LIGA DAS MULHERES CATÓLICAS DAS FILIPINAS

MAIS UMA REFLEXÃO SOBRE A GUERRA MUNDIAL AOS PEDAÇOS

A paz… que tarda!

São cada vez mais angustiantes as notícias de guerra no mundo. Podemos ficar indiferentes?

Continua a tentativa russa de dominar a Ucrânia, onde todos os dias morrem pessoas, muitas vezes civis sem intervenção militar. Cidades inteiras ficaram devastadas; foram destruídas linhas de abastecimento, centrais eléctricas; continua a haver milhões de ucranianos deslocados, muitos a viver precariamente no estrangeiro.

O horror da guerra dura há dois anos e parece não ter fim, como se a contabilidade das vidas humanas fosse um jogo. A Ucrânia começou por defender apenas o próprio território, mas agora estende a sua acção a objectivos civis no interior da Rússia. De um lado e do outro, acumula-se o ódio e a morte.

A crise na Terra Santa, com a lenta e imparável expansão territorial de Israel e uma longa história de agravos mútuos, agudizou-se dramaticamente no passado mês de Outubro com o ataque do Hamas que vitimou quase mil e 500 civis israelitas. Israel aproveitou a ocasião para conquistar toda a Faixa de Gaza, descarregar o seu ódio contra a população indefesa que ali vivia e avançar na conquista da Cisjordânia. É a chamada doutrina Moshe Dayan, estabelecida em 1950, que consiste em ignorar o agressor e vingar-se barbaramente na população civil. Dayan reconhecia que este método não tem justificação nem é moral, mas considerava que era o único efectivo. Desde então, a média de Israel tem sido matar vinte palestinianos por cada israelita morto. Embora neste momento já falte pouco para atingir os trinta mil palestinianos mortos, para vingar os quase mil e 500 israelitas vítimas do Hamas em Outubro, a sede de sangue não parece acalmar-se. Além das mortes, a retaliação incluiu desalojar toda a Faixa de Gaza, arrasar sistematicamente todas as povoações, cortar as estradas, os apoios humanitários, o abastecimento de água e de comida e bombardear os hospitais.

O Tribunal Penal Internacional está a estudar a situação, porque admite que esta acção seja o genocídio do povo palestiniano. Para já, pediu a Israel que respeitasse algumas regras de humanidade. No entanto, o Tribunal não tem força para fazer cumprir as suas decisões, a comunidade internacional não consegue unir-se para travar a ofensiva e a tragédia continua. Israel argumenta que só bombardeia alvos militares, mas a verdade é que nem sequer sabe onde é que o Hamas esconde os prisioneiros israelitas e as trinta mil vítimas foram civis, incluindo o pessoal das Nações Unidas que distribui alimentos à população deslocada. De um lado e do outro, crescem os ódios.

Os locais de conflito armado espalham-se como um incêndio, transformando esta Terra num inferno.

É um erro pensar que a vingança dá alegria. Quem arde em desejo de se vingar nunca fica satisfeito com a maldade cometida contra os outros. O ódio reclama cada vez mais ódio. Não só as vítimas sentem a tentação de responder da mesma maneira, como o próprio fica preso numa espiral insaciável de aversão e de infelicidade.

A paz diz-nos respeito. O Papa pede em todas as audiências que «não esqueçamos as guerras». Não nos podemos habituar a este vento de loucura que varre o mundo, temos de sofrer com o sofrimento alheio, temos de lutar pela justiça e nunca – em momento algum – podemos admitir um sentimento negativo contra alguém.

O demónio não compreende esta estratégia, ri-se daqueles que sofrem por problemas que não lhes dizem respeito e continua a rir-se das bem-aventuranças: “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça!”, “bem-aventurados os pacíficos!”.

O ódio não cansa e por isso o Inferno não tem fim. Enquanto que o amor enche plenamente a alma de felicidade inesgotável e por isso o Céu também não tem fim.

José Maria C.S. André

Professor do Instituto Superior Técnico da Universidade de Lisboa

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