Diocese de Hong Kong retira-se do movimento “Occupy Central” em nome da estabilidade

Lei, Ordem e Progresso

A Diocese de Hong Kong demarcou-se do movimento “Occupy Central”. Depois de incentivar o diálogo entre os manifestantes e o Governo de C.Y. Leung, acabou por pedir o fim das acções de protesto. Perante a intransigência demonstrada por ambas as partes e os prejuízos acumulados, prevaleceu a defesa da Lei. Pois só com Ordem haverá Progresso.

A Diocese de Hong Kong tem vindo a apelar ao diálogo entre os manifestantes e as autoridades, com vista ao fim do bloqueio imposto pelo movimento “Occupy Central”, acção precursora da “Revolução Guarda-Chuva”.

No dia 29 de Setembro, o bispo de Hong Kong, cardeal D. John Tong, pedia ao Governo para ter como prioridade a segurança dos cidadãos e para não recorrer à força. Aos manifestantes pedia que se mantivessem calmos.

A 3 de Outubro, na véspera de partir para Roma, a fim de participar no Sínodo dos Bispos, o prelado manifestava satisfação por ambas as partes estarem prestes a iniciar conversações. No dia seguinte, já depois do Governo ter suspendido o diálogo, a Diocese lançava um apelo urgente «a todos os estudantes e cidadãos» envolvidos na acção de protesto para abandonarem as barricadas, «o mais breve possível», prometendo continuar a lutar pelo sufrágio universal de forma apropriada nos próximos dias. Perante esta posição da Diocese, o cardeal emérito de Hong Kong, D. Joseph Zen, pediu para que todos voltassem às suas casas.

Seguindo o princípio que a Lei deve ser respeitada e que o bem comum é valor fundamental para uma sociedade harmoniosa, sem conflitos, a Igreja em Hong Kong estendeu assim a mão a todas as partes, sem marginalizar agressores e ofendidos, na defesa da liberdade de todos, pois são já muitos os prejuízos sociais, económicos e políticos na antiga colónia britânica – feridas abertas que só o tempo irá curar.

De Pequim a mensagem é sempre a mesma, tal a importância da Lei no mundo dos homens. Hong Lei, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da RPC, insistia na passada segunda-feira: «A nossa posição é que o movimento “Occupy Central” é completamente ilegal. Nós apoiamos o Governo da Região Administrativa Especial a resolver a situação de acordo com a Lei».

Diz a Bíblia: «Todo aquele que pecar sem a Lei, sem a Lei também perecerá, e todo aquele que pecar sob a Lei, pela Lei será julgado. Porque não são os que ouvem a Lei que são justos aos olhos de Deus; mas os que obedecem à Lei, estes serão declarados justos» (Rm 2:12-13). Este princípio está presente em todas as religiões, encontrando-se também na formação dos Estados e das regiões com elevado grau de autonomia.

A Lei Básica da RAEHK é explícita no artigo 4.º: «A Região Administrativa Especial de Hong Kong assegura, nos termos da lei, os direitos e liberdades dos residentes (…) e de outras pessoas».

Assim, que legitimidade têm Joshua Wong, Benny Tai, Martin Lee, Jimmy Lai, Anson Chan e Audrey Eu para encabeçarem um movimento de contestação ao Chefe do Executivo de Hong Kong por este cumprir uma ordem emanada do Governo Central, órgão legitimado pelo povo chinês e reconhecido pela Comunidade Internacional? Não foi C.Y. Leung eleito segundo as regras em vigor em Hong Kong, sendo ele o primeiro responsável pelo cumprimento escrupuloso da Lei? Que fundamento legal permite que Joshua Wong, Benny Tai, Martin Lee, Jimmy Lai, Anson Chan e Audrey Eu apoiem uma acção que restringe os direitos e as liberdades dos residentes e de outras pessoas que vivem em Hong Kong, prejudicando largamente os interesses públicos e privados da Região?

O respeito pela Lei, a defesa dos direitos e liberdades, a intransigência dos manifestantes, os prejuízos acumulados e a escalada de violência explicam não só o recuo da Diocese de Hong Kong relativamente à forma de luta adoptada, como a decisão das autoridades de remover as barricadas levantadas em artérias principais da cidade.

 

Sistema equilibrado

Deng Xiaoping pensou no princípio “um país, dois sistemas” e o modelo ganhou forma pela mão de inúmeros sábios. Jiang Zemin deu-lhe vida, Hu Jintao reforçou-o, Xi Jinping quer defendê-lo, evitando que seja instrumentalizado para benefício de uma minoria, que escudada no ideal da Democracia quer alcançar o poder, para depois criar instabilidade no seio do sistema político chinês, levando à sua deterioração e posterior capitulação.

Macau e Hong Kong viveram tempos de grandes incertezas antes da entrega de soberania, que rapidamente foram colmatadas pelo carinho da mãe-pátria.

No caso de Macau muito contribuiu o respeito de Pequim pelo seu elevado grau de autonomia e o papel vigilante e conciliador do Gabinete de Ligação do Governo Popular Central na RAEM, coadjuvado pelo Comissariado do Ministério dos Negócios Estrangeiros na RAEM e pela Guarnição em Macau do Exército de Libertação do Povo Chinês.

Fora de portas, foi determinante o empenho das várias delegações de Macau no estrangeiro, dando-lhe uma maior visibilidade a todos os níveis.

Para além do sector do jogo, aos poucos Macau começa a ser falada em outras áreas, sendo disso prova os resultados alcançados na educação, na cultura e no desporto.

No lado menos positivo está o rápido desenvolvimento da área urbana e o crescimento quase desregulado da economia, com resultados nefastos para a qualidade de vida da população, incapaz de se defender da poluição e da inflação galopante, principalmente na área da habitação. Problemas que requerem um cada vez maior empenho do Governo local, mas só possível com o apoio das instituições do Governo Central na RAEM.

José Miguel Encarnação

jme888@gmail.com

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