A igreja de Maria Rainha da Paz
Tem a sua festa principal a 22 de Agosto e é uma das expressões religiosas mais importantes de Bonnevoie, um dos bairros mais populosos da capital do Luxemburgo. Com uma forte implantação portuguesa, bem próximo do bairro da Gare, no centro da cidade, Bonnevoie tem sofrido nos últimos anos com todos os aspectos negativos da vizinha Gare, que têm levado à saída de uma parte substancial da antiga comunidade: criminalidade ligada à droga, pequenos furtos, etc.
No entanto, nota-se já alguma melhoria desde que as autoridades assumiram haver um problema e aumentaram o contingente policial.
Também nos últimos anos, segundo nos foi dito por alguns residentes de longa data, a comunidade lusófona tem vindo a aumentar, devido sobretudo aos brasileiros, cabo-verdianos e a povos de outros países de língua portuguesa que procuram o Grão-Ducado.
A igreja de que hoje vos vamos falar fica numa zona mais calma e mais afastada da Gare, junto a uma paragem de autocarros que serve milhares de pessoas que a utilizam como interface para outros destinos. Trata-se da paragem de autocarros da Praça de Léon XIII. Quem por lá passa dificilmente fica indiferente à sua estrutura imponente.
A igreja de Maria Rainha da Paz, dedicada – podemos assim dizer – a Nossa Senhora de Medjugorje, foi construída em 1965, tendo sido consagrada a Maria Rainha da Paz nos anos 80. Apresenta uma fachada, com um enorme mural em metal, alusivo à Rainha da Paz, e uma torre de relógio que domina toda a envolvente – este toca de hora a hora, informando a população. Algo pouco normal nas cidade actuais, mas que ainda hoje é bem audível em qualquer parte do quarteirão de Bonnevoie.
Numa breve incursão pela Internet, ficámos a saber que “Rainha da Paz” é a invocação dada à aparição da Virgem Maria na Bósnia-Herzegovina – à época, República Socialista Federativa da Jugoslávia – relatada pela primeira vez a 24 de Junho de 1981 por seis crianças de origem croata da vila de Medjugorje.
Dados oficiais do local de culto apontam para que mais de dois milhões de pessoas viajem anualmente à vila de Medjugorje, em busca do conforto espiritual e das graças de Nossa Senhora, pelo menos assim seria antes do início da pandemia. Só no Brasil, de acordo com uma informação que nos foi confirmada por uma proprietária de um café brasileiro, localizado nas imediações da igreja, a fé na Virgem da Bósnia já é compartilhada por cerca de um milhão de fiéis.
Apesar de todas as dúvidas que há anos vêm surgindo em torno destas aparições, as quais ainda carecem de reconhecimento oficial, a Santa Sé autorizou, em Maio de 2019, a realização de peregrinações de fiéis a Medjugorje.
Aqui no Luxemburgo não parece haver grande polémica à volta deste assunto. Aliás, tivemos a oportunidade de falar com alguns crentes que se encontravam no interior da igreja, e chegámos à conclusão que a grande maioria desconhece a história que está por deste fenómeno.
Para nós, que ali passamos diariamente, pelo menos quatro vezes ao dia para levarmos e trazermos a Maria à escola (École primaire J. B. Gellé), mais do que quaisquer polémicas, consideramos tratar-se de um excelente templo, encontrando-se bem inserido na fisionomia urbana, servindo completamente o propósito de ser um local de culto para os residentes e para quem o procura.
Mesmo durante os períodos mais delicados da pandemia os serviços litúrgicos não deixaram de se realizar. A qualquer hora é normal ver largas dezenas de pessoas a entrarem e a saírem da igreja.
A congregação responsável por cuidar do edifício não restringe a sua actividade ao culto religioso, oferecendo também um vasto leque de serviços de apoio à comunidade, sejam pessoas residentes na área geográfica servida pela paróquia, ou provenientes de bairros limítrofes. Neste âmbito, é de salientar o trabalho activo desenvolvido junto dos sem-abrigo, um flagelo que se tem agravado nos últimos anos muito por culpa dos problemas de segurança já referidos. As equipas formadas para o efeito fornecem alimentos, roupas e um amplo apoio social a esta franja da população.
Além da data de 22 de Agosto, os paroquianos festejam efusivamente o Dia de São José, a 19 de Março – Dia do Pai em Portugal; e ainda o Dia de Santa Hermínia – muito venerada na Flandres belga, que se assinala a 3 de Janeiro.
Como a Maria deverá ficar a estudar nesta escola nos próximos dois anos e até, quem sabe, ali cumprir o Ensino Secundário, talvez mudemos para esta comuna. Se assim vier a acontecer, daremos aos nossos leitores mais detalhes das festividades organizadas pela paróquia da igreja de Maria Rainha da Paz, ao longo do ano.
João Santos Gomes