MONSENHOR EDUARDO CHÀVEZ

Fenómeno Mariano perdura em Macau

MONSENHOR EDUARDO CHÀVEZ, ESTUDIOSO DAS APARIÇÕES DE NOSSA SENHORA DE GUADALUPE, EM ENTREVISTA A’O CLARIM

A breve passagem de Monsenhor Eduardo Chàvez por Macau tocou a comunidade religiosa e os fiéis, a quem o sacerdote dirigiu uma palestra no passado Domingo, tendo os participantes ficado com desejo de o voltar a receber no território, se possível por um período mais alargado. Com o Monsenhor “veio” Nossa Senhora de Guadalupe – o tema da palestra – e todos se sentiram emocionados com os ensinamentos do Monsenhor Chàvez acerca do “fenómeno Guadalupano” e da razão desta devoção mariana estar presente no coração dos católicos. O padre mexicano recebeu O CLARIMna capela de São Nuno, localizada no interior da igreja da Sé Catedral, para uma conversa sobre este fenómeno religioso, com um sorriso e a emoção que o acompanha sempre, fruto do seu amor e relação com a Mãe Santíssima.

O CLARIMAntes de ser nomeado pelo cardeal D. Norberto Rivera Carrera (arcebispo do México) como postulador para a causa da canonização de São Juan Diego, já estudava as aparições de Nossa Senhora de Guadalupe, ou deu-se aqui o grande impulso?

MONSENHOR EDUARDO CHÀVEZ– O senhor cardeal deu-me a honra de ser postulador. Conheço São Juan Diego e Nossa Senhora de Guadalupe devido aos meus estudos feitos muitos anos antes. É algo fascinante, não se consegue parar; sentimos que precisamos saber mais e mais. Ser postulador de São Juan Diego e ter trabalhado com São João Paulo II é realmente uma grande honra e uma grande responsabilidade. Investiguei um grande milagre envolvendo médicos, realizado por intercessão de Juan Diego, o que levou à sua canonização, a alcançar os altares. Muitas coisas ficaram esclarecidas graças à Santa Sé, pois esta sempre pede documentos, papéis, todos as informações… Para mim é muito importante ser postulador e continuar a aprofundar este evento incrível, revelando-o a todos pelo mundo.

CLO que sentiu quando recebeu o convite do cardeal D. Norberto Rivera e ao presenciar a canonização de Juan Diego pelo Papa João Paulo II, ocorrida na Basílica de Nossa Senhora de Guadalupe, na cidade do México, a 31 de Julho de 2002?

M.E.C.– [Sorrisos e emoção] Inicialmente foi: isto é magnífico! Mas entendo agora que não é resultado do meu trabalho, mas de Nossa Senhora de Guadalupe. Nós somos apenas instrumentos. Isto é fruto do trabalho dela e a fonte de tudo isto é Jesus Cristo. Porque – sempre – Jesus Cristo é a fonte, é o centro. O foco é Nossa Senhora de Guadalupe, ela guia-nos a Jesus Cristo. Este é um ponto. O segundo ponto, em relação a São João Paulo II, à canonização em si. Estive num encontro em Roma para se organizar a cerimónia, em reunião com muitos monsenhores, médicos e muitas outras pessoas. Quando o Santo Padre entrou de cadeira de rodas – ele estava muito doente –, compreendi perfeitamente o que estava em causa. Um médico levanta-se e diz: «Santo Padre, não vá ao México». Foi terrível ouvir isto. E não foi apenas um médico, pois outro médico repetiu a mesma frase: «Não vá ao México». E os monsenhores: «Não vá ao México». O Santo Padre disse então: «Vocês já terminaram? Eu irei ao México. Eu preciso de ir ao México porque naquela imagem tudo começa. Eu preciso de ir ao México porque preciso beijar a imagem de Nossa Senhora de Guadalupe». Lembro-me bem daquele momento. Vi e ouvi a forma como o Santo Padre exclamou: «Este homem[Juan Diego]é um santo, é uma ponte entre Deus, o Céu e a Terra, é um modelo de santidade para todos no mundo. Em outras palavras, este homem deu-nos a verdade de Deus através de Nossa Senhora de Guadalupe. O evento de Nossa Senhora de Guadalupe é verdadeiro». Para mim, foi incrível aquele momento e continua a ser. Parte desse momento também é isto: estar aqui em Macau.

