Porque há mal no mundo?
Esta pergunta tem resposta, mas só Deus a conhece inteiramente.
Às vezes comprovamos que “Deus escreve direito por linhas tortas”, que certos males foram ocasião de se alcançarem bens maiores, mas nalguns casos a pergunta fica a ecoar sem resposta. Deus pede-nos confiança. Sabemos que Ele tem a última palavra e que um dia, no Céu, ouviremos a sua resposta a cada pergunta. Para já, confiamos e pedimos-Lhe, como rezamos no Pai Nosso, «livrai-nos do mal».
Ao ler a ficha escolar do Tiago Mesquita Guimarães colocou-se novamente a questão do mal. A opinião dos professores é invulgarmente elogiosa:
“O Tiago é muito responsável, autónomo, organizado, interessado e empenhado. Tem uma excelente postura na sala de aula”.
Quanto ao aproveitamento académico:
“À semelhança do período anterior, o Tiago manteve o seu aproveitamento e responsabilidade excelentes”.
Obteve as classificações máximas, está perfeitamente integrado na turma e é apreciado pelos colegas:
“Exerce o cargo de subdelegado com muita sabedoria e é muito solidário”.
Os professores reiteraram que o aproveitamento escolar foi excelente, como já tinha sido nos períodos anteriores:
“O Tiago é um aluno empenhado, tendo desenvolvido com excelência as aprendizagens essenciais a todas as disciplinas”.
Ah! Existe uma excepção:
“…excelência (…) a todas as disciplinas, excepto a Cidadania e Desenvolvimento, por falta de assiduidade. Parabéns!”. Como se sabe, o Tiago não frequentou a tal disciplina de “Cidadania” porque os pais dele não aceitam que a escola se encarregue da educação sexual do filho.
Os professores resumiram o percurso escolar do Tiago numa palavra: “Parabéns!”. As autoridades também foram sucintas, em duas palavras, “Não transita!”.
O fanatismo impressiona sempre, mas quando a crueldade se abate sobre crianças com todo o poder da máquina do Estado, é difícil encontrar uma explicação. Porque há mal no mundo?
Não sei onde li que a hipocrisia é a homenagem que o vício presta à virtude. Realmente, por mais que tente, o vício não se consegue livrar desta vassalagem, cola-se desesperadamente à virtude, sem reparar que assim reconhece a sua própria fraqueza. Os ditadores propõem-se a “limpeza” étnica, o “saneamento”, a “reeducação”… Propõem-se também “soluções finais”, “legalidade”, “cidadania e desenvolvimento” e até “liberdade” e “direitos humanos”. Empunham bandeiras hipócritas porque sabem de que lado está a vitória. Parecem cheios de poder, enquanto não chega o dia em que não haverá ódio nem mentira.
José Maria C.S. André
Professor do Instituto Superior Técnico da Universidade de Lisboa