CISMAS, REFORMAS E DIVISÕES NA IGREJA – CXCVII

CISMAS, REFORMAS E DIVISÕES NA IGREJA – CXCVII

Os Mórmons – IX

Vimos aqui uma espécie de cronologia da história dos Mórmons. Importa agora ponderarmos sobre os princípios básicos da religião. Os elementos-chave da sua fé incluem a fé em Deus Pai, no Seu Filho Jesus Cristo e no Espírito Santo. Acreditam em profetas modernos e na revelação contínua. Têm também a crença de que, por meio da expiação de Cristo, toda a Humanidade pode ser salva pela obediência às leis e mandamentos do Evangelho de Cristo. Além disso, crêem na importância do arrependimento e do Baptismo por imersão para o perdão dos pecados. Também acreditam no direito de todas as pessoas em adorar a Deus como quiserem. As Regras de Fé também afirmam a crença na Bíblia como a palavra de Deus, desde que esteja correctamente traduzida, bem como no Livro de Mórmon como uma fonte escrita igualmente importante.

No décimo artigo de fé mórmon, desenha-se a perspectiva distinta dos Santos dos Últimos Dias sobre a história e sobre a segunda vinda de Jesus. Como muitos cristãos conservadores, os Mórmons acreditam que Jesus retornará à Terra para estabelecer Sião, a paradisíaca Terra Prometida. Todavia, os Mórmons têm uma visão específica deste retorno messiânico: acreditam que Jesus estabelecerá o seu novo reino nada mais nada menos que no continente americano. Essa expectativa deriva da revelação dada por meio do profeta Joseph Smith e está em harmonia com a história contada no Livro de Mórmon, uma escritura moderna que surgiu, como serviu, por intermediação daquele “profeta”.

NA AMÉRICA, CLARO…

Este texto, muito parecido com o Antigo Testamento, narra a história de um antigo patriarca e profeta hebreu chamado Lehi, que, por volta de 600 a.C., foi chamado por Deus para liderar um grupo de judeus de Jerusalém em direcção ao Novo Mundo. O grupo estabeleceu-se algures na América do Norte e, de acordo com essa narrativa, pelo menos alguns nativos americanos descenderão desses judeus. Aliás, Adão e Eva terão vivido no condado de Daviess, Missouri, depois da expulsão do Éden. Por fim, Jesus terá aparecido a esses judeus do Novo Mundo e ter-lhes-á ensinado o Evangelho. No seio dessa civilização bíblica “judaico-americana”, Deus continuou a falar através de profetas, entre os quais Mórmon, o autor original do texto que seria gravado em placas de ouro e que os Mórmons acreditam que Joseph Smith terá desenterrado no final da década de 1820. Além das placas, Smith afirma ter encontrado o Urim e Tumim, dispositivos de tradução que lhe permitiram ler as gravações nas placas.

Depois da publicação do Livro, na década de 1830, o profeta e os seus seguidores organizaram a Igreja de Cristo, uma instituição eclesiástica que diferia de todas as outras igrejas cristãs da época, pois era liderada por um profeta e possuía outro texto sagrado para além do Antigo e do Novo Testamento. Importa salientar ainda que no texto do Apocalipse mórmon, é revelado aos membros desta nova igreja que partiria deles a restauração da Igreja do Novo Testamento, a qual, segundo a narrativa, fora removida da Terra durante uma “Grande Apostasia”… Esta teria ocorrido no final da “Era Apostólica” (que terminou com o concílio de Nicéia I, em 325).

Esta revelação convenceu os seguidores de Smith de que a sua Igreja era a única verdadeira, uma afirmação doutrinária que ainda é mantida pela Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, com sede em Salt Lake City, também conhecida como “Igreja Mórmon”, ou “Igreja SUD”. Outro elemento importante da doutrina mórmon é o conceito de um “plano de salvação” que abrange a existência do espírito antes, durante e depois do tempo passado na Terra. Os Mórmons acreditam que antes de nascer, cada pessoa tem uma vida pré-mortal. No reino pré-mortal, os espíritos habitam com Deus, o pai literal de todas as pessoas, e desenvolvem talentos e conhecimento para se preparar para a vida mortal. Quando a sua preparação estiver completa, as pessoas devem progredir e passar algum tempo na Terra. Ganhando um corpo físico, praticam a escolha activa entre o bem e o mal (as Regras de Fé mórmon rejeitam o conceito de pecado original) e ganham novos níveis de conhecimento que os permitirão tornar-se como Deus, o objectivo final do desenvolvimento espiritual mórmon.

Os Mórmons acreditam que após a morte o espírito deixa o corpo e segue para um mundo espiritual, para esperar a ressurreição. Durante este tempo, aqueles que não abraçaram o Evangelho são segregados daqueles que viviam de acordo com a Palavra de Deus, e aos espíritos das pessoas que nunca tiveram a oportunidade de ouvir o Evangelho é-lhes concedida a faculdade de o aprenderem. O Plano de Salvação ensina que o Céu é dividido em três reinos de glória separados: o celestial, o terrestre e o telestial. Esses reinos são os destinos para onde todos os homens e mulheres (excepto alguns poucos conhecidos como Filhos da Perdição, que irão para as Trevas Exteriores) irão depois de serem julgados por Deus, sendo os seus espíritos reunidos com o que serão os seus corpos imortais. Aqueles que são julgados por terem seguido o Evangelho seguem para o reino celestial, governado pelo próprio Deus. Os que não abraçaram essa devoção, mas também não rejeitaram activamente a palavra de Deus, são enviados para o Reino Terrestre; aqueles que rejeitaram de forma activa o Evangelho, ou cometeram pecados graves, devem habitar no Reino Telestial, que está longe da luz de Deus.

Os Santos dos Últimos Dias acreditam que a entrada em cada reino depende da dignidade de uma pessoa e da sua adesão aos mandamentos de Deus e às normas que Ele definiu. Sendo Deus o juiz supremo, todas as pessoas serão julgadas com justiça e colocadas no reino onde serão mais felizes e que merecerem. O Livro de Mórmon descreve que homens e mulheres serão enviados a “sua própria casa, para desfrutar o que estão dispostos a receber”. Muitas pessoas serão enviadas aos reinos inferiores “porque não estavam dispostas a desfrutar o que poderiam ter recebido”, ou seja, a exaltação no reino celestial. Mesmo assim, de acordo com a teologia mórmon, todos os três reinos são reinos de glória, e mesmo o mais baixo é mais glorioso do que o homem pode compreender actualmente.

Os Mórmons consideram-se cristãos, mas muitos cristãos não os reconhecem como uma denominação oficial. Também acreditam na crucificação, ressurreição e divindade de Jesus Cristo, além de que alguns afirmam que Deus enviou mais profetas após a morte de Jesus. Porque dos Último Dias, acreditam que a igreja original foi restaurada nos tempos modernos, como vimos na cronologia.

Vítor Teixeira

Universidade Católica Portuguesa

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