CLMuito se tem falado do índio Juan Diego e até da sua posição social. Quem foi este índio mensageiro de Nossa Senhora que se tornou santo e por que demorou tantos anos para ser canonizado?

M.E.C.– Boa pergunta! Por que só agora foi Juan Diego canonizado, depois de decorrido tanto tempo após os eventos? No México, Juan Diego, depois que morreu, permaneceu no céu, sempre! No entanto, foi necessária a canonização de Juan Diego para que o Santo Padre confirmasse esta situação e também confirmasse o evento de Guadalupe. Considero que para Deus foi no momento certo.

CLO texto “Nican Mopohua”, que narra as aparições de Nossa Senhora de Guadalupe, escrito pelo índio António Valeriano, resulta de um diálogo com o vidente Juan Diego?

M.E.C.– Essa é também uma boa questão, pois há erros que permanecem. Todos conhecemos o evento, graças a Juan Diego. Num primeiro momento, deu-se pela tradição oral. Juan Diego falava sobre a aparição. A seguir há a imagem. Para os indígenas, é uma carta de amor, mas também o é para os europeus. Porquê? Porque é Nossa Senhora, ela é a Imaculada Conceição. Ela “é” o Livro do Apocalipse – a Mulher vestida de Sol com a Lua… O terceiro ponto é muito significativo: o tempo – terramotos, eclipses, o cometa… Em 1545-1546, António Valeriano colocou num manuscrito tudo o que Juan Diego havia descrito. Este manuscrito é algo incrível!

CLFalam que Nossa Senhora se teria intitulado como “Nossa Senhora de Tequatlasupe” – significa, em Náhuatl, “a que pisa a cabeça da serpente”. Os espanhóis teriam entendido “Guadalupe”, dado a existente devoção espanhola a Virgem de Guadalupe, em Cáceres (Espanha). Qual o verdadeiro nome com que Nossa Senhora se intitulou na aparição do México e qual o seu significado?

M.E.C.– Esse é outro erro terrível. Enquanto postulador, a Santa Sé pedia-me sempre documentos. Onde? Quem mencionou isto e aquilo? Porque sempre entendemos como “Guadalupe”. Algumas pessoas disseram: “bem, em Espanha, na Extremadura, há um mosteiro com esse nome, Guadalupe”. Alguns conquistadores, à época, naquele lugar – supostamente – colocaram este nome. Precisamos de ir aos arquivos. Precisamos de ir ao encontro dos livros, às bibliotecas; precisamos saber mais sobre os factos. E eu encontrei a verdade. Porquê? Porque todos os documentos, tal como o “Nican Mopohua”, mencionam Guadalupe. Ela pronunciou, não para Juan Diego, mas para o seu tio [Juan Bernardino] o nome: “Santa Maria de Guadalupe”.

CLO ícone milagroso de Nossa Senhora de Guadalupe, na tilma de Juan Diego, contém um “códex”, à semelhança dos “códices Náhuatl”, remetendo para a iconografia indígena Asteca. O que levou os índios a abandonarem a sua “mitologia diabólica” e holocausto humano, e a converterem-se ao Cristianismo em massa? O que nos transmite o ícone?

M.E.C.– É um ponto muito profundo; há muitos ângulos de interpretação. Um deles é que naquela época, após a conquista, os indígenas estavam mais deprimidos, porque pensaram que todos os seus deuses haviam morrido. Foi uma depressão terrível entre os indígenas, sendo que uma praga matou metade deles, e não o povo espanhol. Os espanhóis escravizaram muitos indígenas. A população quase que preferia morrer. Há um manuscrito onde afirmam: “Vamos morrer. Porque os nossos deuses morreram, precisamos de morrer também”. Os primeiros missionários espanhóis – pessoas maravilhosas – tentaram baptizar, salvar os indígenas, mas para eles era uma missão gigantesca devido a haver poucos missionários em 1531. Certamente, alguns indígenas converteram-se, à semelhança de Juan Diego e dos seus familiares, mas a maioria não. Em 1530 ocorreram três terramotos. Para os indígenas, quatro terramotos e o mundo terminaria. Depois, em 1531, o cometa Halley atravessou o Universo. E pior, em 1531, o eclipse, a Lua come o Sol… Se Deus não tivesse intervido exactamente neste momento, perderíamos esta nação.

