IGREJA DE NOSSA SENHORA DO AMPARO

IGREJA DE NOSSA SENHORA DO AMPARO

Uma obra-prima de azulejaria

A Igreja de Nossa Senhora do Amparo, no Concelho de Ovar, é para mim a igreja mais bonita de Portugal. Subjectivo, claro, mas julgando pela arte em azulejo que ostenta na sua fachada, dificilmente é igualada em qualquer parte do mundo. E com a não menos exuberante manifestação artística do seu interior, acaba por ser uma obra-prima no maior esplendor. Infelizmente, é pouco conhecida por grande parte dos turistas e mesmo dos residentes do Concelho de Ovar e zonas circundantes.

O facto da igreja matriz de Santa Maria de Válega (como também é conhecida) ficar na freguesia de Válega, longe dos grandes centros urbanos, tem contribuído para este quase obscurantismo e desconhecimento generalizado.

Tivemos conhecimento desta obra-prima durante as nossas viagens, para baixo e para cima, pela Estrada Nacional 109, que ligava o Porto a Leiria, passando por todas as localidades mais à beira-mar de Portugal. Dizemos “ligava” porque agora já não chega ao Porto, começando, do seu lado norte, em Gulpilhares (Vila Nova de Gaia). Passa depois por Arcozelo, Espinho, Ovar e Válega, antes de se rumar – sempre a “beijar” o mar – até à cidade dos Templários, Leiria.

Vínhamos de uma qualquer viagem ao Norte, se não estamos em erro, das Astúrias, e decidimos por ali parar, para dormir antes de seguirmos viagem. Era usual, na ausência de áreas gratuitas para autocaravanas, procurarmos parques de estacionamento junto a templos religiosos, cemitérios ou esquadras de Polícia, por uma questão de segurança acrescida.

A igreja matriz de Válega não era para nós completamente estranha, sendo que eu até tenho um ex-colega de escola desta localidade, mas nunca tinha tido a oportunidade de a visitar ou de a ver de perto. Quando acordámos no dia seguinte à pernoita, a surpresa não podia ter sido melhor.

Em termos de dimensão não é imponente e está enquadrada com o cemitério local. Mas o trabalho de azulejaria portuguesa na sua fachada não deixa ninguém indiferente, sendo que o trabalho exterior tem continuação no interior do templo.

Demorou cerca de um século a ser construída; a primeira pedra foi assente em 1746, o que faz da igreja um exemplo de arte religiosa do Século XVIII.

Pessoalmente não compreendo como é que uma obra desta natureza continua sem estar classificada pelas autoridades competentes. Tal deve-se ao facto dos painéis de azulejos não serem tão antigos quanto a estrutura da igreja.

Entre 1923 e 1958 tiveram lugar os primeiros trabalhos de conservação, uma empreitada de iniciativa privada, durante a qual foram aplicados os primeiros painéis, em 1942, mais concretamente o painel de azulejos da Senhora do Amparo, no topo externo da capela-mor. Um trabalho contratado a um ateliê de Aveiro e concretizado pela Fábrica Lusitânia, em Lisboa.

Mais tarde, em 1959 e 1960, numa obra também patrocinada por um benemérito, foi revestida a fachada principal, nas paredes interiores da nave e na parte superior do arco triunfal, com azulejos figurados da Fábrica Aleluia, em Aveiro. Os vitrais das janelas foram encomendados em Madrid.

Em 1975, finalmente a igreja ficou com a aparência que tem hoje, com a instalação do revestimento dos alçados laterais e posterior, com azulejos também da Fábrica Aleluia, desenhados pelo famoso arquitecto Januário Godinho, da Invicta.

A Fábrica Aleluia é uma das fábricas de cerâmica mais carismáticas de Aveiro, estando a sua primeira unidade fabril situada junto à Estrada Nacional 109, bem à entrada da cidade da Ria.

Infelizmente, no dia em que ali parámos, era de noite e quando acordei já era dia, pois segundo dizem a melhor altura para se apreciar a fachada da igreja é ao pôr-do-sol, dado que está virada a Poente.

“Ao pôr-do-sol, a fachada da igreja, virada para Poente, é particularmente bela, banhada pelos raios de sol. Um verdadeiro templo dourado que brilha com os seus fantásticos azulejos de múltiplas cores”, encontrámos escrito. Algo que em breve teremos a oportunidade de desfrutar num destes dias de Verão.

Em resumo, esta igreja é um belo exemplar da arte da pintura do azulejo e, sem sombra de dúvida, uma das mais impressionantes em Portugal!

Para lá chegar, indo-se do Norte ou do Sul, o acesso mais directo é a auto-estrada e, depois, a Estrada Nacional 109 até Válega.

Vale a pena a visita e também um passeio a pé pela pacata vila, onde podemos deliciar-nos com uma rosca de canela – isto quando o Museu Etnográfico da Casa do Povo de Válega está aberto ou se tem paciência para que alguém o venha abrir.

Se o grupo de visitantes for composto por mais de quinze pessoas, pode-se entrar em contacto com o Museu para que prepare uma refeição tradicional, a qual poderá incluir, entre muitas outras iguarias, o bem conhecido (da zona costeira de Portugal) arroz de feijão com pataniscas, ou o arroz de cabidela, caso o frango tenha sido morto nesse dia. Nas carnes, há o tradicional cozido à portuguesa, confeccionado em panela de ferro fundido no borralho e os rojões com batata salteada.

João Santos Gomes

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