Fórmula 1 – Época de 2015

Canadá

Este fim de semana o Circo da Fórmula 1 voa até ao Canadá, Circuito Gilles Villeneuve, na ilha de Notre Dame, em Montréal. Sendo uma ilha artificial construída num rio, o circuito não podia ser mais elaborado. Duas longas rectas que com o passar dos anos se foram curvando e às quais se introduziram as curvas e chicanes possíveis, para tornar a corrida mais competitiva. É uma pista onde os carros atingem grandes velocidades e onde os travões são importantes devido às duas curvas fechadas que ligam as partes rápidas do circuito. É um circuito onde os Mercedes não se sentem à vontade e onde ainda não conseguiram vencer. No entanto, Lewis Hamilton já venceu por três vezes neste circuito e entre os pilotos que estarão em pista este fim de semana, Alonso, Ricciardo, Vettel, Button e Raikkonen já subiram ao lugar mais alto do pódio, o que juntando Hamilton faz com que um terço dos pilotos presentes já tenha vencido em Notre Dame.

Com a quase totalidade das equipas a apostarem em novos conjuntos aerodinâmicos e mecânicos, especialmente no que respeita aos travões, pode ser que os suspeitos do costume voltem a fazer a sua habitual “dobradinha”, o que seria mau para a Fórmula 1, mas bom para a Mercedes que aqui ainda não venceu como construtor.

E assim vai a Fórmula 1, que continua sem qualquer solução viável para os problemas que se avolumam, sem que o Grupo de Estudo (o “Think Tank”) apresente algo de concreto. Vão fazendo “remendos”, uns atrás dos outros, sem apresentarem nada de novo, ou de excepcional, para remediar a crise que se avoluma.

O sugerido regresso aos reabastecimentos que – lembre-se – foram banidos por serem demasiado perigosos, não deverá ser a solução, acabando por levar a um gasto absurdo de dinheiro. Como há corridas nos dois sentidos dos ponteiros do relógio as equipas terão que conceber dois carros totalmente diferentes para cada tipo de corrida. Reabastecer do lado direito dos carros na maior parte dos circuitos e do lado esquerdo em quatro circuitos implica mais dinheiro numa disciplina em que se quer reduzir os custos.

Quanto a nós, não será com os reabastecimentos que os carros voltarão a ser mais rápidos e competitivos. Apesar de continuarem a ser muito, mas muito rápidos, os carros actuais fazem tempos por volta mais lentos, na ordem dos seis a sete segundos, que os carros do início deste século. Reabastecer obriga a que os carros tenham que desacelerar, entrar nas boxes, andar mais devagar no “pit lane”, parar, serem reabastecidos e regressarem à pista.

Alguns poderão argumentar que os carros já hoje fazem isso duas ou três vezes por corrida, para trocarem de pneus. É verdade, mas – pelo que se ouve nos bastidores – quando os carros forem reabastecidos não será permitida a troca de pneus. Com a muito provável saída da Pirelli, como fornecedor exclusivo de pneus, não se sabe quais serão as implicações de um novo fornecedor, que terá que se adaptar aos carros. É que um pneu de Fórmula 1 não é exactamente um pneu normal…

Voltando ao “Think Tank”, outra das ideias “admiráveis” que foram transmitidas à Imprensa seria a possibilidade de poder haver “carros cliente”, algo que já existiu na Fórmula 1 num passado longínquo, aparentemente com algum sucesso. Trata-se de pilotos privados a correrem com carros de equipas oficiais. Este modelo desapareceu no início da década de 60 do século passado. Ainda hoje nos Estados Unidos, nas duas maiores disciplinas controladas pelas autoridades desportivas norte-americanas (Indianápolis e Stock Cars), a maioria das equipas são privadas e correm com carros idênticos aos carros de fábrica. Esta solução funcionou bem desde o seu início quando as corridas ainda eram efectuadas em pistas de areia. Mas como os americanos têm uma mentalidade muito diferentes dos europeus não estamos a ver muito bem como se efectuará a mudança que, no entanto, já recebeu o apoio da Ferrari, Mercedes e Red Bull. A Force India está muito indecisa sobre as reais vantagens desta medida. A Sauber e a Renault opõem-se terminantemente, citando éticas e costumes cimentados ao longo dos últimos 40 anos na Fórmula 1…

A Red Bull, que dominou tudo e todos há dois anos, pondera aceitar a hipótese de haver penalizações por excesso de motores utilizados na mesma época, depois dos seus três motores autorizados se terem, literalmente, esfumado nas primeiras corridas deste ano e estar a correr com motores reconstruídos. Entretanto, a Renault já fabricou mais motores mas, dado as restrições impostas, para os poderem usar as equipas terão que se sujeitar a uma penalização no que toca às qualificações para as corridas: a despromoção até seis lugares na grelha de partida.

Enquanto que nas equipas com motores franceses se tenta limitar os estragos, a Ferrari continua a melhorar e não será de espantar se os carros da equipa de Maranello levassem Vettel e Raikkonen à conquista do Mundial de Pilotos (e porque não de construtores?) muito em breve. Já este ano? Talvez não! Mas em 2016 tudo estará em aberto e tanto Vettel como Raikkonen têm capacidade dar mais algumas alegrias aos “tiffosi” que estão em jejum desde que Raikkonen venceu o Mundial de Pilotos em 2007. Para o temperamento italiano, sete anos é uma eternidade para poder comemorar mais um – ou dois – títulos da única equipa da Fórmula 1 que corre desde o primeiro Campeonato do Mundo em 1950.

Manuel dos Santos

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