Testemunhar o amor incondicional de Deus

DOMINGO DE RAMOS DA PAIXÃO DO SENHOR – Ano C – 13 de Abril

Testemunhar o amor incondicional de Deus

Todo o Antigo Testamento – os seus ensinamentos, figuras e profecias – encontra a sua plenitude e conclusão na pessoa, vida, ministério, morte e ressurreição de Jesus Cristo. Ele é o Filho de Deus, encarnado pelo poder do Espírito Santo no seio da Virgem Maria.

A ENTRADA TRIUNFAL: UM REI HUMILDE

O Domingo de Ramos é uma ocasião solene para testemunhar a terrível paixão de Nosso Senhor, suportada por nossa causa, e para nos deixarmos comover pelo amor incondicional e extraordinário de Deus. No início da Missa, reencenamos a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém como um humilde rei, montado num burro, cumprindo as palavras do profeta Zacarias: «Alegra-te muito, Filha de Sião! Grita, filha de Jerusalém! Eis que o teu rei vem a ti, justo e vitorioso, humilde e montado num jumento» (Zacarias 9, 9).

JESUS, O SERVO SOFREDOR DE DEUS

O carácter misterioso do servo sofredor de Javé – apresentado em quatro cânticos do Livro de Isaías – continua a ser um enigma para muitos judeus de hoje. No entanto, quando lemos e meditamos sobre a paixão de Nosso Senhor, vemos que Jesus encarna perfeitamente este servo. São Paulo afirma-o no seu hino: «Esvaziou-se a si mesmo, assumindo plenamente a forma de servo» (Fil., 2, 7).

Jesus não se fez apenas homem – fez-se servo: «O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate de muitos» (Mateus 20, 28).

UM REINO ENRAIZADO NOS CORAÇÕES

Embora Jesus reconhecesse a corrupção e a tirania do regime romano, nunca incitou uma revolução contra a sua opressão nem Se envolveu em críticas políticas. A Sua missão era muito maior – Ele procurou estabelecer o Reino de Deus, primeiro no coração do Seu povo, depois entre os Seus discípulos e, por fim, na Igreja, que nasceu através do Seu sacrifício, ressurreição e derramamento do Espírito Santo. Confiada ao ministério da reconciliação, a Igreja é enviada ao mundo para proclamar o amor redentor de Deus e trazer a unidade entre a Humanidade e o seu Criador (cf. 2 Cor., 5, 11-21).

O PODER DA PALAVRA

«O Senhor concedeu-me a língua dos instruídos» (Is., 50, 4).

A sabedoria de Jesus é cultivada através do silêncio, da oração, da contemplação, da contenção e da disciplina: «Quem guarda a sua boca e a sua língua, protege-se dos problemas» (Prov., 21, 23). «Toda a pessoa deve estar pronta para ouvir, mas tardio para falar e lento para se irar» (Tg., 1, 19).

Este processo capacita-O para proferir palavras que trazem conforto: «Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei» (Mt., 11, 28).

Jesus fala a Palavra de Deus – e mais do que isso – Ele É a Palavra de Deus.

A OBEDIÊNCIA DO SERVO

«De manhã em manhã ele abriu-me os ouvidos e eu não fui rebelde, nem me afastei» (Is., 50, 5).

O servo pode falar a Palavra de Deus porque primeiro aprende a ouvir. Em Hebraico, Grego e Latim, a obediência deriva da escuta atenta. A palavra inglesa “obedience” vem do Latim obaudire, que significa “ouvir atentamente” ou “ouvir e responder”.

São Paulo sublinha que Cristo foi obediente a seu Pai até à morte. E não uma morte qualquer: «E morte de cruz» (Fil., 2, 8). A execução mais dolorosa e humilhante que os romanos infligiam aos rebeldes. É notável o facto de os dois romanos com autoridade para condenar Jesus – o Pilatos – e para executar essa sentença – o Centurião – declararem que não encontram nele qualquer culpa.

AMOR SACRIFICIAL

«Dei as costas aos que me batiam» (Is., 50, 6).

Jesus ensinou-nos a dar a outra face quando nos batem. No entanto, Ele foi muito além disso, aceitando de bom grado uma sentença injusta sobre Si mesmo por nossa causa: «Ele foi maltratado, humilhado, torturado; contudo, não abriu a sua boca; agiu como um cordeiro levado ao matadouro; como uma ovelha que permanece muda na presença dos seus tosquiadores ele não expressou nenhuma palavra» (Isaías 53, 7).

O APELO AO DISCIPULADO

A liturgia do Domingo de Ramos convida-nos a entrar no sofrimento de Cristo – não como observadores distantes, mas como participantes na Sua viagem. Convida-nos a empatizar com a Sua dor, a estar com Ele na Sua paixão e a aceitar corajosamente o desafio do discipulado, mesmo quando o caminho leva ao sacrifício.

Seguir Cristo é abraçar o paradoxo do Evangelho: «Quem quiser salvar a sua vida, tem de a perder» (Mateus 16, 25).

Esta verdade desafia os valores do mundo. Numa sociedade que muitas vezes procura o conforto, o sucesso e a auto-preservação, Jesus oferece um caminho diferente – um caminho de entrega, amor e doação. O Seu caminho não conduz à glória terrena, mas a uma transformação mais profunda: a morte do velho eu e o nascimento de algo novo através do poder da Sua ressurreição e do Dom do Espírito Santo.

Que tenhamos a coragem de O seguir – não só nos momentos de alegria, mas também nas profundezas do sofrimento – confiando que a cruz conduz à vida abundante que Ele prometeu a todos os que permanecem n’Ele.

Pe. Eduardo Emilio Agüero, SCJ

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