Fórmula 1 – Época de 2016

Baku, Ricciardo e muitas incertezas

Há menos de quinze dias o patrão da Fórmula 1, Bernie Ecclestone, falava em aumentar o número de Grandes Prémios para 22, afirmação que deixou muito boa gente de orelha torcida no “paddock”. Na passada sexta feira o mesmo Ecclestone afirmou, com o ar mais inocente deste mundo, que muito provavelmente teria que deixar de fora três Grandes Prémios porque o calendário estava a ficar muito pesado.

Todos os que acompanham a Fórmula 1 sabem os custos monetários e os problemas logísticos que acarreta a deslocação das equipas, acontece que os Grandes Prémios que poderão vir a deixar o Circo são três dos mais tradicionais: Monza, Grã-Bretanha e Bélgica. Para dar força à sua ideia, o homem que foi considerado «insubstituível» pelo antigo patrão da Ferrari, Luca di Montezemolo, simplesmente afirmou que tem de gerir um Campeonato do Mundo e não um campeonato europeu de Fórmula 1!

Lá terá as suas razões, mas estamos em crer que não será assim que se irá aumentar as audiências, que após uma pequena recuperação no início deste ano estão a voltar a cair.

O novíssimo circuito citadino de Baku, capital do Azerbaijão, revelou-se terrível em termos de espectadores. E não nos venham dizer que houve muita gente a assistir às várias corridas que compuseram o fim de semana. Na realidade houve muita gente, mas nas varandas e nas janelas das casas que ladeiam o circuito. As duas ou três bancadas instaladas, cada uma com capacidade para pouco mais de duas centenas de espectadores, estavam vazias. Bastava olhar para os espaços filmados pelo helicóptero para se ver a “grande afluência” de fãs nas bancadas. É pena, pois o circuito até é interessante do ponto de vista dos pilotos. Pessoalmente, alinho com os que não gostam do traçado.

Os acidentes que os comentadores antecipavam vieram a verificar-se, muito à custa dos fogosos pilotos da GP2. A largada foi uma verdadeira carnificina, tendo cerca de um terço dos carros ficado imobilizado. Quanto à Fórmula 1, Daniel Ricciardo e Lewis Hamilton foram os que deram mais nas vistas ao baterem nos muros. O piloto da Red Bull bateu durante os treinos livres, na curva 1, a seguir à recta da meta, e Hamilton deixou o Mercedes com a suspensão da frente direita partida durante a Q3, ou seja, na última etapa das qualificações, depois ter abortado duas voltas lançadas, após sair por uma escapatória – o mesmo local onde viria a bater. Foi notório que Hamilton não esteve à vontade no Circuito de Baku. Curiosamente, no final, até foi uma das corridas com menos desistências por acidente dos últimos tempos.

Incerta está a continuação de Kimi Raikkonen na Ferrari, talvez devido às fracas prestações que tem assinado – o carro também não tem ajudado. A Scuderia está com os olhos postos em Daniel Ricciardo para uma possível contratação relâmpago, muito possivelmente ainda antes do fim da temporada. O piloto australiano parece piscar o olho aos avanços da casa de Maranello. O problema é que, aparentemente, ainda tem contrato com a equipa da bebida energética até ao final da próxima época.

Segundo rumores vindos do “paddock”, a Ferrari já terá tomado a decisão de despedir Raikkonen. Actualmente não há muitos lugares vagos na Fórmula 1, pelo que Felipe Massa poderá ser “reformado” à força, dados os fracos resultados obtidos nos últimos dois anos, onde prometeu mais do que deu. A Williams poderá vir a repescar Raikkonen, que assim faria equipa com Valtteri Bottas, que também é finlandês.

Quanto a carros, se tivermos em conta que a Honda começou a trabalhar no seu motor híbrido em 2013 – o motor que a McLaren tem utilizado nos últimos dois anos – a sua performance não está tão mal como parece, uma vez que a fábrica tem menos um ano de experiência em relação à concorrência. Está na altura de começar a ir para a frente do pelotão e não apenas “mostrar trabalho” durante as qualificações, pelas mãos de Fernando Alonso. Os carros com que o piloto espanhol se qualifica e os carros utilizados durante as corridas aparentam nada ter em comum.

Há cerca de duas semanas a directora desportiva da Sauber, Monisha Kaltenborn, lamentava que a Fórmula 1 havia deixado de ser um desporto «correcto». As grandes equipas ganham muito – muitíssimo – mais dinheiro e têm muito mais regalias do que as outras equipas, algo que foi alvo de tentativas de intrusão e investigação por parte de deputados da União Europeia, mas sem qualquer resultado.

Para surpresa de todos, e não só do “paddock”, Ecclestone – sempre ele – avançou com a possibilidade de se redistribuir os fabulosos lucros da Fórmula 1 de forma mais equitativa e de modo semelhante ao praticado pelas associações do futebol europeu. Tudo muito bem, pensarão alguns, mas por muito menos do que isso os três grandes (Ferrari, Red Bull e Mercedes) já ameaçaram boicotar as corridas até se estabelecer um campeonato paralelo com apenas três ou quatro marcas, voltando a surgir as equipas privadas ou semi-privadas. Foi assim que a Fórmula 1 começou! Veremos o que vai sair daqui, mas poucos esperam que os três grandes, e mesmo algumas das equipas do meio do pelotão, fiquem muito satisfeitas com as palavras do “dono disto tudo”.

O Grande Prémio da Áustria disputa-se este fim de semana no Circuito de Spielberg, propriedade da Red Bull. Trata-se de um autódromo antigo que sido constantemente melhorado pelos novos patrões, havendo apenas a criticar o facto da recta da meta continuar estreita. Foi há muitos anos que sob chuva, a seguir a largada, apenas um carro sobreviveu. Se a pista está mais larga, não se nota muito.

Manuel dos Santos

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