Diocese de Hong Kong ao lado dos manifestantes, mas repudia actos de violência
A intenção do Governo de Hong Kong em fazer aprovar no Conselho Legislativo uma lei de extradição para a China continental tem causado conflitos verbais e principalmente físicos entre vários sectores da sociedade de Hong Kong e as suas autoridades oficiais. A classe estudantil tem tomado a dianteira das acções de manifestação, das quais têm resultado autênticas batalhas campais em algumas das principais artérias da ex-colónia britânica.
De que forma estes acontecimentos têm afectado ou até mesmo envolvido a Igreja Católica e os seus fiéis, é a questão para a qual O CLARIMfoi procurar resposta.
Segundo o semanário católico de língua inglesa de Hong Kong, Sunday Examiner, enquanto instituição activa da Região Administrativa Especial, a Igreja Católica tem manifestado apoio aos opositores à iniciativa legislativa, não deixando no entanto de vir a público criticar todos os actos de violência cometidos pelos manifestantes.
Desde que no passado dia 16 de Junho dois milhões de pessoas se concentraram no Victoria Park, um dos lugares mais emblemáticos da presença britânica no território, que o administrador apostólico da diocese de Hong Kong, cardeal D. John Tong, o bispo-auxiliar D. Joseph Ha, o bispo-emérito cardeal D. Joseph Zen e padres com bastante influência no seio da comunidade católica de Hong Kong, têm participado em eventos religiosos e sociais organizados por várias entidades, entre as quais a Comissão Diocesana para a Juventude e a Federação dos Estudantes Católicos.
O ponto alto das manifestações e subsequentes confrontos com as forças policiais deu-se no passado dia 1 de Julho, data em que se assinalou o 22º aniversário da transferência de soberania de Hong Kong para a República Popular da China. A situação ficou de tal modo incontrolável que os manifestantes invadiram o Conselho Legislativo destruindo tudo à sua passagem.
Serenados os ânimos, seis líderes religiosos de Hong Kong, entre os quais o cardeal D. John Tong, assinaram um documento em que se opõem à invasão do Conselho Legislativo e reiteram a necessidade de diálogo entre a sociedade e o Governo, com vista ao bem-estar dos cidadãos e ao normal funcionamento das instituições.
Entre as inúmeras declarações já proferidas pelos responsáveis da Igreja Católica em Hong Kong, destacamos um apelo do cardeal D. John Tong, emitido pela Diocese. O actual administrador apostólico pede ao Governo e a todos os sectores da sociedade que “trabalham em conjunto por forma a encontrarem soluções para o actual dilema que a todos afecta”.
Com o pensamento especialmente direccionado para os jovens, D. John Tong pede que se tenha em conta as preocupações dos mais novos, para que “juntos encontrem um novo caminho rumo às suas aspirações”.
No final do documento, o cardeal garante que a diocese de Hong Kong tudo irá fazer para “ajudar a juventude”, estando pronta “a colaborar com os trabalhadores sociais que lidam diariamente com problemas da juventude”.
Sem querer intrometer-se em demasia no que é acima de tudo uma decisão política, a diocese de Hong Kong tem-se posicionado ao lado da juventude – a face mais visível do protesto – pois também a Igreja Católica na ex-colónia britânica tem os seus receios quanto à redacção da proposta da lei de extradição apresentada, por considerar que o Estado de Direito poderá ser violado sempre que alguém no futuro seja extraditado e julgado no continente chinês, onde entre outras penas vigora a pena de morte, dado que só por si atenta contra a Lei Básica, segundo alguns analistas.
José Miguel Encarnação