Comunidade de língua portuguesa mais próxima dos caminhos da fé
O padre Daniel Ribeiro não tem dúvidas. A pandemia de Covid-19 deixou os católicos de Macau, que falam Português, mais perto de Deus. O período de férias, reconhece o vigário paroquial da Sé Catedral para a comunidade de língua portuguesa, é propício a uma maior angústia e ansiedade, sobretudo por parte dos mais novos, mas a Igreja mantém-se atenta. Para o mês de Agosto estão previstas várias iniciativas direccionadas para as crianças da catequese.
A pandemia de Covid-19 aproximou a comunidade local de língua portuguesa dos caminhos da fé. O diagnóstico é traçado a’O CLARIMpelo padre Daniel Ribeiro, responsável pela pastoral em Português da paróquia da Sé Catedral, para quem os longos meses de incerteza decorrentes da crise de saúde pública levaram muitos fiéis a redescobrir em Deus o verdadeiro refúgio.
Segundo o missionário brasileiro, a afluência significativa às missas em língua portuguesa, celebradas tanto na paróquia da Sé Catedral como na paróquia de Nossa Senhora do Carmo, são prova suficiente de que muitos católicos vêem a Palavra de Deus e os caminhos da fé como uma resposta à ansiedade e à inquietude com que o novo coronavírus os confrontou. «Aquilo de que me tenho apercebido é que, talvez pelo facto de as pessoas não poderem ou não quererem sair de Macau, a participação nas missas aumentou e tem-se mantido alta. Tanto na missa antecipada de sábado, como na Eucaristia de Domingo, o número de fiéis é considerável. As duas missas estão cheias e, mesmo durante a semana, há um número considerável de pessoas que toma parte na Eucaristia e eu sei que o mesmo acontece na igreja de Nossa Senhora do Carmo, na Taipa», afirma. «O que me parece a mim é que esta realidade do coronavírus fez com que as pessoas se aproximassem de Deus. E por uma boa parte delas não poderem ou não desejarem sair de Macau, procuram em Deus um apoio e um refúgio. Não tenho qualquer dúvida que as pessoas têm procurado mais, através da participação na missa, este encontro com Deus», acrescenta o missionário dehoniano.
Com o fim do ano-lectivo e a aproximação do que seria, em circunstâncias normais, o principal período de férias do ano, a ansiedade e a fragilidade emocional a que as comunidades expatriadas radicadas no território estão sujeitas tem tendência a aumentar, mas pela experiência que angariou ao longo dos últimos meses o padre Daniel Ribeiro considera que os adultos lidam de uma forma mais capaz com a inquietude e o sentimento de resignação. O padre Daniel Ribeiro acredita que o verdadeiro problema radica nas expectativas nutridas pelos mais novos. «Os pais entendem estas circunstâncias excepcionais com mais facilidade. Mas as crianças ficam muito ansiosas, querem sair e estas circunstâncias são um grande desafio para nós», refere. «Penso que a apreensão é maior em relação às crianças. As crianças gostam muito de viajar e as férias escolares costumavam permitir isso. Elas ficam mais ansiosas e esta ansiedade é algo muito evidente com as crianças que integram a nossa catequese. Na paróquia da Sé temos aproximadamente cem crianças, divididas em nove grupos de catequese, e quando termina o ano da catequese, no fim de Junho, normalmente as crianças vão para Portugal, para a Tailândia ou para algum país aqui da Ásia, e este ano voltaram a não conseguir sair», lembra.
CONVÍVIO COM DEUS
As actuais circunstâncias e a tomada de consciência de que os mais novos são quem mais se ressente da inviabilidade de um Verão junto com os avós e a família alargada levou os responsáveis pela catequese das paróquias da Sé Catedral e de Nossa Senhora do Carmo a unir esforços com a missão de procurar combater a ansiedade a que as crianças estão, eventualmente, sujeitas. Para o mês de Agosto estão previstas pelo menos duas iniciativas, contou a’O CLARIMo padre Eduardo Aguero, companheiro do padre Daniel Ribeiro na Congregação dos Sacerdotes do Sagrado Coração de Jesus. «Estamos a preparar algumas iniciativas, mas ainda não sabemos a resposta definitiva das pessoas. Mas aquilo que eu estou a tentar fazer é promover um convívio de jovens, no dia 7 de Agosto, para os preparar para que possam ser animadores para a Infância Missionária. Depois, o objectivo é o de organizar, a 20 e a 21 de Agosto, uma actividade que possa reunir os animadores e as crianças da catequese, tanto do Carmo, como da Sé», explicou o sacerdote argentino. «Já sabemos que podemos contar com o empenho dos jovens, mas ainda não temos a resposta dos pais, nem das crianças. Não sabemos ao certo com quantas crianças podemos eventualmente contar», disse o missionário dehoniano.
A iniciativa, que está a ser coordenada com os pais do grupo de jovens que frequentam a catequese na paróquia de Nossa Senhora do Carmo, deve decorrer em Coloane, se o projecto chegar a bom porto.
Para o padre Daniel Ribeiro, o conforto emocional e espiritual dos mais novos deve ser visto como uma prioridade, embora assegure que as necessidades espirituais dos mais velhos não têm sido descuradas. «Há as actividades direccionadas para as crianças com o padre Eduardo e as actividades espirituais comigo, sempre no último sábado de cada mês. Temos no final deste mês e em Agosto voltaremos a ter uma formação e um momento de adoração eucarística, depois da missa antecipada. É um momento de espiritualidade que se prolonga mais ou menos por uma hora. Mais: as confissões estão disponíveis em permanência na igreja de São Domingos», lembra o padre Daniel Ribeiro.
A concluir, sublinhou: «as pessoas estão a procurar mais Deus e a comunidade de língua portuguesa é uma comunidade sólida, de pessoas oriundas de diferentes cidades e de diferentes países. Penso que é uma comunidade que não tem tantas necessidades materiais, em comparação com pessoas de outras origens, como os cidadãos filipinos ou indonésios, mas na parte espiritual nota-se uma maior procura e eu acho que a Igreja está a conseguir servir estas necessidades de uma forma qualificada».
Marco Carvalho