Filosofia, uma dentada de cada vez (24)

O que são Substâncias e Acidentes?

Hoje iremos aprender dois novos conceitos. Como sempre, vamos começar com algo que podemos observar na vida real. Na realidade, há duas coisas que se podem observar e que podemos usar como ponto de partida.

O primeiro facto que podemos observar é o seguinte: é-nos fácil distinguir entre uma coisa e as suas características, ou uma pessoa e as suas particularidades. Usem vós próprios como exemplo. Se alguém vos pedir para que se descrevam, talvez dirão onde e quando nasceram, onde cresceram, quem são os vossos pais, onde estudaram… E ainda podereis continuar a descrever-vos: a vossa idade, a vossa nacionalidade, o vosso aspecto físico, as vossas capacidades, as vossas aspirações para o futuro, etc. Todas estas coisas caracterizam-vos, mas elas não vos definem. O leitor não é a data de nascimento, não é relação que tem com as outras pessoas, não é idade, a nacionalidade, as capacidades que detém, etc. Em Filosofia, todas estas coisas que vos descrevem, mas que não vos definem, são chamadas “acidentes”. (A palavra inglesa “accident” [acidente] deriva da palavra latina “accidere”, que significa “cair sobre”, descer, acontecer ou ocorrer). E quanto ao leitor? O leitor é aquilo a que chamamos “substância”.

Também podemos obter os dois conceitos de substância e acidente da nossa observação de um certo tipo de mudança. Por exemplo, com o passar dos anos as pessoas envelhecessem. A idade de há dez anos não é a mesma idade de hoje. Mas vós continuais as ser as mesmas pessoas. Com a idade, outras coisas mudaram: a pele, o cabelo, o peso, a estatura, o temperamento, a personalidade, os conhecimentos, a experiência… Neste tipo de mudança algo se mantém igual (isto é, as pessoas). Os aspectos que mudam são chamados “acidentes” e a coisa que permanece na mesma é chamada “substância”. A “substância” e os “acidentes” são maneiras e formas de “ser”.

Agora deixem-nos tentar entender melhor o que são as substâncias e os acidentes. Usando os mesmos exemplos, podemos verificar que as características que usamos para descrever uma pessoa apenas existem porque essa pessoa existe; os acidentes só podem existir se houver substância. Assim, podemos dizer que a maneira de ser de um acidente é o de existir em algo-que-existe-por-si-próprio (uma substância). Resumindo: os acidentes existem sempre em alguma substância.

No exemplo acima, a substância são vocês. Vocês existem por vós próprios. O leitor tem muitas características, tem muitos acidentes. Tem uma certa cor, peso, estatura, temperamento, personalidade, conhecimentos, experiência, etc. Todas estas características ou atributos são acidentes. E estes acidentes pertencem a cada um de vós: eles existem em vós e não podem existir independentemente por eles próprios. Cor, peso, estatura, temperamento, personalidade, conhecimentos, experiência, não existem da mesma forma que as coisas (substâncias) existem. Quando falamos de cor, é sempre a cor de algo, tais como a cor da tinta ou a cor da pele.

A diferença entre substância e acidentes derivam, na realidade, do senso comum, mas muitas pessoas cometem o erro de se identificarem com os seus acidentes: elas identificam-se a si próprias com os seus desempenhos, o seu dinheiro, a sua fama, o seu poder, a sua influência, o seu aspecto ou conhecimentos.

Nos relacionamentos, por vezes, as pessoas pensam que se apaixonaram por alguém, quando na realidade se apaixonaram pela sua fortuna, pelo seu corpo. Assim quando ele/ela perde o dinheiro, ou ele/ela engorda, ele/ela perde a paixão.

Moral da história: conheçam o que é substancial e conheçam o que é acidental.

Pe. José Mario Mandía

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