Olhando em Redor

Língua universal

Já me tinha interrogado várias vezes como poderiam os jesuítas, e outros portugueses que andaram pelo Oriente, comunicar com os nativos dessas terras por onde passaram, sempre que não dominavam na totalidade as línguas locais ou não se faziam acompanhar pelos chamados “línguas” (tradutores).

Quem conhece a vida do padre António de Andrade sabe bem da sua dificuldade em estabelecer a missão jesuíta em Tsaparang, na capital do então Reino de Guge, actual Tibete.

Pelos documentos coevos que chegaram até aos nossos dias percebe-se que a principal contrariedade em conseguir um grande número de conversões nesta parte do planeta prendeu-se precisamente com o desconhecimento que os missionários tinham da língua tibetana.

Contudo, tal não impediu que o padre António de Andrade (supõe-se que falava o Persa), e todos os missionários que lhe seguiram os passos, chegasse a lugar tão inóspito e conseguisse pontes de entendimento com Thi Thasi Dgapa, régulo de Guge. Nas minhas deambulações pela Ásia já experimentei idênticas dificuldades, mas foi numa recente ida a Pequim que decidi pôr em prática um exercício deveras curioso.

Ao lembrar-me que Fernão Mendes Pinto também havia passado pela China e que na “Peregrinação” fez inclusivamente relato de conversas em Chinês, e ao supor que ele não era profilático nesta língua, quis saber que reacção poderia eu agora encontrar numa situação do género.

Ao comunicar com cidadãos chineses numa língua estrangeira, até porque não sabia falar o Putonghua, em vez de escolher o Inglês, porque também eles não dominavam a língua de Shakespeare, optei pelo Português do nosso Fernão Mendes Pinto.

E não é que chegámos sempre a bom entendimento porque a entoação das palavras, mais os gestos, foram primordiais na comunicação com os meus interlocutores. O Português é mesmo uma língua universal. Se dúvidas haviam, esclarecido fiquei.

 

Diferenças

Na mesma viagem a Pequim deparei-me com duas realidades também interessantes que em nada abonam a favor de Macau. A primeira tem haver com a forma como os taxistas primam pela boa educação e pelo asseio dos táxis, coisa cada vez mais escassa na RAEM.

Quanto à segunda realidade, embora fosse um turista estrangeiro sem nada falar com eles em Putonghua, nunca fui enganado, seja no caminho para o destino pretendido, seja por causa da cobrança excessiva de tarifas, e nem sequer fui alvo de qualquer tentativa de “phishing”.

Em Macau, pelo contrário, impera o caciquismo e o despotismo de vários taxistas, que fazendo-se valer de total impunidade cometem atropelos ao bom nome da RAEM, não sendo assim de acreditar que amem verdadeiramente a Pátria.

Em vários casos temo mesmo que sejam bandos organizados, porque se algum deles comete alguma irregularidade, mas necessita prontamente de ter as “costas quentes”, aparecem num instante muitos outros taxistas a acudi-lo. À luz da lei penal em vigor tal comportamento consubstancia a prática de um determinado tipo de crime…

 

Perigo público

As bebidas alcoólicas com um sabor suspeito comercializadas nos estabelecimentos de diversão nocturna em Macau são um problema endémico que ameaça a vida das pessoas.

Quem frequenta determinados espaços, seja integrados ou fora dos hotéis, para ouvir um pouco de música e apreciar uma ou outra marca de whisky pode ter a desagradável surpresa de sentir que está a beber algo bastante forte para o tipo de bebida que escolheu devido ao travo exagerado do álcool. O pior são as dores de cabeça que atormentam daí a poucas horas, ou até mesmo no dia seguinte.

A má-disposição aliada à ressaca é inevitável. Por estranho que pareça, quando se vai para fora do território e se bebe as mesmas marcas de whisky em idênticas proporções o sabor é completamente diferente para melhor, e a ressaca nunca aparece.

As bebidas alcoólicas, falsificadas ou adulteradas, representam um perigo para a saúde pública. O problema não é de agora, mas convém ser denunciado porque também põe em causa o bom nome de Macau.

 

Fernando Neves

No passado Domingo fui confrontado com a triste notícia do falecimento de Fernando Neves, com quem partilhei momentos felizes no último ano e meio da sua vida, invariavelmente à hora do almoço.

O Fernando Neves era uma pessoa bem-disposta, de espírito jovial, que denotava bom conhecimento dos hábitos e costumes do passado, fosse de Macau, fosse de Portugal. Pouco falámos sobre Timor, mas as nossas conversas também não iam nesse sentido.

O Fernando Neves era espontâneo no pensamento e nas acções. Era um homem com fortes convicções e amigo do seu amigo. Pude testemunhá-lo “in loco”, através da relação que mantinha, por exemplo, com Hélder Fernando. Os almoços no local do costume não vão ser os mesmos, é certo. Mas também sei que vai ser recordado como um daqueles portugueses que realmente amou Macau, não sendo chinês.

PEDRO DANIEL OLIVEIRA

pedrodanielhk@hotmail.com

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