Para onde me levas Liberty?
Desde o início de 2016, quando a Liberty Media adquiriu todos os direitos da Fórmula 1, têm-se vindo a implementar nova regras e regulamentos mal aceites no interior do mundo da Fórmula 1 e mal vistos pelos fãs. O Halo, que ainda não conseguiu ser bem digerido pelos pilotos e “staff” das equipas, causa estranheza entre os espectadores menos informados, que perguntam “para que é que aquilo serve?”. De facto, a razão apresentada tem pouco mérito, pois baseia-se em apenas dois casos extremos de acidentes, um dos quais mortal. Primeiro, o acidente com Felipe Massa na Hungria, em que piloto brasileiro foi atingido por uma mola helicoidal que se soltou do carro que seguia à sua frente. Nunca ouvimos qualquer notícia ou alusão que desde 1950, até aquele momento, tenha havido qualquer acidente desse tipo. Pela trajectória da peça e o seu tamanho, mostrados nas televisões até à saciedade, estamos em crer que a mola passaria pelo Halo sem dificuldade.
Segundo, também como exemplo de periculosidade e consequente necessidade do Halo, foi apresentado o caso da morte de um piloto de Fórmula 2, atingido por um pneu que se soltou de outro carro acidentado. É verdade que o perigo existe, mas estes acidentes foram e são tão aleatórios que a hipótese de se repetirem é mínima. O desporto motorizado é perigoso. Por iniciativa de Sir Jackie Stewart e de algumas entidades, muito foi feito para minimizar esse perigo, sempre latente, mas que irá continuar a existir enquanto carros, motos e aviões – máquinas falíveis – forem lançados a velocidades muito para além do normal, conduzidos por seres humanos, também eles falíveis. Não será pois o inestético Halo que irá alterar este facto.
Também Ross Brawn afirmou que os fãs não gostavam das chamadas “shark fin” (barbatana de tubarão) e nunca ouvimos falar de qualquer pesquisa para se saber se os espectadores gostavam, ou não, da tal barbatana.
A possível alteração dos motores para depois de 2020, aquando do fim do actual contrato da Fórmula 1, está igualmente a gerar mau estar nas equipas de topo, pela simples possibilidade de só serem aceites motores de equivalente ou semelhante desempenho, quando a maior “assinatura” da Fórmula 1 é a sua diversidade. A Ferrari foi a primeira a “levantar o sobrolho” e ameaçou abandonar a Fórmula 1, sendo que a ameaça mantém-se. Agora é a poderosa Mercedes que alinha com a Scuderia de Maranello no descontentamento.
Ao longo de 2017 vimos como os pilotos, ao estilo americano, passaram a dar entrevistas (obrigatórias) logo a seguir às corridas, depois de mal saírem dos carros. Mais um passo tipicamente “Tio Sam”. A Liberty Media revelou a vontade de ter mais corridas de Fórmula 1 disputadas nos Estados Unidos, certamente em detrimento de outras corridas realizadas em circuitos tradicionais. Há pouco mais de dois meses o logo da categoria-rainha do desporto automóvel, criado na era Ecclestone foi – rudemente – apresentado pouco depois da última corrida da temporada de 2017. Sem comentar a beleza, originalidade, representatividade e a ligação ao desporto, o símbolo não teve uma aceitação pacífica.
Mais: quando menos se esperava, eis que a nova gestão da Fórmula 1 decidiu acabar com as “grid girls” (as jovens senhoras que acompanham o Circo e seguram os postes de colocação dos carros na grelha de partida), sem dar qualquer explicação. No entanto, foram muito “bondosos” ao condescenderem que mulheres possam continuar a exercer cargos na administração das equipas, como se a Liberty (“Liberdade”, em Português) também controlasse o dia-a-dia e a gestão das equipas…. Algumas centenas de jovens ficarão agora no desemprego, sem qualquer razão.
Para o tricampeão do mundo Niki Lauda, «acabar com as “grid girs” é acabar com a Fórmula 1». A decisão abrange também todas as provas do desporto motorizado que estejam sob a alçada da Liberty Media, bem como as corridas de suporte que integram o calendário da Fórmula 1. Os cavalheiros, que com a família se deslocam aos autódromos ou simplesmente ficam em casa em frente ao televisor, seja a que horas for, perguntam qual a razão de tal decisão. Será que a Liberty Media, para além da Fórmula 1, também comprou a Fórmula 2 e demais corridas de suporte? São muitos os que reclamam, sendo de esperar uma quebra violenta nas receitas de bilheteira e nas audiências das televisões de todo o mundo. Nas últimas semanas muito se tem ouvido a expressão: “é pá, a fórmula 1 já era”. Apenas duas vozes – conhecidas, até ao momento – se levantaram a favor da decisão de acabar (ou melhor, de prescindir) com as “grid girls”, e até mesmo com as “Podium Girls”, que dão a cara por dezenas de marcas comerciais (esperamos que continuem a fazê-lo por muitos anos). Uma terceira voz de apoio à medida veio da administração da Fórmula E, que prescindiu igualmente das “grid girls”.
Há quem já fale no desaparecimento, puro e simples, da Fórmula 1, num curto espaço de tempo (entre seis a oito anos), engolida pela vontade férrea de fazer evoluir a Fórmula E, em resposta ao empenho das fábricas de automóveis, que cada vez mais se debruçam no desenvolvimento do motor eléctrico.
Outras lides
Fernando Alonso estreou-se nos Sport Protótipos, nas 24 Horas de Daytona. Problemas de travões deixaram o piloto espanhol no 13º lugar. O pódio vencedor falou Português, com Filipe Albuquerque e João Barbosa de Portugal, e Christian Fittipaldi do Brasil.
Alonso, que ficou surpreendido com a sua prestação, tanto nos treinos como na corrida, considerou a prova um óptimo treino para – no mínimo – estar à altura da famosa 24 Horas de Le Mans, com um Toyota de fábrica.
O sonho de conquistar a Tripla Coroa do Desporto Automóvel (vencer no Mónaco, em Le Mans e nas 500 Milhas de Indianápolis, feito apenas alcançado pelo britânico Graham Hill) está bem aceso na mente do bicampeão do mundo de Fórmula 1. Depois de ter falhado dois “testes” (em 2017 abandonou nas 500 Milhas de Indianápolis com problemas de motor e, como já referimos, não terminou as 24 Horas de Daytona) o piloto espanhol acredita que em Junho possa conquistar a mítica prova de Le Mans. Está tudo em aberto!
Manuel dos Santos