Fórmula 1 – Época de 2015

Hulkenberg vence Le Mans

Qualquer pessoa com um mínimo de interesse no desporto automóvel está ciente das dificuldades com que a Fórmula 1 se tem debatido desde o início do segundo decénio do século XXI, enfrentado crise após crise, e muitas delas não são mais do que o seguimento da crise anterior mal resolvida ou apenas contornada. Confrontando-se com uma incrível dificuldade em arranjar soluções, as entidades mais ou menos oficiais, e mesmo a própria FIA – Federação Internacional do Automóvel, recorrem actualmente a pesquisas de opinião pelo mundo fora. O problema é que embora as respostas sejam apreciadas e atendidas quando razoáveis, as perguntas de quase todos os inquéritos conhecidos repetem-se, o que no final não nos dá uma visão alargada das possíveis soluções nascidas dessas pesquisas. Proceder-se a quatro pesquisas, umas atrás das outras, apenas alterando a colocação das perguntas, sem qualquer criatividade, não deverá ser o melhor para captar as ideias das milhares de pessoas consultadas. Uma vez mais a confusão e falta de ideias inovadoras deverá resultar em pouco mais do que um aglomerado de respostas, repetidas, sendo que muito poucas poderão ser aproveitadas.

A Fórmula 1 cresceu demais, deixou de se preocupar com o interesse dos espectadores, tanto de bancada como televisivo, ao afastar-se dos circuitos tradicionais. A resposta ouvida a esta iniciativa, feita por alguns comentadores, de que o resto do mundo também tem direito a ter corridas de Fórmula 1, é ridícula. Esquecem-se que a maioria, a esmagadora maioria dos espectadores, não tem possibilidades – financeiras e outras – de se deslocar pelo mundo fora para ver as corridas, o que não corresponde ao ideal da Fórmula 1 dos primeiros 45/50 anos.

O resultado de inovações apressadas, alterações constantes aos regulamentos e tentativas falhadas de se implementar ideias sem pés nem cabeça, são problemas a juntar aos já existentes. Cada vez mais cara, com carros que não agradam aos espectadores, mais lentos em cerca de 6/7 segundos por volta, as multidões escasseiam cada vez mais.

E multidões é o que não falta ao Campeonato do Mundo de Endurance (Resistência), com um calendário comedido de apenas oito provas – a “velhinha” 24 Horas de Le Mans mais sete provas de seis horas.

Multidões que se viram no passado, desde que as provas de “endurance” começaram, muito antes da Fórmula 1 e dos Carros de Grande Prémio anteriores às Grandes Guerras, continuam fiéis ao longo dos tempos. Não que as corridas de resistência não tenham problemas, e por vezes graves, como o brutal acidente das 24 Horas de Le Mans em 1955, ou as corridas mono-marca do início dos anos 90, onde por falta de interesse das outras marcas apenas a Peugeot apresentou carros na única prova desse tipo no Circuito de la Sarthe.

Organizada pelo Automóvel Clube do Oeste (Automobile Club de l’Ouest) a edição deste ano (a 83ª) foi ganha por uma equipa integrada por um piloto da actual fórmula 1, Nico Hulkenberg, que entrou para história da prova ao vencê-la na primeira tentativa. Há muitos pilotos que já alinharam incontáveis vezes nesta mítica corrida sem terem sequer chegado perto dos lugares do pódio, apesar de utilizarem carros altamente competitivos. Sem consultarmos qualquer livro ou arquivo, vem-nos à memória o nome de Mário Andretti, que venceu tudo o que havia para vencer nos Estados Unidos, foi Campeão do Mundo de Fórmula 1, mas nunca conseguiu vencer na “corrida mais longa”.

O único piloto a conseguir vencer a tripla coroa, (Indianápolis, Mónaco e Le Mans) foi o inglês Graham Hill, que não se contentou em vencer apenas uma vez no Principado do Mónaco, repetindo a proeza mais quatro vezes. Hill foi Campeão do Mundo de Pilotos por duas vezes, venceu a famosa Indy 500 em 1966, e Le Mans em 1972.

Por parte dos pilotos portugueses em Le Mans, só Pedro Lamy se destacou até agora, de entre uma mão cheia de nomes. Este ano – pensa-se que por não ter percorrido uma distância suficiente – a equipa de Pedro Lamy não se classificou, apesar ter terminado a corrida com 321 voltas. Ainda assim, o piloto português lidera a classe LMGTE, com duas vitórias no Mundial de Resistência. Em Le Mans, Lamy já conseguiu três segundos e um terceiro lugar na classe rainha, a LMP1.

No passado fim de semana mais quatro pilotos lusos integraram equipas que disputaram a corrida de resistência francesa em diversas classes de veículos. O melhor classificado, com um óptimo sétimo lugar na classificação geral, foi Filipe Albuquerque. Os portugueses classificados foram Rui Águas, na 26 ª posição da geral num Ferrari Italia da classe LMGTE, e João Barbosa na 32ª posição da geral com um Ligier JS P2 da classe LMP2. Tiago Monteiro foi excluído por ter efectuado apenas 260 voltas ao circuito, que tem um perímetro de 13,629 quilómetros, sendo que a volta mais rápida foi estabelecida por um Audi no ano passado em 3 minutos, 17 segundos e 475 milésimas.

Le Mans é o maior circuito do mundo com uma capacidade para 120 mil espectadores na recta da meta. Desta vez assistiram à corrida cerca de 230 mil pessoas. Se compararmos com a Fórmula 1, só há uma resposta: Não há comparação!

Por falar em Fórmula 1, esta regressa já este fim de semana à Europa, para o Grande Prémio da Áustria, no Red Bull Ring, na cidade de Spielberg – terreno propício aos Mercedes, mas onde os Ferrari e talvez os Williams tenham uma palavra a dizer.

Manuel dos Santos

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