Fórmula 1 – Época de 2016

Ansiedade no “Paddock”

O desporto automóvel, em especial a Fórmula 1, tem vindo a desgastar a sua imagem: por vezes muito depressa, por culpa própria, com decisões absurdas, regulamentos fantasistas e o domínio monomarcas que se tem sentido desde o início deste século; por vezes mais lentamente, com acções e resoluções que afastam os fãs dos circuitos, da frente dos televisores e das livrarias que vendem revistas especializadas.

Muitos dizem que a Fórmula 1 está a morrer aos poucos com as decisões de Bernie Ecclestone. Por ironia, o mesmo homem que tornou um desporto elitista num entretenimento global, levando o “Circo” para cada vez mais longe da Europa, para países que são totalmente alheios ao desporto automóvel, em busca da novidade e de novos aficionados e dinheiro. O resultado tem sido a diminuição do número de espectadores em cada Grande Prémio e a consequente quebra de receitas.

A ansiedade e a necessidade de se compor a situação tem vindo, aparentemente, a piorar o actual quadro, mas parece haver uma luz no fim do túnel. O Grande Prémio dos Estados Unidos, disputado no passado Domingo, teve a sua maior afluência de sempre; nada mais, nada menos, que 269 mil 889 pessoas, que pagaram o bilhete de ingresso. O “mayor” de Austin, a cidade mais perto do circuito, que tinha dito estar a pensar em cancelar os apoios municipais à organização, parece ter reconsiderado a decisão.

A corrida em si não foi a mais excitante dos últimos tempos, mas deixou todos satisfeitos com os resultados. Até a nova equipa americana HAAS F1 conseguiu marcar “em casa” um precioso ponto, com o décimo lugar de Romain Grosjean. Os dois Mercedes ficaram, como era de esperar, nos dois primeiros lugares. Hamilton venceu e Rosberg fez o que lhe competia: ficou no segundo lugar. Dito assim, parece que foi fácil, mas – segundo Toto Wolff – estes dois homens vivem momentos de extrema ansiedade.

Tanto Hamilton como Rosberg podem tornar-se campeões do mundo este ano. Um erro de Hamilton ou um deslize de Rosberg pode deitar “tudo por água abaixo”. Os dois pilotos aparentam uma tranquilidade que na verdade não têm, graças a um rígido controlo emocional. Durante os próximos fins de semana, de cada uma das três corridas a disputar até ao final do campeonato – México, já este Domingo; Brasil, a 13 de Novembro; e Abu Dhabi, a 27 de Novembro – tanto a ansiedade de cometerem uma falha, como o medo de que algo fora do seu controlo aconteça (um erro dos engenheiros, uma qualquer peça quebrada, etc.), poderão fazer com que as suas aspirações legítimas desapareçam no ar como uma bonita bola de sabão.

Para ajudar ao “stress”, Ecclestone veio a público dizer que Rosberg, como campeão, não seria bom para a Fórmula 1, o que desencadeou um coro de acusações de xenofobia e de tentativa de desestabilização do piloto “alemão” em benefício do piloto britânico. Ecclestone é britânico!

Rosberg foi o vencedor da corrida do ano passado e, certamente, dar-lhe-ia muito jeito vencer de novo a prova mexicana. Tem agora uma vantagem de 26 pontos para o seu companheiro de equipa, que se não conseguir qualquer ponto no México “entrega” o título a Rosberg, desde que este vença a corrida. O piloto “alemão” contabilizaria uma diferença suficiente para dar um “xeque-mate” a Hamilton, visto que passaria a ter 51 pontos de vantagem. Com apenas mais duas provas, o total possível de Hamilton seria de 50 pontos. KO técnico por um ponto! Se se der o contrário: Rosberg desistir e Hamilton ganhar uma corrida, então este último sagrar-se-á, em princípio, campeão pela quarta vez, a terceira consecutiva.

Desde as três últimas corridas do ano passado que Rosberg tem beneficiado de uma fiabilidade muito superior à de Hamilton, que teve quase todos os problemas possíveis, incluindo um motor que explodiu na Malásia.

Os Mercedes parecem continuar a dominar tudo e todos, o que fez com que as autoridades malaias tenham vindo ameaçar com o fim da Fórmula 1 em Sepang, talvez já para o próximo ano, devido ao facto da «Fórmula 1 já não ser o produto», fruto da proliferação descontrolada de Grandes Prémios na Ásia, o que aumenta a ansiedade dos organizadores, sempre com prejuízos consideráveis no final de cada corrida, pois a oferta é muito superior do que a realmente necessária.

O Grande Prémio do México está assim escalonado (hora local da Cidade do México): Treinos Livres 1, sexta-feira, 10:00-11:30; Treinos Livres 2, sexta-feira, 14:00-15:30; Treinos Livres 3, sábado, 10:00-11:00; Qualificação, sábado, 13:00-14:00; Corrida, Domingo, 13:00-15:00.

Manuel dos Santos

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