E o que tem o “esse” a ver com Deus?
Da última vez falámos sobre os “ens” (seres), “essentia” (essência) e “esse” (o acto de ser). Deixem-nos explorar “esse” e as suas características.
1– Esse (o acto de ser) é um acto de perfeição em que se fundamenta todas as coisas reais: se alguma coisa é (existe), essa coisa é esse. Algo que é real apenas quando possui o acto de “ser”. É por isso que nós dizemos que esse é um acto universal.
2– Esse é um acto total (abrangendo tudo), no sentido de que está presente em todas as perfeições ou propriedades de uma coisa. A pessoa que está à nossa frente possui o acto de “ser”, mas para além disso ela possui perfeições ou propriedades (características), tais como peso, cor, personalidade, etc. Todas essas perfeições não existiriam sem a presença do esse. O acto de “ser” está presente em cada simples perfeição ou característica de qualquer coisa.
3– Esse é o mais básico de todos os actos, a base de todas as perfeições. Antes que qualquer coisa possa ter certas características é necessário que, antes de tudo, tenha de “ser” (existir). São Tomás disse nas suas obras “De potentia” (“Em potência”) “Esse é o mais perfeito de todos” (os actos). Ele chamava-lhe “o acto de todos os actos… é a perfeição de todas as perfeições”.
Este acto dos actos é possuído de diferentes formas, em diferentes graus, por diferentes “seres”. Também vimos, na última vez, que o acto de “ser” é limitado pela essência de cada “ser”. A essência “delimita” o esse a um certo modus essendi (maneira de ser).
Na realidade, se observarmos à nossa volta, as coisas aparecem num certo momento e deixam de estar noutro momento. Elas não existem sempre. E o que isto nos diz? Que elas não são os seus esse; os seus actos de ser não provêm de si próprios. Se proviessem deles próprios, eles existiriam sempre, sem princípio nem fim.
Assim sendo, antes do mais, porque é que as coisas existem? «– Por que há algo ali, em vez do nada?», perguntou uma vez um filósofo. De onde vêm esses esse? Se não são provenientes de si próprios, devem provir de algo que seja ele próprio um esse, ou um acto de “ser”, algo cuja essência é SER (a sua essência é esse). Este SER, cuja essência é “ser”, é aquele a quem chamamos DEUS.
Demos um pulo até à Teologia.
Relembremos o diálogo entre Deus e Moisés, quando Moisés perguntou a Deus qual era o Seu nome? Deus respondeu, “Ego Sum qui sum” (“Eu Sou aquele que sou” ou “Eu Sou quem sou” – Êxodo 3:14).
O nome de uma coisa revela o que a coisa é, e exprime o que é a sua essência. É por isso que São Tomás dizia que podia descobrir a essência de Deus no Seu nome. Deus revelou no Seu nome o que “Era”. E Deus disse que a sua essência é SER (existir), a Sua “essentia” é esse. Deus é “Ipsum Esse Subsistens” – “o Próprio Esse Subsistente”.
Nenhum de nós, criaturas, é assim. Em nenhum lugar em todo o Universo poderemos encontrar alguém cuja essência não é “ser este tipo de coisa” ou “é ser este tipo de coisa”, mas cuja essência é simplesmente SER. Todas as outras coisas – criaturas – apenas participam no esse.
Na “Summa Teologica”, São Tomás de Aquino perguntava: Se este nome, Ele Que É, (Hebraico: “YHWH”), seria o nome mais apropriado para Deus? A resposta é sim, e ele oferece-nos três razões porque sim. Na primeira razão São Tomás explica-nos que “a existência (esse) de Deus é a Sua própria essência, o que não se pode dizer de nenhum outro (ser)” e conclui: “Está claro que entre outros nomes este especialmente denomina (define) Deus”.
Pe. José Mario Mandía