Vítima de intrigas: São Silvério
SÃO SILVÉRIO
(8.VI.536 – 11.III.537)
Vimos na coluna n.º 33 de GUARDIÕES DAS CHAVES que o Papa São Hormisda (514-523) teve um filho antes de se tornar diácono. O filho, Silvério, tornou-se o 58.º Pontífice Romano. O seu Pontificado seria perturbado pelo envolvimento do poder secular na esfera religiosa (cf. “Cesaropapismo” em GUARDIÕES DAS CHAVES n.º 20).
Recordemos que após a queda do Império Romano Ocidental, em 476, e a migração para Sul dos povos germânicos, os ostrogodos tomaram o poder em Itália. Por outro lado, o Império Romano Oriental (também chamado Império Bizantino) continuou a prosperar até 1453. O Papa teve, portanto, de lidar com dois poderes seculares: o rei ostrogodo de Itália e o imperador bizantino.
Durante o Pontificado do Papa anterior, Agapito I, o rei germânico, Teodato, enviou o Papa a Constantinopla para pedir ao imperador bizantino, Justino, que cancelasse a invasão da Itália que estava a ser planeada. Mas o imperador disse que era tarde demais. Quando o Papa Agapito morreu, o rei Teodato escolheu pessoalmente Silvério para o suceder. Naquela época, Silvério era apenas um subdiácono, mas leal ao rei e também um excelente clérigo. Assim, o clero de Roma acolheu prontamente a escolha.
A 9 de Dezembro de 536, o general bizantino Belisário entrou com sucesso na cidade.
Os godos estavam insatisfeitos com o rei Teodato, então destituíram-no e fizeram de Vitige o seu novo rei. Este mandou assassinar Teodato, liderou um grande exército e sitiou Roma. Mais tarde foi capturado por Belisário, levado para Constantinopla e por lá morreu.
Entretanto, no Oriente, lembramos que a imperatriz Teodora (esposa do imperador Justiniano) tentou instalar Ântimo como Patriarca de Constantinopla. Tanto Teodora como Ântimo aderiram à crença eutiquiana (uma espécie de monofisismo). O Papa Agapito depôs Ântimo com a permissão do imperador bizantino Justiniano e nomeou Menas como Patriarca. Apesar disso, Teodora continuou a conspirar durante o Pontificado do Papa Silvério, tornando-lhe a vida difícil. Teodora pediu ao general Belisário que pressionasse o Papa Silvério para permitir que o Ântimo fosse restaurado como Patriarca de Constantinopla e também a acolher a heresia da natureza única (monofisita).
O Papa Silvério não cedeu às exigências da imperatriz. O Santo Padre foi preso, despojado do seu pálio e vestido com hábito de monge. Foi então anunciado que o Papa Silvério havia sido deposto. Belisário convocou o clero e ordenou-lhes que elegessem outro Papa. Teodora tinha o seu candidato pronto para a ocasião. Era, nada mais nada menos, que o diácono Vigílio, que tinha sido escolhido pelo Papa Bonifácio II (o 55.º Pontífice Romano) como seu sucessor. Quando Bonifácio mudou de ideias sobre nomear o seu próprio sucessor, Vigílio não desesperou. Intrigou com a imperatriz Teodora; na verdade, pagou-lhe uma grande quantia em dinheiro e prometeu realizar os seus desejos na medida do possível. Depois, foi eleito para substituir São Silvério (Brusher & Borden, “Popes through the Ages”, pág. 116).
O Papa Silvério foi enviado para o exílio em Patara. O bispo de Patara analisou o seu caso e concluiu que o Papa exilado era inocente. Por isso, foi a Constantinopla e defendeu São Silvério perante o imperador Justiniano.
O imperador escreveu ao general Belisário e instruiu-o a realizar uma nova investigação. Também permitiu que Silvério regressasse a Itália. Mas Vigílio, que já assumira o Papado, mandou prendê-lo e “levá-lo para a ilha de Palmaria, no mar Tirreno, onde ficou em confinamento rigoroso. Aqui morreu em consequência das privações e do tratamento severo que sofreu. O ano da sua morte é desconhecido, mas provavelmente não viveu muito tempo depois de chegar a Palmaria. Foi enterrado na ilha, de acordo com o testemunho do Liber Pontificalis em 20 de Junho; os seus restos mortais nunca foram retirados de Palmaria. De acordo com a mesma testemunha, foi invocado após a morte pelos fiéis que visitaram o seu túmulo. Mais tarde, foi venerado como santo” (Kirsch, J.P. 1912. Papa São Silvério. In “The Catholic Encyclopedia”. http://www.newadvent.org/cathen/13793a.htm).
Pe. José Mario Mandía