Esquerda/Direita, que conceitos?
“O uso moderno do termo ‘esquerda’ deriva da assembleia francesa dos Estados Gerais de 1789, quando a nobreza se sentou à direita do rei e o ‘Terceiro Estado’ à esquerda. Podia ter sido ao contrário. Aliás, foi mesmo ao contrário para todos, menos para o rei. No entanto, os termos ‘esquerda’ e ‘direita’ continuam connosco e são hoje aplicados a facções e opiniões dentro de todas as formações políticas. O quadro daí resultante, de opiniões políticas espalhadas numa única dimensão, só pode ser entendível a nível local e apenas em condições de governação adversa e contestada. Além disso, mesmo quando capta os contornos do processo político, o quadro não faz justiça às teorias que influenciam esse processo e que formam o clima de opinião política”.
“Posicionar-se à esquerda já estava claramente definido na altura em que a distinção entre esquerda e direita foi inventada. Os apoiantes da esquerda acreditam, com os jacobinos da Revolução Francesa, que a riqueza do mundo se encontra injustamente distribuída e que a culpa não reside na natureza humana, mas na usurpação perpetrada por uma classe dominante. Eles definem-se em oposição ao poder dominante, como paladinos de uma nova ordem que rectificará o sofrimento antigo dos oprimidos”.
“A libertação defendida hoje, pelos movimentos de esquerda, não significa simplesmente liberdade de opressão política ou o direito de cuidar tranquilamente dos nossos assuntos. Significa emancipação das ‘estruturas’: das instituições, hábitos e convenções que moldaram a ordem ‘burguesa’ e estabeleceram um sistema partilhado de normas e valores no cerne da sociedade ocidental. Mesmo as pessoas de esquerda que renegam o libertinismo dos anos 60, vêem a liberdade como uma forma de desprendimento de constrangimentos sociais. Muita da sua literatura é dedicada a desconstruir instituições, como a família, a escola, a lei e o Estado-nação, dos quais a herança da civilização ocidental foi passada até nós”.
“A libertação da vítima é uma causa agitada, pois novas vítimas aparecem sempre no horizonte enquanto as últimas escapam para o vazio. A libertação das mulheres face à opressão masculina, dos animais face ao abuso humano, dos homossexuais e transexuais face à ‘homofobia’, até mesmo dos muçulmanos face à ‘islamofobia’ – tudo isto foi absorvido pelas agendas de esquerda, para consagração em leis e comités supervisionados por um funcionalismo severo. Gradualmente, as velhas normas de organização social foram marginalizadas, ou mesmo penalizadas como violação de ‘direitos humanos’”.
Não me vou alongar em comentários ou opiniões sobre as frases transcritas (1), pois são uma mera curiosidade histórica e o leitor delas retirará as suas ilações.
(1) Roger Scruton, filósofo inglês, analisa exaustivamente neste livro os pensadores da nova esquerda desde 1989. Reflecte sobre as suas influências, desconstrói alguns mitos de forma brilhante e critica sem ridicularizar.
Susana Mexia
Professora