Filosofia, uma dentada de cada vez (8)

Porque é que me devo preocupar com o “regresso às imagens”

Porque é que alguém se deve preocupar com o “conversio ad phantasmata” (regresso às imagens)? Boa pergunta!

Façamos uma rápida revisão. Vimos que o intelecto trabalha em três fases. A apreensão simples, o julgamento e o raciocínio. A primeira operação intelectual (a apreensão simples) consta de três pequenas etapas. O intelecto abstrai o essencial do “phantasma” ou imagem, o intelecto produz um conceito/ideia/noção, e então o intelecto volta ao objecto concreto através da sua imagem ou “phantasma”. Esta acção, de voltar a atenção novamente para a imagem, é conhecida, apropriadamente, como “regresso à imagem” “conversio ad phantasma” (“phantasmata” é a forma plural).

E porque é que temos que nos preocupar com isso? Porque é um passo essencial para a aprendizagem. Vimos que se uma pessoa não puder utilizar um conceito (o conceito é abstracto, não é algo concreto) num caso ou ocorrência específica desse conceito, na realidade não sabe o que está a dizer. Se ele não consegue fazer isso, isto é, se não conseguir formar ideias ou conceitos claros, não poderá fazer julgamentos correctos (a segunda operação do intelecto) e a partir daí não conseguirá raciocinar (a terceira operação do intelecto).

O “regresso à imagem” é importante para os estudantes de Biologia. Por exemplo: quando estão a estudar amostras de algas, necessitam de ver as amostras (espécimes) desses organismos, e quantas mais amostras virem, mais fácil será identificá-las correctamente (as algas) no futuro.

Pensem apenas nisto: há cerca de sete mil espécies de algas verdes. Para que um estudante possa identificar qual é a “Caulerpa racemosa” (nome de uma espécie de alga verde) que está ver, necessita de formar uma imagem mental da mesma. Pode-se dizer que esta realidade é um exemplo em qualquer campo de estudo.

No entanto, muito mais importante, é o facto de que cada educador, cada pai e mãe, deveria ter em mente o “regresso à imagem”, se quiser ser bem sucedido na sua tarefa. Não estou a falar apenas de educação académica. Falo do ensino de valores, que são muitas vezes negligenciados em muitos currículos escolares.

Veja-se o respeito. Os pais esperam ser respeitados pelos filhos e os professores esperam o respeito dos alunos. Se uma sociedade quiser crescer e prosperar em harmonia, o respeito (mútuo) é absolutamente essencial.

O respeito nasce não apenas dos sermões sobre o que isso (respeito) é. O respeito aparece, acima de tudo, quando uma pessoa o pratica na vida real e o usa repetidamente. Uma criança necessita de uma imagem concreta (um “phantasma”) como ponto de referência para o seu intelecto. Se uma pessoa nunca vir o respeito a ser observado, nunca irá aprender o que é respeito e será apenas uma palavra sem sentido. Além disso, se sentir o respeito aplicado a si próprio, essa pessoa apreciará ainda mais o seu valor. Quando uma criança é respeitada, ela aprende a respeitar os outros.

O respeito é algo que um educador (professor ou pai) não pode apenas exigir. O respeito aprende-se (e ensina-se). E isso só pode ser aprendido se o aprendiz já o tenha visto (ou observado/sentido) e com isso possa criar uma imagem concreta – a “phantasma” – desse facto. Tal só poderá ser ensinado se o educador demonstrar o que significa o respeito pelas outras pessoas.

Querem ensinar algo a alguém? Primeiro deixem-me mostrar-vos como se faz.

O beato Papa Paulo VI disse uma vez: «O homem moderno ouve mais atentamente uma testemunha do que aos professores; se der ouvidos aos professores é porque eles são testemunhas» (In “Abordagem”, “Address”, 2 de Outubro de 1974).

Agora já sabem porque é que se devem preocupar com o “regresso às imagens” (“conversio ad phantasmata”).

Pe. José Mario Mandía

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