De porto em porto

A nossa experiência como “hoteleiros flutuantes” tem sido bastante enriquecedora e interessante. Apesar do esforço extra para que tudo esteja sempre limpo e em ordem, aliado à necessidade de coordenar os afazeres da vida a bordo, do veleiro, da família e dos clientes, a nova rotina até tem sido fácil de assimilar.

O plano inicial era seguir para o arquipélago de Les Saintes, depois de alguns dias junto do ilhéu de Le Gosier, mas devido ao vento forte e ao mar grande decidimos regressar a Pointe-à-Pitre, até que as condições melhorassem, algo que aconteceu passados três dias.

Antes de sairmos de Le Gosier ainda tive tempo de conversar com um idoso francês que atraído pela grande bandeira portuguesa – temos uma desfraldada na popa do veleiro – viveu e trabalhou três anos nos Açores. Actualmente está reformado. Vive seis meses em Le Gosier e seis meses em França. A nadar em redor do veleiro ainda teve tempo de contar que chegou a Guadalupe (também de veleiro) há vários anos, tendo vendido o barco porque não se sentia com forças para o conseguir manter em boas condições. Com o dinheiro adquiriu um apartamento junto à praia.

Nos três dias em que ficámos à espera que o tempo melhorasse os nossos passageiros decidiram explorar a ilha de carro e de autocarro, enquanto que nós aproveitámos para realizar alguns trabalhos no barco, como abastecê-lo de víveres e de combustível. De permeio ainda tivemos tempo para visitar um centro comercial e dar alguns passeios em família, uma vez que os clientes saíam de manhã e apenas voltavam ao final do dia, deixando assim a totalidade da manhã e da tarde livres para a tripulação.

A viagem para o arquipélago de Les Saintes foi feita sem grandes problemas e com vento favorável, pelo que demorou pouco mais de cinco horas. Apenas no final tivemos um pequeno imprevisto com uma corda de uma armadilha de pesca que ficou presa no hélice do veleiro, o que obrigou a que eu e o jovem neozelandês tivéssemos de saltar para a água para a tentar cortar. Aconteceu a menos de uma milha náutica do destino e foi imperativo verificar se estava mesmo enrolada na âncora antes de ligarmos o motor para a aproximação ao ancoradouro. Felizmente o episódio ocorreu durante o dia e a tarefa foi relativamente fácil, se bem que saltar para a água em mar aberto, com corrente forte e ondulação a rondar os dois metros, não seja algo que se aconselhe. Tudo correu bem e passados dez minutos a situação ficou resolvida. Completámos o percurso com o motor ligado e com as velas parcialmente içadas, para ajudar na manobra de entrada no ancoradouro.

Os três primeiros dias em Les Saintes foram passados numa poita junto da vila, com o intuito do bote aceder mais facilmente ao molho e permitir visitas a pé. Os nossos clientes aproveitaram os dias para visitar a parte da ilha mais próxima do centro da vila, tendo ido ao Forte Napoleão e no último dia, sábado, até aproveitaram a oportunidade de passear a pé pela montanha, num dos muitos trilhos que Les Saintes oferece a quem visita o arquipélago.

No Domingo de manhã deixámos a poita e decidimos ancorar junto do morro do Pão-de-Açucar, onde tínhamos estado anteriormente antes de nos deslocarmos a Pointe-à-Pitre para receber os passageiros.

Os jovens neozelandeses só estão quinze dias connosco, sendo que estamos satisfeitos por vermos que estão a gostar da experiência. Já nos manifestaram inclusivamente que tem servido para verem, em primeira-mão, como se pode viver num veleiro e cuidar de uma criança ao mesmo tempo. Deu para dissiparem algumas ideias negativas, pré-concebidas, que tinham, ficando cientes que – apesar de ser uma vida mais dura do que em terra – é gratificante poder passar a totalidade do tempo com as pessoas mais importantes da nossa vida, nomeadamente o parceiro (ou parceira) e os filhos.

Nos próximos dias iremos voltar a Pointe-à-Pitre; depois regressaremos a Les Saintes, antes de rumarmos para Norte. A despedida de Guadalupe será feita no ancoradouro de Deshaies. Aí, possivelmente no final deste mês ou no início do próximo, iremos sair de território europeu em direcção a Antigua e Barbuda, onde planeamos passar cerca de trinta dias. Será uma completa novidade para nós, sendo que haverá muito para visitar. As próximas paragens serão novamente em território francês, na ilha de São Bartolomeu e em Saint Martin, onde estivemos há quase dois anos.

Nos últimos dias temos recebido chamadas de potenciais novos passageiros, mas ainda nada está definido. Muitos dos interessados querem efectuar viagens por ilhas de diferentes soberanias, o que para nós não é conveniente dado os problemas burocráticos inerentes à mudança de jurisdição. Preferimos que as estadias abranjam sempre o mesmo país, pois a burocracia torna-se menor.

Só a título de exemplo: se apanharmos passageiros num país com o objectivo de saírem noutro, somos obrigados a garantir que estão em condições de o fazer. Os passageiros antes de embarcarem têm de entregar ao capitão uma cópia de um bilhete de avião ou efectuar um depósito em dinheiro que permita comprar uma passagem aérea.

Se houver interessados em viajar e conhecer estas ilhas a bordo do Dee, contactem-nos e aproveitem enquanto temos espaço disponível.

JOÃO SANTOS GOMES

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