CLAo longo dos anos, várias equipas científicas têm vindo a analisar a tilma e a “pintura” milagrosa. Têm-se destacado os estudos de Philip Callahan (NASA) e de Jody B. Smith (Pensacolla College), assim como de Aste Tonsmann, que descobriu as figuras na íris de Nossa Senhora. Podia-nos falar um pouco das descobertas científicas que deslumbram até os incrédulos e que continuam sem resposta?

M.E.C.– O livro de Callahan – a primeira metade do livro – é terrível, não é verdade! Ele é da NASA. Como podem ler, na primeira parte do livro encontram-se muitas mentiras, muita confusão. A segunda parte do livro está correcta, concordo com ele. Aste Tonsmannis vem depois. Em 1929, pela primeira vez, Carlos Salinas – e uma outra pessoa – viram uma imagem nos olhos de Nossa Senhora de Guadalupe. Em 1951, Javier Torroella foi o primeiro oftalmologista a analisar os olhos com instrumentos. São precisamente olhos humanos. Não estão vivos neste momento, mas estão retratados como uma fotografia. Há um reflexo humano nos dois olhos – isto é muito importante. Mais tarde, Aste Tonsmannis, por meio de computador, examinou os dois olhos e viu treze pessoas – uma família, o bispo, alguém que traduzia para o bispo, Juan Diego, a tilma, um servo, um indígena… Os olhos captaram aquele momento. Mas há muito mais…

CLGuadalupe é certamente uma mensagem intemporal e para o mundo. Pode transmitir-nos o seu sentimento perante o fenómeno das aparições de Nossa Senhora, a partir de Guadalupe, em 1513, até aos nossos dias? Temos tido outras aparições como Lourdes, Fátima e uma em aberto: Medjugorje…

M.E.C.– A revelação já a temos: Jesus Cristo, a revelação única. Mas os caminhos para chegar a ela são muitos, assim como para inculturá-la no nosso coração. Por exemplo, eu preciso de aprender mais inglês para transmitir esta maravilhosa revelação de Deus através de Nossa Senhora de Guadalupe. Deus quis ter uma Mãe para nos ajudar no Plano da Salvação. Em Nossa Senhora de Guadalupe temos as seguintes palavras: “Não tenham medo, eu estou aqui, sou a vossa Mãe”. E também nos disse: “Tenho a honra e a alegria de ser vossa Mãe. Eu vos protejo”. Precisamos destas palavras para os nossos dias. Para muitas pessoas, como eu, precisamos de as ouvir. Porque estas palavras permanecem no nosso coração e mudam a nossa vida. Nossa Senhora de Guadalupe não é apenas Maria, é Jesus Cristo no seu ventre. E isso muda tudo; porque é um encontro com Deus, através de Nossa Senhora de Guadalupe.

CLSendo um sacerdote mariano, como nasceu a sua devoção por Nossa Senhora e que última mensagem desejaria deixar-nos?

M.E.C.– Quanto à primeira pergunta a resposta é: não sei quando. Penso que sempre, porque sempre na minha mente, no meu coração, Nossa Senhora estava lá. A cada momento, a cada ano, aprofundo estes conhecimentos sobre Nossa Senhora de Guadalupe e pergunto-lhe porquê? Porque eu? Porque me ama tanto? Eu não sei. É impossível expressá-lo, e não se trata do meu Inglês. É algo incrível. Ela encaminhou-me para o Seminário. Ela nos guia; ela é misericordiosa. A mensagem é ela própria – “não tenham medo, eu sou a vossa Mãe. Tenho a honra e a alegria de ser vossa Mãe. Não tenham medo, eu vos protejo. Não tenham medo, eu sou a fonte da vossa alegria. Não tenham medo, vocês estão envoltos nos meus braços, cobertos pelo meu manto”. Envoltos nos seus braços e cobertos pelo seu manto, através dela somos levados a Nosso Senhor Jesus Cristo.

N.d.R.:Esta entrevista será brevemente publicada em vídeo e na íntegra, em língua inglesa, nas plataformas Facebook e YouTube, com a chancela dos Centro Diocesano dos Meios de Comunicação Social.

Miguel Augusto

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *