Estar vigilantes é uma atitude do coração

Estar vigilantes é uma atitude do coração

Há algum tempo fui fazer um passeio cultural na cidade de Lisboa. Confesso que me encontrava um pouco apreensiva devido a alguns constrangimentos existentes que me dificultavam a capacidade de concentração e retiravam alguma paz. Nessa altura, ajudou-me muito a seguinte frase: “Para dar paz, precisamos de tê-la, e Cristo dá-no-la a nós”. Uma coisa é certa, este passeio despertou em mim uma enorme curiosidade pela história da cerca urbana medieval conhecida por “cerca velha” ou “cerca moura” enquanto elemento estrutural na paisagem da cidade até ao momento presente. E cá estou hoje a escrever o artigo, já em paz, ultrapassados que foram os constrangimentos graças também ao autodomínio e perseverança com a ajuda de Jesus sabendo que na “barca” vai haver dificuldades de todo o tipo, incompreensões, difamações, ventos… mas temos de ter a profunda convicção de que Jesus está connosco, e que todas as dificuldades se superam não as olhando com olhar humano mas sim sobrenatural.

Tinha chegado o momento de iniciar a visita. Contudo, depois de alguns metros percorridos, resolvi adiar. Seria mais fácil iniciar o percurso na parte superior da colina de São Jorge e ir descendo até à Rua dos Bacalhoeiros seguindo as indicações assinaladas.

Face a este contexto subi rumo ao Chiado. Estava linda a cidade. Entrei na igreja de São Roque admirando mais uma vez toda a sua beleza e esplendor. Segui posteriormente rumo ao Miradouro de São Pedro de Alcântara passando pelo antigo Palácio do Vinho do Porto onde tantas vezes tinha passado férias com a avó e os tios quando era pequena. Surpresa das Surpresas. O Palácio, projectado pelo arquitecto João Frederico Ludovice, arquitecto do Rei D. João V, apresenta um estilo de arquitectura residencial barroca construído com as sobras (lascas) do Palácio Nacional de Mafra no Século XVIII, e residência da família Ludovice até ao Século XIX. Era agora o “Palácio LUDOVICE Wine Experience Hotel Lisboa”.

Emocionada entrei no hotel. Tantas recordações! Como gostava de observar outrora da janela do meu quarto a magnífica paisagem e o elevador da Glória a subir e a descer. Faziam os meus encantos. Ficava a sonhar. Era tudo grande e belo! São muitas as diferentes mutações existentes ao longo do nosso percurso de vida. Fiquei tão sensibilizada ao ver a escadaria que tantas vezes terei subido, que bloqueei surpreendida. A recepcionista do hotel referiu que tinha conservado a traça original, as telhas originais azuis e brancas, as suas pinturas e frescos, os tectos em estuque, preservando todos os pormenores importantes deste palácio. Deixei o hotel a pensar que, se houver cuidado na perseveração, é melhor readaptar o património para novos fins do que observar a sua gradual decadência e extinção. São tantas as metamorfoses que a cidade sofre ao longo dos anos!

Atravessei a rua, posteriormente, dirigindo-me então ao Jardim e Miradouro de São Pedro de Alcântara. Deparei-me com um pequeno mercado num jardim belíssimo, muito cuidado, com várias tendas que vendiam, entre outros, recordações da cidade de Lisboa, refrescos, vinho, queijos, roupas… na verdade é um local privilegiado cheio de vida e de turistas. Possui ainda um quiosque onde se pode usufruir de uma bebida sentado na esplanada com a vista sobre a cidade. Dirigi-me ao miradouro, que na verdade é um dos pontos mais amplos de observação da cidade. A sua vista é de cortar a respiração, avistando-se em frente, sobre a colina, o Castelo de São Jorge com as suas imponentes muralhas, a Baixa alfacinha, os bairros da Mouraria e de Alfama, e ainda o rio Tejo. Foi construído em 1864 com dois socalcos. O projecto original remonta ao Século XVIII da autoria de João Pedro Ludovice (filho de João Frederico Ludovice). O lago, os bancos e as sombras das árvores fazem do jardim um local muito agradável, com o icónico Elevador da Glória, inaugurado em 1885, situado ao lado, facilitando o acesso desde a Praça dos Restauradores até ao Bairro Alto e a este jardim. A título de curiosidade refiro que até aos finais do Século XIX, nas viagens nocturnas, a iluminação interna na cabine do Elevador da Glória era feita com velas.

Concluo este artigo, recorrendo a Santa Maria, Rainha da Paz. Que ela interceda por nós, para que o nosso coração esteja sempre vigilante, aceite todas as transformações existentes ao longo da vida, e que elas contribuam para o bem. E nestes momentos roguemos pela paz na Ucrânia que tanto necessita das nossas orações.

Maria Helena Paes

Escritora

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