Até ao cair do pano
Este fim de semana disputa-se o Grande Prémio de Abu Dhabi em Fórmula 1. O Circuito de Yas Marina é um dos mais espectaculares – senão o mais espectacular – dos que foram desenhados por Hermann Tilke. Tudo o que se possa imaginar, que deva existir num circuito de corridas de automóveis, está lá. O circuito está no meio do deserto, mas junto à capital. O facto de ter uma grande área de água perto do complexo desportivo ajuda a minorar as elevadas temperaturas que se fazem sentir, acima dos trinta graus centígrados durante o dia, que contrastam com uns “meros” vinte (ou menos) durante a noite. Os serviços meteorológicos de Abu Dhabi preveem que os três dias das corridas tenham céu limpo, com pouco vento, o que aumentará o desconforto dos pilotos no interior dos carros.
Todos sabem que os dois pilotos da Mercedes irão envolver-se num duelo fratricida até ao final da corrida de 55 voltas. Se não acontecer nada de estranho ou anormal, os dois companheiros de equipa deverão alcançar os dois primeiros lugares. Com “nada de anormal”, queremos dizer: batidas, manobras de intimidação de parte a parte, não apenas entre os dois pilotos da marca de Estugarda, mas também vindas de outros pilotos.
Vettel da Ferrari, Verstappen e Ricciardo da Red Bull, e Sergio Perez da Force Índia estão descontentes com as atitudes dos comissários nas duas últimas corridas (México e Brasil), que tomaram decisões opostas para os mesmos acontecimentos em pista, o que os prejudicou. Na realidade, este facto foi altamente “dissecado,” na praça pública, nos últimos quinze dias. Lavar roupa suja em público não é, nem nunca foi, a melhor forma de solucionar o que quer que seja; a ponto do próprio Bernie Ecclestone, o ainda grande patrão da Fórmula 1, vir desacreditar os pilotos, dizendo que com as constantes “trapalhadas” e erros cometidos os pilotos já não parecem estar muito empenhados na pura competição. Antes – no seu entender – preferem esperar que os adversários façam uma manobra, mesmo que nem seja remotamente ilegal, para desatarem a gritar nos rádios dos seus bólides que alguém os “empurrou”, “obstruiu”, “mudou de direcção”, etc., etc., de modo a que as suas equipas façam queixa e, assim, beneficiarem de uma possível penalização.
Para Ecclestone, esta situação nasceu devido às constantes mudanças e rectificações das regras e regulamentos, senão mesmo com a introdução de novas regras com efeito imediato. O espectador já não consegue distinguir entre o que é correcto e ilegal. Este clima de suspeição está a afectar o “paddock”, podendo prejudicar a próxima temporada. Para já prevêem-se graves problemas no desporto automóvel em geral, pois atravessa um período difícil.
Em outras categorias, que não a Fórmula 1, a Volkswagen Audi Group anunciou que se irá retirar das competições. De imediato, as equipas que correm com carros das duas marcas abrandaram – no mínimo – colocando-se numa posição de expectativa com muita preocupação à mistura. Nos ralis, onde a VW se impôs (depois a saída da Citroen há dois anos), várias equipas vão ter de procurar outras marcas e mecânicos especializados. Os Volkswagen de turismo, que brilharam em Macau no último fim de semana, também deixarão de se ver.
Mas é a saída da Audi nos turismos e no Campeonato do Mundo de Resistência que mais está a abalar o desporto automóvel. Nos turismos tivemos em Macau um exemplo flagrante, quando se soube que o “Senhor Macau”, Edoardo Mortara, tinha assinado pela Mercedes Benz, porque a Audi deixou de precisar dele. No mundial de resistência a notícia foi recebida como um violento terramoto. Alguns milhares de pessoas vão ficar sem emprego. E estamos a falar apenas das 24 Horas de Le Mans, prova que se tornou, ao fim de treze anos, parte integrante da Audi – a marca alemã venceu por sete vezes – e onde construiu uma rede de unidades de “acolhimento”, sendo que algumas estão ao nível de pequenos hotéis e vão ficar vazias.
Pode-se afirmar, quase de certeza, que todos os tipos de profissões que suportam o desporto automóvel foram afectados, desde fabricantes de acessórios a cozinheiros, passando por gestores e “designers” de automóveis de competição. Este ano o mundial de resistência disputou-se em oito países, onde a Audi “dava cartas” dentro e fora da pista. Vai ser muito difícil arranjar um substituto.
A agravar a situação, o mundial de turismos perdeu mais duas das suas poucas marcas oficiais. Se vier a Macau no próximo ano, não se sabe muito bem quantas equipas de fábrica alinharão ao lado da Honda no asfalto da Guia.
Macau 2016
Quanto ao Grande Prémio de Macau, foram muitas as pessoas que nos perguntaram a opinião sobre o evento. Enquanto que a alguns não demos resposta, a outros dissemos simplesmente que se tratou de «um bom conjunto de corridas – umas melhores, outras piores».
A celebração dos 50 anos do Grande Prémio de Motos teve uma corrida digna da efeméride e dois portugueses venceram as duas provas com mais tradição, o que até hoje nunca tinha acontecido.
Na Corrida da Guia, os comissários fizeram o que acharam certo, mas Comini, outros pilotos e dirigentes de equipas discordaram com as constantes interrupções, e disseram em alto e bom som o que sentiam.
Os nossos comentadores, infelizmente, continuam a brindar-nos com verdadeiras pérolas de desconhecimento. Ao contrário do que disseram na TDM, Laurens Vanthoor não bateu em nada – nem no chão, nem nos correctores das trajectórias. Pura e simplesmente, perdeu controlo do carro, algo que acontece a muitos bons pilotos, como o seu companheiro de equipa Edoardo Mortara. Ambos não andaram à procura de desculpas avulsas para esconder os erros.
Manuel dos Santos