Família e Fé

Uma demonstração de amor

Não é nada fácil encontrar alguém que saiba escutar. Muitos ouvem, mas são poucos os que escutam. Já o diferencia o dicionário da nossa língua: “ouvir” é ter o sentido da audição; “escutar” é ouvir prestando atenção.

Prestar atenção não é um pormenor de pouca importância. Sobretudo, quando experimentamos a necessidade vital de que alguém nos compreenda.

Nesse caso, agradecemos que a pessoa com quem falamos não somente nos ouça, mas também nos escute. Que procure sintonizar com o que lhe dizemos. Só assim, sentimos paz na alma e alívio no coração.

Sábias palavras!

É verdade: actualmente, são poucos os que escutam os outros com interesse. E é certo e sabido que, se as pessoas não se escutam umas às outras, a sociedade deixa de existir.

E se a sociedade é a lá de casa, deixa de haver família. No lugar dos familiares que convivem no mesmo lar, surge um conjunto de indivíduos que, por pura coincidência, vivem na mesma casa.

“Está alguém metido numa alhada? Que se desenvencilhe! O que é que eu tenho a ver com isso?”.

É uma descrição, talvez um pouco exagerada, daquilo que conhecemos como isolamento. E o isolamento, por muito atraente que possa parecer, acaba por originar apatia. E a apatia, mais cedo ou mais tarde, leva ao desespero, por muito dissimulado que ele seja.

É relativamente fácil constatar que, na vida de um casal, quando há problemas no relacionamento mútuo, esses problemas começaram quando se deixou de escutar o outro.

Escutar, às vezes, pode ser sinónimo de sofrer, como diz A. Polaino. E o sofrimento leva à infelicidade – quando não se aceita como uma demonstração de amor.

Sem sentido cristão, o sofrimento no convívio com os familiares pesa muito, fecha o horizonte de felicidade e torna-se uma tragédia. Se não for curado a tempo, pode gerar cinismo com o passar dos anos.

Escutar é uma demonstração de amor. Uma demonstração de autêntico interesse pela pessoa amada. Deixar de escutar é, simplificando, começar a deixar de amar.

Porque ainda que possa parecer exagerado, quando marido e mulher não se escutam, estão a começar a perder o respeito mútuo. E sem respeito não há amor.

Escutar é saber colocarmo-nos nas circunstâncias dos outros. Assim, veremos os acontecimentos com serenidade e compreensão. E, mais facilmente, desculparemos, quando isso for necessário.

Mas sobretudo, como dizia São Josemaría, encheremos este nosso mundo de caridade, que é aquilo de que ele tem mais necessidade.

Pe. Rodrigo Lynce de Faria 

Doutor em Teologia

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