Uma semana depois de termos regressado de Nova Iorque estamos já dentro da rotina do barco e do calor destas paragens. Nos primeiros dias foi um corre-corre para ver se estava tudo bem com a nossa “casa” – verificar sistemas, mais isto e aquilo. Felizmente nada se danificou na nossa ausência e tudo estava conforme deixámos. O nosso “vizinho”, um senhor de nacionalidade suíça, mas com bandeira alemã no seu veleiro, teve a gentileza de olhar pelo nosso barco nos últimos dias. A vida a bordo tem destas coisas, ajudamo-nos uns aos outros, mesmo que sejam pessoas que tenhamos conhecido há meia dúzia de horas. Algum tempo depois de termos chegado foi a vez dele se ausentar durante um par de dias, tendo nós retribuído o favor.
Depois de chegarmos ainda tentei ver se conseguia contactar a tripulação do veleiro Allegro, de bandeira portuguesa, que havia participado no Atlantic Rally for Cruisers mas, de acordo com a informação que tive da organização do evento, apesar de terem sido os últimos a chegar (eles no dia 8 e nós no dia 10) já tinham deixado St. Lucia. Foi pena pois estávamos esperançados que ainda por cá andassem e tivéssemos a oportunidade de trocar impressões, visto não haver por aqui muitos portugueses. Entretanto, nestes dias têm chegado dezenas de veleiros provenientes de Cabo Verde e que participam no ARC.
O dia-a-dia a bordo está já dentro da rotina: acordar de manhã por volta das sete, dar leite à Maria e mudar a fralda. Preparar o pequeno-almoço para os maiores, que é comido no poço do barco se o tempo o permite, assim como uma ida à praia aqui mesmo junto ao veleiro. Depois tentamos colocar a bebé a dormir novamente, por volta das nove da manhã, e tomamos conta de algumas tarefas a bordo, limpeza, lavar roupa, reparações (poucas felizmente!) e preparamos o almoço, caso seja para comer a bordo. Quando assim não o fazemos, à hora de almoço metemos o bote na água e dirigimo-nos para terra para almoçar e fazer algumas compras no mercado e supermercado, e tratar de outros assuntos se for necessário, regressando ao veleiro por volta das três da tarde, mesmo a tempo da sesta para a Maria e, muitas vezes, para nós também!
Quando o Sol começa a perder fulgor voltamos às tarefas a bordo, se a Maria ainda estiver a dormir, e ao pôr-do-Sol reunimos a família na proa do barco para uma bebida antes de nos recolhermos ao seu interior para preparar o jantar e, mais tarde, dormir. A Maria vai para a cama logo após o jantar, sempre antes das oito da noite. Nós ficamos acordados até às onze, altura em que damos mais um biberão de leite à bebé e, finalmente, também vamos dormir.
Esta semana aproveitámos para doar algumas das roupas da Maria que já não lhe serviam e que apenas estavam a ocupar espaço no barco, visto termos tido tempo para voltar a organizar os armários depois de regressarmos dos Estados Unidos. As crianças crescem rapidamente e o que lhe servia no mês passado, agora já está apertado. E como não gostamos de desperdiçar nada, aproveitamos sempre para fazer chegar essas roupas a crianças que as usem. Desta feita foi a bebé de um veleiro vizinho, que tem menos de um ano, que recebeu um saco cheio de roupas e outros acessórios. É bom saber que nada se estraga e que volta a ter nova vida nas mãos de outras pessoas.
No mundo de consumo em que actualmente vivemos assistimos a desperdícios em todo o lado. Durante a nossa curta viagem a Nova Iorque tivemos a oportunidade de constatar isso mesmo – um consumismo em larga escala onde tudo é fácil de adquirir e em que pouco, ou nenhum, valor se dá às coisas. Nova Iorque é tida como a capital do consumo mundial.
Nesta quadra natalícia vemos pessoas a gastar rios de dinheiro em coisas sem qualquer importância. Gastar apenas por gastar porque as revistas e a televisão dizem que deve ser assim. Pessoalmente nunca pactuei muito com o lado comercial do Natal. Acho que o Natal é uma quadra para ser vivida em família ou com amigos, e que deve ser um período de reflexão para tentarmos melhorar os aspectos menos positivos do ano que está quase a terminar.
Não quero concluir antes de desejar um Feliz Natal a todos os leitores e amigos d’O Clarim.
João Santos Gomes