Fórmula 1 – Época de 2017

China e Bahrain: o início das conquistas

Nós, que gostamos de seguir todos os pequenos detalhes do desporto motorizado a que se convencionou chamar “Fórmula 1”, que em anos recentes temos visto as suas lutas internas (contínuas) para se manter como o pináculo máximo da competição automóvel, esperávamos mais dos novos regulamentos. De facto, os novos carros são realmente mais rápidos do que os do ano passado, em cerca de seis segundos por volta. Com aerodinâmicas melhoradas e pneus de maiores dimensões, têm mais aderência e entram e saem mais depressa das curvas, em comparação aos anos anteriores. E daí? Melhorou o espectáculo? Não!

Os fãs, em casa e nos circuitos, querem ver acção, querem ver duelos entre pilotos, entre marcas, ou mesmo entre pilotos com carros da mesma marca, não importa quem. É preciso que haja “frisson” (excitação). Carros pilotados nos limites a poucos centímetros uns dos outros, roda com roda. No entanto, na Austrália, o que se viu? Nada! Nem Sebastian Vettel, com o seu Ferrari, teve qualquer necessidade de lutar com quem quer que fosse para se colocar à frente dos dois Mercedes de Lewis Hamilton e Valtteri Bottas.

O tetra-campeão do mundo de pilotos beneficiou de uma paragem para mudar pneus que o colocou à frente do pelotão e do facto do único piloto da Red Bull em pista, Max Verstappen, ter demorado muito tempo em ir às boxes, o que resultou numa vantagem confortável para Vettel. Quando Verstappen entrou nas boxes já os carros alemães não tinham qualquer possibilidade de alcançar e ultrapassar o Ferrari de Vettel. Os vinte segundos com que muitos saudaram a “derrota” dos Mercedes foram ilusórios. Pensamos que não corresponderam a qualquer tipo de superioridade dos Ferrari. Tratou-se de uma simples conjugação de factores.

Quanto aos outros carros, com mais ou menos dificuldade, foram cumprindo o seu papel de “extras”. Apenas se efectuaram ultrapassagens aquando da mostragem das bandeiras azuis, agitadas freneticamente aos pilotos, que aparentemente não se aperceberam dos monitores que piscavam a azul por todo o circuito. Para quem não sabe, o significado da bandeira azul é deixe passar um carro mais rápido que, por exemplo, esteja prestes a dar uma volta de avanço ao carro que se encontra à sua frente. Não foi um começo auspicioso. Os fãs não se interessam por “estratégias” que muitas vezes nem entendem. Querem corridas, querem duelos: Senna e Prost, Hunt e Lauda, Graham Hill e Clark, e tantos outros. Hamilton e Nico Rosberg conseguiram manter algum interesse nos últimos três anos, dando três campeonatos seguidos, tanto de construtores como de pilotos, à Mercedes. O fã é generoso, não se importa muito de quem o faz gostar de qualquer coisa. Mas que essa “coisa”, esse algo mais, seja reencontrado na Fórmula 1.

Este fim de semana disputa-se o Grande Prémio da China, no Circuito de Xangai. Esta temporada a prova do Império do Meio é a segunda do calendário, uma vez que o Grande Prémio da Malásia foi transferido para o fim de semana entre 29 de Setembro a 1 de Outubro, com o intuito de evitar os habituais dilúvios que assolam Kuala Lumpur nesta época do ano. Esperemos então que não chova…

Em 2016 a corrida de Xangai foi ganha por Rosberg, que seguia lançado à conquista do Campeonato. Se bem que seja um circuito da última geração, os pilotos sentem-se à vontade. Vettel, em Ferrari, e Daniil Kvyat, ainda na Red Bull, ocuparam os restantes lugares do pódio. Hamilton teve um fim de semana para esquecer. Vários problemas mecânicos forçaram a substituição de muitos componentes vitais, pelo que foram aplicadas as respectivas penalizações. Hamilton saiu do último lugar da grelha de largada e para piorar ainda um pouco mais a situação foi obrigado a trocar a asa dianteira, danificada na confusão do início da corrida. A partir daqui o piloto britânico fez uma daquelas corridas que os fãs adoram. Foi um festival de condução, tendo acabado num meritório sétimo lugar, apesar de ter trocado de pneus por cinco vezes.

Este ano não há Rosberg, mas há Bottas, que se mostrou à altura da tarefa que herdou na Mercedes. Espera-se que possa animar as próximas corridas. Há também o desejo que as novas caras do circo façam melhor na China do que fizeram na Austrália. Stoffel Vandoorne (McLaren) e Lance Stroll (Williams) terão que fazer mais. Já Fernando Alonso, que carrega a McLaren às costas, com o seu desabafo «não acabar uma corrida não é um problema para mim, é um problema para a McLaren», diz tudo! A equipa britânica já admitiu ter mantido conversações com a Mercedes para voltar a ter motores competitivos. Por seu lado, a Honda anda à procura de uma equipa que queira usar os seus motores.

Veremos como se portam todas as equipas nesta segunda corrida do ano. Os resultados irão reflectir-se no Grande Prémio do Bahrain, a 16 de Abril. Um circuito clínico, limpo e “arrumadinho”, onde os três grandes (Ferrari, Mercedes e Red Bull) se dão bem. No ano passado, os Mercedes ocuparam dois lugares do pódio (Rosberg, vencedor, e Hamilton, terceiro). Kimi Raikkonen foi segundo em mais um fim de semana de horror para Vettel, que partiu o motor do Ferrari logo no princípio da corrida. Os pilotos que terminaram a corrida mudaram de borracha três vezes, algo que provavelmente não acontecerá com os novos compostos da Pirelli, concebidos para durarem muito mais tempo. Estas duas corrida, mais a prova de Melbourne, irão mostrar quem está melhor posicionado no que respeita à conquista de títulos.

Pensamos que a estratégia, tanto para a China como para o Bahrain, passará pelos carros trocarem de pneus a um terço da corrida e aguentarem o melhor possível até ao fim, como sucedeu com Vettel na Austrália.

Manuel dos Santos

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