio de Portugal, que transmite via Internet (www.radiomiudos.pt) e que tem como audiência principal as crianças de língua portuguesa em todo o mundo. É um projecto do nosso amigo João Pedro Costa, que trabalhou muitos anos na Rádio Macau. Fomos por ele abordados há vários meses para que contássemos a nossa história ao seu auditório, mas só agora se proporcionou. Não sabemos se a animada troca de palavras foi entretanto emitida. Prometo que assim que a Rádio Miúdos nos disponibilizar o som o divulgaremos no nosso blogue (www.sailingdee.com) e na página do Facebook (www.facebook.com/sailingdee). A conversa decorreu através da aplicação Skype com bastantes falhas de comunicação, o que deve ter dado “água pela barba” ao João Pedro na fase de montagem. Foi pena que a Maria não tivesse participado na conversa, uma vez que coincidiu com o momento em que dormia a sesta. Ainda tentámos que dissesse umas palavras mas não quis colaborar. Ficou a promessa de tentarmos gravar algo em Português para que emitam mais tarde.
JOÃO SANTOS GOMES