Um barbeiro campeão
O título diz tudo sobre a forma de viver desta personalidade, bem conhecida em Macau pela sua participação nos Jogos da Lusofonia, em 2006. A sua presença na edição macaense rendeu a Portugal a melhor medalha na meia-maratona, tendo terminado em segundo lugar.
Licínio Pimentel, nascido e criado em Mira, cedo enveredou pelas corridas de atletismo, desporto que o físico franzino favorecia, fazendo dele um atleta rápido e temido pelos colegas, pois nunca aparenta estar cansado.
O ponto mais alto da carreira terá sido em 2010, quando em representação do Conforlima se sagrou Campeão Nacional de Estrada. Mas há outros a registar: em 2018 foi o capitão da equipa do Sporting Clube de Portugal que ganhou a Taça dos Campeões Europeus de Corta Mato, e em 2006 fez parte da Selecção Nacional que ganhou a medalha de bronze no Campeonato Europeu de Corta Mato. Pelo meio ficaram algumas dezenas de prémios, entre os quais os títulos de Campeão Nacional por Equipas que o Sporting ganhou em 2016, 2017, 2018 e 2019, também em Corta Mato.
Licínio Pimentel destacou-se nas provas de fundo, crosse e estrada, realizando uma longa carreira, sendo que este será o último ano como profissional, confessou a’O CLARIM.
Antes de vestir as cores do Sporting passou pelo NA Joane, onde ganhou o Campeonato Nacional de Crosse Curto. Ainda no Corta Mato, participou também em sete edições dos Campeonatos da Europa, obtendo como melhor classificação um 14.º lugar em 2009, ajudando Portugal a ganhar duas medalhas de prata e uma de bronze nesta competição.
Passou pelo Benfica antes de ingressar no Sporting, onde em 2018 se sagrou Campeão Nacional de Estrada. Nesse mesmo ano foi o capitão da equipa que arrebatou o título europeu.
Apesar de todos estes feitos, Licínio nunca deixou de ser o rapaz simples e tímido dos tempos de escola, muito virado para ele mesmo e para os seus objectivos. Uma vez que barbeiro foi sempre a sua profissão, decidiu voltar às origens sem qualquer tipo de complexos, o que é raro vermos em campeões como ele. Actualmente trabalha a tempo parcial, dado que a temporada desportiva está a decorrer e o nosso entrevistado é atleta profissional a tempo inteiro. Claro está que planeia trocar as sapatilhas pelas tesouras, dentro em breve. E, sinceramente, não sei em qual das duas será mais perfeccionista…
Se no atletismo nunca deixou créditos por mãos alheias, na arte de cortar barbas e cabelos, pela minha experiência, também não ficamos mal servidos. No meu caso, foi rapar a cabeça e fazer a barba, entre uma conversa animada – como são sempre as nossas – num final de tarde. Discorremos pelos tempos de infância, sem esquecer a sua ida a Macau e os convites que a seguir foi recebendo para voltar à RAEM, os quais infelizmente nunca pôde aceitar por incompatibilidade de calendário.
Os dias passados em Macau durante os Jogos da Lusofonia foram recheados de novas experiências. Com muita pena minha, nessa altura não o consegui encontrar, mas as histórias que me vai contando servem para refazer o trajecto que teve entre Macau e a Taipa.
Entre muitas peripécias, há uma que não esquece e que envolveu outros portugueses bem conhecidos de todos. A cantora Manuela Azevedo, acompanhada por outro elemento da banda Clã, que se encontrava em Macau para um concerto, andava por uma loja na zona das Ruínas de São Paulo, onde a predominância dos turistas era naturalmente asiática. No meio de toda aquela multidão de pessoas acabaram por se cruzar com o Licínio e outro membro da Selecção Portuguesa, que também estavam meios perdidos… Claro está que ficaram todos muito admirados por se encontrarem, ainda por cima desorientados, num mar de pessoas a falar Chinês. Curiosamente, no mesmo dia, voltaram a encontrar-se e partilharam um táxi de volta ao hotel na Taipa, prosseguindo com a conversa antes iniciada de como os portugueses sempre se cruzam, mesmo que o destino seja no fim do mundo!
De Macau, Licínio guarda gratas memórias e espera um dia regressar, a fim de participar na Meia-Maratona. Agora que a vida das corridas vai abrandar pode ser que venha a surgir um novo convite e desta vez seja possível conciliar uma ida ao Oriente.
João Santos Gomes