Fazendo o balanço

Do outro lado da passagem

“Está morto, Jim”. É esta a mensagem que recebo quando o meu motor de pesquisa quebra. E será isso, ou algo parecido que dirão quando exalarmos o nosso último suspiro? E então, o que acontece a seguir? Eu disse da última vez que quando alguém tem Fé, a Fé prepara-o para o que poderá esperar nessa ocasião.

E o que é que a Fé nos diz? No capítulo 16 do Evangelho de S. Lucas (19-23) lê-se esta parábola: «Havia um homem rico, que se vestia de púrpura e de roupas finas e que se banqueteava principescamente todos os dias. Junto ao seu portão jazia um pobre chamado Lázaro, cheio de feridas, e que gostaria de poder comer as sobras que caíam da mesa do ricaço; os cães lambiam-lhe as suas feridas. O pobre homem morreu e foi levado pelos Anjos para o seio de Abraão. O homem rico, também morreu e foi enterrado; e, no inferno, no meio dos seus tormentos, ergueu os seus olhos e viu ao longe, Abraão, e Lázaro com ele» (Luc. 16).

Imediatamente após a sua morte, cada homem fica a saber para onde vai. Isto significa que depois do nosso último suspiro somos enviados para os nossos respectivos destinos. Nesse momento, torna-se muito claro que os nossos destinos são fruto das nossas escolhas nesta vida (ver a peça anterior “Liberdade”). Oh, desculpem, talvez não devamos dizer que os nossos destinos estejam “atribuídos”. Melhor será dizer que os nossos destinos estão confirmados – nós fizemos a reserva do lugar, anteriormente. Deus aceita a decisão que tomámos nesta vida, selada eternamente na morte. Quando estivermos na presença de Deus, depois da nossa morte, ele nos dirá: «Faça-se conforme a tua vontade».

«O Homem morre apenas uma vez, depois do qual é julgado» (Heb. 9:27). O Catecismo da Igreja Católica (nº1022) confirma-nos: «Cada Homem recebe a recompensa da sua alma imortal no exacto momento da sua morte, num julgamento privado em que apresenta a sua vida a Cristo: ou entra no paraíso bem aventurado – através de uma purificação ou imediatamente – ou é condenado a um sofrimento imediato e eterno».

Jesus também nos fala de um outro julgamento que terá lugar no fim do Mundo, o Julgamento Final. Vejamos, por exemplo, em Mateus (25:31,32, 46). O julgamento que descrevi antes é chamado O Julgamento Privado. No seu livro “Jesus como um Amigo”, o padre Salvador Canals explica-nos que no Julgamento Privado o livro que escrevemos durante toda a nossa vida é-nos lido em voz alta. No Julgamento Final, o “livro” é publicado! Hauchhh, terrível!

Pronto, acabemos com as histórias de horror. E então, o que se segue? O que é que eu e vocês poderemos fazer? Obviamente, se quisermos que Jesus, no fim, nos diga: «Faça-se conforme a tua vontade», é que essa “vontade” seja a melhor possível e que nos garanta a nossa felicidade e satisfação eterna. E essa é uma decisão que renovamos de cada vez que decidimos lutar contra as nossas fraquezas.

Existe uma coisa específica que podemos fazer para evitar desagradáveis surpresas finais, que é fazermos um exame das nossas acções de cada dia. De qualquer maneira somos nós que estamos a escrever o livro, então, porque não revermos diariamente o que foi escrito para verificarmos que é isso que gostaríamos de ouvir ser lido para nós e eventualmente vir a ser publicado? Enquanto por aqui andarmos podemos sempre corrigir o nosso trabalho e alterar o que estiver errado.

Leva apenas uns minutos a colocarmo-nos junto a Deus, e pedirmos ao Espírito Santo que nos inunde com a Sua penetrante luz da Graça, em todos os espaços escondidos da nossa alma. Não leva muito tempo para efectuarmos um exame de consciência. «Procura em mim, Oh Deus, e Conhece o meu coração! Põe-me à prova e Conhecerás os meus pensamentos! E assim Verás se existe algo de mal em mim, e poderás guiar-me no caminho da eternidade!» (Sl 139:23-24).

Mas… surpresa! Não iremos encontrar apenas coisas más no nosso coração. Iremos descobrir tantas graças, tantas bençãos pelas quais devemos estar agradecidos. “Obrigado, Senhor!”.

E então a Luz Divina mostrar-nos-á a nossa resposta fria, exporá os muitos lugares escusos pelos quais pedimos perdão. “Perdoai-nos Senhor”.

Mas como queremos recomeçar tudo de novo, pedir-Lhe-emos o Seu auxílio, “Ajudai-me mais, Senhor!”. Era assim que o beato D. Álvaro del Portillo, sucessor de S. Josemaria rezava: “Obrigado. Lamento, perdoai-me. Ajudai-me mais, Senhor!”

O exame de consciência também nos lembra uma outra coisa importante. A única pessoa que pode Julgar, é Deus. Nós, suas criaturas, não estamos em posição de julgar ninguém. S. Paulo dizia: «É o Senhor que me julga. Assim não julguem antecipadamente, antes da chegada do Senhor, que trará luz às coisas que agora estão escondidas na escuridão e mostrará os desígnios do coração. E então cada Homem receberá o seu justo prémio, entregue por Deus» (I Cor. 4:4-5).

Deste facto sobressaem duas consequências. Primeira, não devemos ter medo do julgamento dos homens, porque no fim todos seremos julgados. Segunda, não deveremos fazer julgamentos, porque não temos esse direito nem essa responsabilidade. «Porque no julgamento de Cristo todos seremos vistos pelo que somos, e assim cada um de nós receberá no seu corpo, o que merece, de acordo com o que fez, bom ou mau» (I Cor. 5:10).

Porque é que há a necessidade de um Julgamento Final? Porque Deus é infinitamente justo. Ele quer que todo o Bem ou Mal que foi feito seja publicamente reconhecido e recompensado… ou punido! Mas ainda há algo que provavelmente é mais importante neste facto. A Justiça não se destina apenas à criatura, mas também ao Criador. Deixem-me explicar.

Muitas vezes na nossa vida não aproveitamos as coisas boas que Deus fez por nós. De facto, muitas vezes, porque não abrangemos a totalidade dos factos, pensamos que Deus nos está a castigar. Mas Deus dificilmente castiga alguém nesta vida. Há tempo para isso, na vida eterna. Mas, aqui, Ele está continuamente a enviar-nos oportunidades para que aos poucos reservemos o nosso “cantinho” no Seu paraíso, mas a maior parte das vezes perdemos essas oportunidades. Por desconhecimento, podemos mesmo culpar Deus por nos dar esses testes. No Julgamento Final Deus mostrar-nos-á o que aconteceu, realmente.

Por outro lado, há pessoas que parecem ter sempre sorte, que parecem ser sempre abençoadas, mesmo que sejam pessoas “más”. Porque é que isso acontece? Damos aqui uma explicação possível para esse facto.

Deus é infinitamente justo, pelo que, quando alguém faz um acto bom, Deus recompensa-o. Mas como, provavelmente, essa pessoa se encontre em estado de pecado, Deus não a poderá recompensar depois da sua morte. Assim, Ele recompensa essas pessoas agora. E então… ainda continuam a reclamar?

Pe. José Mario Mandía

jmomandia@gmail.com

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