Afastemos a ilusão de que somos inocentes
Quando fez 80 anos, em 1961, São João XXIII escreveu no seu diário: «Durante toda a minha vida mantive-me fiel à prática de me confessar semanalmente». Do mesmo modo, São João Paulo II tinha um compromisso com o seu confessor, todos os sábados. O Papa Bento XVI fazia o mesmo: «Isto ensina-me a ver-me como Deus me vê e obriga-me a ser honesto para comigo próprio. Esse facto conduz-me à humildade» (Bento XVI, Carta aos Seminaristas, de 18 de Outubro de 2010). O Papa Francisco disse em muitas ocasiões que se confessa a cada quinze dias. «Os padres também precisam da Confissão, e até mesmo os bispos. Todos somos pecadores. Mesmo o Papa se confessa a cada duas semanas, porque o Papa também é um pecador. O meu confessor ouve o que eu digo, dá-me o seu conselho, e perdoa-me. Todos necessitamos disto» (Audiência, a 20 de Novembro de 2013).
Em 21 de Dezembro de 2009, quando se dirigia aos cardeais, arcebispos, bispos, e demais pessoal que trabalhavam para a Cúria Romana, o Papa Bento XVI proferiu algumas palavras marcantes: «Hoje temos que aprender de novo como reconhecer a nossa culpa, temos que sacudir de nós a ilusão de que somos inocentes. Temos que aprender a como nos arrependermos, deixarmo-nos ser transformados e deixar que Deus nos dê coragem e força para aceitarmos essa renovação. No mundo de hoje precisamos de redescobrir o Sacramento do Arrependimento e da Reconciliação. O facto de Ele ter desaparecido grandemente da vida diária e dos hábitos dos cristãos é um sintoma da perda de sinceridade na relação, tanto para connosco como para com Deus; uma perda que põe a Humanidade em perigo e diminui a capacidade de termos paz».
A 20 de Novembro deste ano o Papa Francisco lembrou aos bispos alemães que a Reforma da Igreja e a transformação de cada simples fiel começa na Confissão. E acrescentou: «Acredito que uma maior atenção será dada a este Sacramento, tão importante para uma renovação espiritual nos planos pastorais diocesanos e das paróquias durante o Ano Santo, e mesmo para além dele». O Santo Padre referiu-se no início do seu discurso a algo que o Papa Bento XVI já havia referido: há muito poucos católicos a confessarem-se.
Durante as nossas orações mais comuns pedimos a Deus que “nos perdoe as nossa ofensas” e à Mãe Maria que “rogai por nós pecadores”. Afinal, Jesus disse que não tinha vindo por causa dos “bons”, mas por causa dos “maus” (Cf Lucas 5:32), se bem que nós pensemos muitas vezes que estamos entre os “bons”.
No entanto, enquanto não nos rotularmos de “pecador” o Salvador não terá nenhum interesse na nossa pessoa. O Divino Doutor procura pessoas doentes para curar, e não almas saudáveis.
Sim, sentimos vergonha. O Papa Francisco disse: «Quando alguém está na fila para ir à Confissão sente todos os sentimentos, incluindo vergonha, mas quando a Confissão termina ele sai, livre, grandioso, bonito, perdoado, cândido e feliz. É esta a beleza da Confissão!» (Audiência, a 19 de Fevereiro de 2014).
«Gostaria de vos perguntar», continuou, «mas não me respondam por palavras, cada um que responda para si, no seu coração, quando foi a última vez que se confessou? Pensem todos sobre isso… há dois dias, duas semanas, dois anos, vinte anos, quarenta anos? E se já foi há muito tempo não percam mais um dia».
Na Confissão não apenas nos limpamos e fortalecemos. Na referida carta aos seminaristas, o Papa Bento XVI escreveu: «Ao deixar-me ser perdoado, aprendo a perdoar os outros. Ao reconhecer a minha própria fraqueza, sinto-me mais tolerante e compreensivo para com as faltas do meu próximo».
Talvez se possa resumir o Ano Santo da Misericórdia com a frase: «Perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido». Pedimos misericórdia e assim podemos conceder misericórdia. Antes que possamos dar, precisamos de receber. Deixai-nos então receber a misericórdia mais frequentemente.
Pe. José Mario Mandía
(Tradução: António R. Martins)