Família e Fé

Um anel especial

Abriu a porta da joalharia. Era jovem, simpático e bastante decidido. Sem olhar para as vitrinas, afirmou categoricamente que queria comprar um anel especial.

O joalheiro mostrou-lhe um que lhe parecia apropriado. O rapaz contemplou-o com calma e, com um sorriso, manifestou o seu agrado. Perguntou pelo preço. Preparava-se para abrir a carteira quando o ourives lhe perguntou: vai-se casar em breve?

Houve um momento de silêncio, como se a pergunta o apanhasse desprevenido. Não. Nem sequer tenho namorada…, respondeu o rapaz.

A surpresa do joalheiro divertiu-o. Depois continuou, como quem se convence de que, naquela ocasião, valia a pena dar uma explicação mais pormenorizada.

É para a minha mãe. Quando eu ainda não tinha nascido, ela ficou sozinha. Alguém lhe aconselhou que interrompesse voluntariamente a gravidez, ou seja, que não me deixasse viver. A lei nessa altura facilitava tudo e, ainda por cima, o Estado “paternalmente” pagava todos os custos.

Mas ela negou-se. Deixaram-na ainda mais sozinha. Havia muita gente disposta a ajudá-la a “livrar-se do incómodo” de ter um filho, mas pouca gente disponível para eliminar as dificuldades que tinha na sua vida.

Mas ela negou-se. Teve muitos problemas, muitos. Para mim, foi pai e mãe ao mesmo tempo. Também foi amiga, irmã e sobretudo professora: ensinou-me o sentido da vida. Fez-me ser aquilo que sou. Agora, que já tenho algumas possibilidades, quero oferecer-lhe este anel especial.

Ela nunca teve nenhum. Mais tarde, comprarei outro para a minha futura noiva – mas será sempre o segundo. O primeiro, quero que seja para a minha mãe.

O joalheiro não disse nada. Somente pediu ao empregado que o rapaz tivesse um desconto que só faziam aos clientes especiais.

Esta história faz-nos pensar: será que em situações difíceis a única solução é suprimir legalmente a vida? Não nos apercebemos que uma lei assim facilita as pressões sobre a mulher para que essa seja vista como a única solução?

Por acaso o dinheiro não seria melhor empregue em salvar vidas em vez de empregá-lo para eliminá-las?

E os problemas da mulher que está grávida?

Será que não nos damos conta de que não podemos resolver os problemas de uma pessoa matando outra pessoa? Essa é a lógica da guerra; essa é a lógica da violência; essa não é a lógica da maternidade.

A mulher, numa situação difícil, necessita da nossa ajuda, da ajuda da sociedade. A morte do filho não resolve os seus problemas de pobreza ou falta de condições para o educar.

Além disso, a proibição de abortar protege a mulher das fortes pressões a que muitas vezes se vê sujeita por aqueles que tem ao seu lado.

Por último, não nos esqueçamos de pensar com calma que quando falamos do aborto estamos sempre a fazer referência a algo que é para os outros. Nós somos um embrião que foi respeitado.

Pe. Rodrigo Lynce de Faria 

Doutor em Teologia

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