CISMAS, REFORMAS E DIVISÕES NA IGREJA – CLXXXIX

CISMAS, REFORMAS E DIVISÕES NA IGREJA – CLXXXIX

Os Mórmons – I

Os Mórmons são um grupo religioso que se enquadra no Cristianismo mas com as especificidades que derivam das revelações feitas pelo seu fundador, Joseph Smith (1805-1844). A denominação cristã oficial é “Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias”; está sediada em Salt Lake City, no Estado norte-americano do Utah, e tem mais de dezasseis milhões de membros em todo o mundo. Existe uma outra denominação mórmon, a “Comunidade de Cristo”, sediada em Independence, no Missouri, contando com cerca de 250 mil membros. A religião Mórmon foi fundada oficialmente em 1830 quando “O Livro de Mórmon” foi publicado. Hoje, a igreja está presente principalmente nos Estados Unidos, na América Latina, Canadá, em alguns países da Europa, nas Filipinas, certos Estados em África e partes da Oceânia. Embora os Mórmons adoptem muitas crenças cristãs, têm seu próprio conjunto distinto de filosofias, valores e práticas. Mas vejamos a sua história, de acordo com a sua perspectiva e enquadrada na história universal.

No início dos tempos, de acordo com a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, o Jardim do Éden, no qual Deus colocou Adão e Eva, estava localizado no Condado de Jackson, Missouri, perto da cidade de Independence. A história da Salvação, segundo os Mórmons, começou nos Estados Unidos. Mais tarde, por volta de 600 a.C., seguindo a crença mórmon, um judeu chamado Lehi viajou com a sua família do Médio Oriente para as Américas. Os descendentes de Lehi dividiram-se posteriormente em duas tribos, os Nefitas e os Lamanitas, que receberam os nomes de dois dos filhos de Lehi, Néfi e Laman. Os Nefitas, inicialmente mais prósperos e religiosos, tornaram-se corruptos com o tempo e travaram séculos de guerra com os Lamanitas, nómadas, que os Mórmons consideram os povos ancestrais dos nativos americanos.

DESDE O COMEÇO DO MUNDO…

Reza a história mórmon que no ano de Jesus Cristo de 33, após a Sua crucificação e ressurreição, Jesus apareceu nas Américas e pregou aos Nefitas. O aparecimento de Cristo inaugurou, assim, um período de harmonia com os Lamanitas, que durou apenas duzentos anos. Porque as tribos entrariam em conflito, novamente…

Mas no ano 385 surgiu um profeta nefita chamado Mórmon, que começou a escrever a história do seu povo. Na véspera de uma batalha contra os Lamanitas, Mórmon entregou ao seu filho Moroni a essência daquilo que ficará conhecido como “O Livro de Mórmon”, transcrito em placas de ouro. Este livro é um dos livros canónicos da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Para os Mórmons, o seu autor existiu e é considerado um profeta, militar e historiador. O livro situa a sua vida entre os anos 311 e 385, mas não há evidências históricas. Mórmon, que conta a sua história na primeira pessoa, descreve-se como descendente de Néfi, embora sem pormenorizar a linha genealógica, apenas indicando que recebeu o nome do seu pai. Devido ao seu carácter sério e observador, aos dez anos de idade conta que foi instruído por Ammaron para preparar e cuidar dos registos dos antigos profetas, que posteriormente compilou e organizou, formando assim o que seria “O Livro de Mórmon”.

Com o seu pai, aos onze anos de idade, viajou para a capital nefita e aos quinze foi, refere, “visitado pelo Senhor”, começando a pregar o arrependimento ao seu povo. Mas não teve qualquer sucesso devido à sua iniquidade. Por isso, Deus ordenou-lhe que parasse de pregar e se dedicasse à liderança dos exércitos nefitas para enfrentar as guerras contínuas daquela época.

Numa das batalhas finais, na terra de “Cumora”, cerca de 385 d.C., Mórmon foi mortalmente ferido na batalha e os nefitas foram quase destruídos. Antes da sua morte, todavia, confiou ao seu filho Moroni os cuidados do registo que ele começara a compilar, imbuindo-o da tarefa de terminar a narrativa da destruição total do povo nefita. Moroni viveria mais 36 anos, compilando as “Grandes Placas de Néfi” e escrevendo as “Palavras de Mórmon”, que fecham os textos d’O Livro de Mórmon, que viria a selar em 421, na forma que o compõe actualmente. O livro fornece indicações de tempo e lugares, mas até aos dias de hoje ainda não foi possível relacioná-los com eventos históricos (excepto quando foram de extracção bíblica) ou regiões geográficas concretas, tirando Jerusalém e a área envolvente. Mas voltaremos ao livro, para se entender a sua definição.

De acordo com o texto d’O Livro de Mórmon, a palavra “Mórmon” provém da Terra de Mórmon, onde o profeta Alma (de que subsiste um livro homónimo naquele livro) pregou o Evangelho e baptizou os convertidos.

A cronologia histórica dos Mórmons regista um salto de mil e 500 anos, depois da vida e acção do profeta Mórmon e da compilação final do seu livro, pelo filho. Com efeito, a história deste credo recomeça com o nascimento dos fundadores. Primeiro, em 1801, a 1 de Junho, quando nasceu Brigham Young, na cidade de Whitingham, numa família de agricultores do Vermont. Quatro anos volvidos, em 1805, a 23 de Dezembro, nasceu outra das grandes figuras mórmons, Joseph Smith Jr., em Sharon, também no Vermont, quinto filho de Lucy e Joseph Smith, um infeliz lavrador cuja família se mudava com frequência devido ao fracasso dos seus empreendimentos agrícolas. O pai Joseph e os seus filhos parece que tinham maior dedicação por outras actividades que não pela agricultura. Com efeito, passavam parte dos meses de clima mais quente no Nordeste dos Estados Unidos à procura de tesouros, usando mais a adivinhação do que métodos científicos ou fundamentados em livros ou mapas. Utilizava pedras de vidente que, quando vistas na parte inferior de um chapéu, acreditava-se que transmitiam uma visão especial ao seu usuário.

No meio destas peripécias, em 1811 a família Smith mudou-se para a cidade de Lebanon, em New Hampshire, onde a sua situação financeira viria a melhorar, o que permitiu que as crianças pudessem começar a estudar, em vez de cirandar à procura de quimeras. Mas em 1812 advieram tempos difíceis: uma epidemia local de tifo provocou seis mil óbitos, além de infectar muitas mais pessoas, entre as quais as crianças Smith. Embora ninguém tenha morrido, o jovem Joseph desenvolveu uma infecção na perna que os médicos inicialmente acharam que seria necessário amputar para evitar males maiores. Um novo tipo de cirurgia salvaria o membro do menino, mas condenou-o a usar muletas nos três anos seguinte e a ter de mancar depois. Em 1816, depois de três anos de magras colheitas, os Smith mudam-se para Palmyra, no Estado de Nova Iorque, uma pequena cidade ferozmente evangélica, junto ao lago Erie. O outro fundador, Young, em 1817 abandonava a família e tornava-se carpinteiro, por conta própria. Desenhava-se o destino dos “pais” dos Mórmons….

Vítor Teixeira

Universidade Católica Portuguesa

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *