NO RESCALDO DAS ELEIÇÕES LEGISLATIVAS EM PORTUGAL

FAMÍLIA, ESCOLA, TRABALHO E MUITOS DESAFIOS

Assentar arraiais na aldeia

A vida bucólica que agora levamos nos dias de folga servem de contraponto ao reboliço da semana de trabalho, a qual é repleta de afazeres, desde as horas mais madrugadoras do dia até à noite cerrada. Quem diria que em apenas quinze minutos de carro se pode estar numa zona em que o silêncio nocturno chega a ser perturbador e a escuridão da noite nos faz pensar que estamos num quarto sem qualquer acesso ao exterior e sem luz artificial. Apenas falta, nesta época do ano, o céu limpo e estrelado a que nos habituámos durante os anos que vivemos nas ondas das Caraíbas e que tanta nostalgia nos deixa.

Se estamos cansados dos tais afazeres do dia-a-dia, o final da jornada, quando finalmente apagamos a luz, já depois da meia-noite, na escuridão cerrada, dá-nos o merecido descanso que nos restabelece as forças físicas e anímicas necessárias para enfrentar os desafios do dia seguinte.

As manhãs começam às seis horas, ainda bem de noite, pois aqui o dia rompe já depois das oito horas durante o Inverno, para que consigamos ter a Maria na escola a tempo da campainha de entrada para a primeira aula. A NaE aproveita a boleia e vai para a cidade connosco, apesar de apenas ter de entrar ao serviço por volta das onze horas; depois regressa a casa de comboio ou de autocarro, para lá das onze horas da noite – já a Maria está a dormir, para acordar bem vivaça para o dia seguinte.

Quem nos pergunta onde vivemos fica surpreendido com a resposta. É que optámos por viver na “província”, o que para nós foi uma escolha sensata. Sempre que chegamos a casa sentimos paz de espírito e temos o descanso que tanto almejamos. A escolha não teve tanto a ver com o facto de ser mais barato ou mais fácil. A verdade é que desde o início tínhamos como objectivo morar perto da natureza, num local com pouca gente à volta.

Desde que deixámos Macau, em 2014, apercebemos que nunca mais quereríamos viver em meio urbano. Aliás, por vontade nossa, nem estávamos a viver num apartamento. Mas neste aspecto tivemos de ser condescendentes, porque no Luxemburgo é extremamente caro arrendar uma moradia. Ainda assim, vivemos num apartamento com terraço, jardim e garagem. Esperamos agora pelo bom tempo para que possamos aproveitar os espaços exteriores porque nesta época do ano, com as temperaturas médias a rondar os zero graus, não é muito apetecível estar na rua.

Desde Outubro de 2021 que vivíamos a tempo inteiro num quarto de hotel. Ao início éramos apenas dois, mas depois do incidente que remeteu a minha mãe para uma cama de hospital, passámos a ser dois… mais uma criança e um cachorro!

O primeiro mês até pode ter tido a sua graça, principalmente para a mais nova, dado para ela ser diferente e fora do normal poder dizer que vive num hotel. Acontece que estar confinado a um quarto é algo que só quem tem de cumprir quarentena entende a maçada. E alguns residentes em Macau já sabem o que isso significa. Ora, encontrar um local a que pudéssemos chamar “nosso” era pois uma prioridade que finalmente foi preenchida.

Quase três meses depois de nos fixarmos neste país – período que é considerado normal por todos os que ouviram os nossos lamentos – já começávamos a ter algumas dúvidas quanto à decisão de vir para o Luxemburgo. Mas como sempre acontece connosco, tudo se vai desenrolando e compondo conforme as necessidades. Apesar de continuamente andarmos preocupados com todos os afazeres e com os pequenos procedimentos que ainda têm de ser cumpridos, a realidade é que tudo vai sendo resolvido da melhor forma, o que nos faz pensar que daremos por bem empregue todo este esforço. Desde 2014 que este tem sido o nosso modo de vida e, sinceramente, em nada o mudaríamos.

No meu caso pessoal, os próximos dias vão ser preenchidos, dado que vou começar a procurar emprego. Nesta “altura do campeonato” sou o único da família que ainda não está ocupado a tempo inteiro. Embora a Maria, com todos os aspectos burocráticos inerentes à fixação de residência num novo país, me mantenha bastante activo, ainda não tive a oportunidade de procurar um emprego a tempo inteiro que me dê paz de espírito e ajude a complementar o orçamento familiar ao final do mês.

Há várias opções na minha área profissional, mas também noutros sectores de actividade que podem vir a ser um desafio interessante. Como nunca me importei de experimentar outras áreas de trabalho, estou receptivo a qualquer desafio que apareça nos próximos dias. Quem me conhece sabe que comecei a trabalhar como jornalista, depois fui funcionário público, capitão/pau para toda a obra de um veleiro, empregado de bomba de gasolina, gerente de restaurante, e agora vamos ver o que se segue…

Dentro em breve chegam as férias de Carnaval. Nos nossos planos está uma ida rápida a Portugal, aproveitando assim a pausa da escola da Maria. Em terras lusas vamos à consulta de rotina da NaE, para além de visitar a família e trazer para o Luxemburgo mais alguns pertences pessoais que nos podem ser úteis na nova casa. Depois de regressarmos apenas poderemos voltar a sair após as férias de Verão, dado que a NaE está impedida de ter férias na época alta.

Antes de terminar esta crónica, gostaria de acrescentar que contra todas as expectativas a maioria dos portugueses anónimos que tenho encontrado têm sido excepcionalmente acolhedores. E fazendo jus à expressão do mundo ser pequeno, até tenho encontrado pessoas com ligações a Macau e com amigos em comum. A seu tempo, com a permissão das mesmas, irei relatar-vos estes encontros, muitos deles apimentados por histórias que merecem ser contadas.

João Santos Gomes

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