E sobre as Causas Extrínsecas?
Da última vez falámos de duas causas intrínsecas. A causa material e a causa formal, e a aplicação destas duas noções na vida real. Existem mais aplicações na ética, mas falaremos disso mais tarde.
O que é uma causa eficiente? Uma causa, ou agente de causa, ou causa de mudança, é aquele princípio inicial ou origem de qualquer acto que faça uma coisa ser, ou de uma certa forma ser. Quando perguntamos: “Quem fez isto?” ou “Quem produziu isto?”, estamos a fazer perguntas sobre a causa eficiente.
E sobre a causa final? A causa final é a causa devido à qual alguma coisa foi feita. Ela responde à pergunta “Com que propósito ou intensão?”. Deixem-nos pôr as quatro causas juntas, baseadas nas perguntas a que elas respondem:
Causa material: de que é que isto é feito?
Causa formal: o que é isto?
Causa eficiente: quem ou o que fez isto?
Causa final: com que intensão?
Vejamos um exemplo: Quando Miguel Ângelo esculpiu a estátua de David a causa eficiente foi o próprio Miguel Ângelo. A causa material foi o mármore que ele usou e a causa formal é a estátua. Mas, esperem, parece ter sido esquecido uma causa mais: o facto de Miguel Ângelo não ter esculpido a estátua de mão nuas. Usou algumas ferramentas para fazer tal trabalho. Obviamente as ferramentas são uma espécie de causa, sem a qual a estátua não poderia ter sido feita. Assim, que tipo de causa são as ferramentas?
Reparem que a questão sobre a causa eficiente pergunta “quem” e “o quê”. Existem duas espécies de causa eficiente. A causa principal e a causa instrumental. No exemplo anterior Miguel Ângelo é a causa principal e as ferramentas que usou são as causas instrumentais.
Assim, podemos definir a causa principal como uma causa que actua pelo seu próprio poder. Por outro lado, uma causa instrumental é uma causa que produz um efeito, não em virtude de si mesma, mas por ser movida por um agente principal.
Vale a pena explorar mais a causa instrumental. No caso do martelo e do escopro de Miguel Ângelo, qual foi o efeito das suas acções? Desbastar peças de mármore. É chamado o “efeito próprio”. Mas durante esse processo o escopro e o martelo produziram uma estátua!
Diz-se que a estátua é o “efeito instrumental” do martelo e do escopro. As ferramentas provocam um efeito que elas, por elas, não podem produzir, um efeito que é “maior” que elas. E necessitam de uma causa principal para que as coisas aconteçam.
Vejamos um outro exemplo: A caneta é um instrumento para aplicar tinta sobre o papel. É esse o seu efeito correcto. Mas quando Eça de Queiroz pegou na caneta ele produziu uma obra escrita. A obra escrita é o efeito instrumental da caneta (não o seu efeito próprio).
Também nós somos instrumentos de Deus para darmos um sentido e propósito às vidas de muitos. Quais são os nossos efeitos próprios? Falar e escrever para comunicarmos com os outros, para lhes mostrarmos através das nossas vidas uma mensagem de esperança e salvação. O nosso efeito próprio é fazer com que eles vejam e ouçam essa mensagem. Mas o efeito instrumental é maior do que nós próprios: a conversão dos corações, a santificação das almas. É algo que apenas Deus, a causa principal de todas as causas, pode fazer.
Pe. José Mario Mandía