Mantendo o fim sob controlo

No ocaso da nossa vida

Um estudante universitário, que afirmou não acreditar na religião, perguntou-nos: «Qual é a diferença entre ter ou não ter uma fé?»

«Se alguém tiver fé, em particular a Fé Católica», respondi-lhe, «esse alguém sabe o que lhe acontecerá após a sua morte (de acordo com o Credo). Ele sabe que existem dois possíveis finais: satisfação incomensurável e infinita, ou frustração e desapontamento infinitos.

Além disso, se essa pessoa tiver Fé, sabe que tem o poder de escolher entre essas duas possibilidades, e será ensinado sobre o que precisa fazer para conseguir obter essa satisfação incomensurável e infinita (através da observação dos Mandamentos). E não só. Ser-lhe-ão fornecidos todos os recursos necessários para conseguir esse objectivo (os Sacramentos e as Orações)».

A morte é um enigma para muitos, mas todos nós, incluindo eu e vocês, teremos que a enfrentar mais cedo ou mais tarde. A Constituição Dogmática da Igreja Católica “Lumen Gentium” (nº10) do Vaticano refere que, apesar do rápido progresso que verificamos à nossa volta, continuamos a ser incomodados pelas mesmas perguntas de sempre: O que é o Homem? O que é esse sentimento de lamento, de mal, de morte, que continua a existir apesar de todo esse progresso? Que sentido têm as vitórias conseguidas a um preço tão elevado?… O que se segue a esta vida terrena? E continua: O Homem não é apenas atormentado pela dor e pelo avanço da deterioração do seu corpo, pior ainda, pela ameaça da sua extinção permanente… a ruína final e o desaparecimento completo da sua própria pessoa. Por isso, ele revolta-se contra a morte, porque tem em si uma semente eterna que não pode ser reduzida a apenas matéria (Lumen Gentium 18).

Mas o melhor de se ter Fé é que a morte deixa de ser um problema. Para um não crente a morte é um ponto final absoluto, mas para os que têm Fé não passa de uma simples vírgula. Jesus Cristo transformou a morte, de uma maldição numa benção. «Quando o perecível se torna não perecível, e o mortal se torna imortal, então deverá ter lugar o disposto, conforme está escrito: “A morte é engolida vitoriosamente”. “Ó morte, onde está a tua vitória?” “Ó morte onde está a tua força?”» (I Coríntios 15:54-55).

Existem pelo menos três lições que se podem tirar de uma consideração sustentada da morte. A primeira lição é que o tempo que temos deverá ser utilizado o melhor possível porque a nossa vida na Terra passa muito rapidamente. O Salmo 90 (versículos 5-5 e 10, 12) diz que o homem é como a erva, que desponta de manhã mas pelo fim da tarde «desvanece-se e falece». Para além disso dizem que o tempo de vida média é de no máximo setenta anos, e para os mais saudáveis cerca de oitenta, e mesmo assim o seu percurso é trabalhoso e conturbado; eles desaparecem cedo, e nós dispersamo-nos. E assim se conclui no versículo 12: «Ensinem-nos a contarmos os nossos dias de forma que possamos ter um coração sábio». Ensinem-nos a contar os nossos dias, ensinem-nos a conhecer o valor de cada momento que passa. Tornar-nos-emos sábios quando aprendermos a não desperdiçar o tempo precioso que Deus nos concedeu. Conforme Gandalf, o mágico, na trilogia “O Senhor dos Anéis”, disse: «O que todos temos que decidir é o que fazer com o tempo que nos é concedido».

A segunda lição é que mesmo que Deus nos tenha feito como senhores do Mundo Material temos que nos recordar sempre que Ele é o Senhor incontestado, Ele é o Senhor de tudo.

Podemos fazer projectos, devemos fazer projectos, mas todos os nossos projectos estão sujeitos à sua aprovação. Aqueles que dizem “hoje ou amanhã iremos a esta e aquela cidade e ficaremos lá um ano a negociar e a ter lucros” não sabem nada sobre o dia de amanhã. Como estará a vossa vida? Porque sois como um pouco de orvalho que aparece durante algum tempo e depois desaparece. Em lugar disso deveriam dizer, «Se Deus quiser, faremos isto ou aquilo» (Tiago 4:13-15).

A terceira lição é que não nos devemos sobrecarregar com tantas preocupações e ligações deste mundo. Quando S. João Paulo II foi eleito Papa começou a escrever o seu testamento espiritual (última vontade) onde disse «não deixo posses mundanas das quais seja necessário desfazer-me. Para as coisas de uso diário peço que sejam distribuídas conforme for apropriado. As minhas notas pessoais que sejam queimadas». Este facto explica-nos porque é que ele foi capaz de amar a Deus e amar os Homens. Quando aprendermos a nos afastarmos das coisas supérfluas então estaremos livres, livres para amarmos a Deus e aos outros com amoroso auto-sacrifício. E receberemos muito mais em troca.

Para ilustrar o que quis dizer deixem-me terminar com uma história de autor desconhecido (se por acaso souberem quem é o verdadeiro autor, por favor enviem-me de imediato um e-mail a dizer).

«Jenny era uma bonita menina de 5 anos de olhos brilhantes. Um dia quando ela e mãe saíam de uma mercearia, Jenny viu um colar de pérolas de plástico que custava dois dólares e vinte cêntimos. Ela gostou imediatamente do colar. Convenceu a sua mãe a deixá-la ajudar na lida da casa, para ganhar algum dinheiro e assim poder comprar o colar. Depois de alguns dias de trabalho duro, Jenny conseguiu ter o seu colar.

Ela usava o colar em toda a parte – no jardim de infância, quando ia dormir e quando saía com a mãe para “dar uma volta”. Só não usava o colar quando tomava banho; a mãe disse-lhe que o colar ia fazer com que o pescoço dela ficasse verde.

Jenny tinha um pai muito amoroso. Quando ela ia para a cama, todas as noites ele se levantava e ia ler-lhe a história favorita. Uma noite, quando acabou de ler a história, o pai perguntou-lhe; “Jenny , tu amas-me?”

“Oh, sim paizinho, tu sabes que eu te amo”, disse a menina.

“Ok, então dá-me as tuas pérolas”.

“Oh pai, as minhas pérolas, não,” disse Jenny, “mas podes ficar com a Rosie, a minha boneca predilecta. Pode ser?”.

“Oh, não, querida, mas não faz mal”. O pai deu-lhe um beijo na bochecha. “Boa noite minha pequenina”.

O mesmo aconteceu na semana seguinte, e nas que se seguiram, e de cada vez Jenny oferecia a seu pai qualquer outra coisa que não o seu colar de pérolas.

Bastantes dias mais tarde, quando o pai de Jenny veio para lhe ler a história, ela estava sentada na cama com lágrimas nos olhos. Já não tinha mais nada para dar ao pai quando ele lhe pedisse as pérolas. Assim quando o pai lhe perguntou “amas-me?” ela colocou hesitantemente o colar de pérolas falsas na mão do pai. Mas assim que o pai recebeu o colar de pérolas de plástico tirou de um dos bolsos um estojo de veludo azul. Dentro do estojo estavam pérolas, reais, verdadeiras e maravilhosas.

“Sempre as tive comigo” ele disse. “Estava só à espera que me desses o colar barato, pois assim eu poderia dar-te um colar verdadeiro”».

Pe. José Mario Mandía

jmomandia@gmail.com

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