Testemunhas de Jeová – III
As Testemunhas de Jeová têm a sua origem no Século XIX, mais especificamente em 1879, ano que consideram o da sua fundação efectiva. O seu fundador foi Charles Taze Russell (1852-1916), um próspero economista que tinha tempo livre para se dedicar ao estudo da Bíblia. Russell provinha de uma família presbiteriana de Pittsburgh, na Pensilvânia. Charles, recordam os seus biógrafos, era fascinado pela religião desde os seus tempos de escola e terá descoberto as crenças adventistas quando tinha dezassete anos.
Este fundador surgiu no seio do protestantismo americano e dentro de um vasto grupo de milenaristas que aguardavam a presença de Cristo e o fim do mundo naquela época, tal como George Storrs (1796-1879) ou Nelson Barbour (1824-1905), pastor adventista, para além do grupo de seguidores deste. Essa mesma espera durou de 1874 a 1914. Em 1875, Russell foi confrontado com uma ideia que ganhou algum impacto, que assentava na crença de que Cristo teria regressado invisivelmente à Terra em 1874, o que motivou fortemente a devotar sua vida à fé.
Em 1879, Russell, vendo as suas esperanças de redenção universal esvaírem-se, considerou nos seus estudos bíblicos que a presença de Cristo era, afinal, em boa verdade segundo ele, invisível. Russell descobriu mesmo que esse seu ponto de vista coincidia afinal com o já mencionado pastor adventista Nelson Barbour, através de leituras que fizera da revista Herald of the Morning, editada por Barbour entre 1878 e 1903. Mas se coincidências descobrira, não demoraram a estalar controvérsias entre ambos. Após uma série de desavenças em matéria doutrinária, Russell, afastado de Barbour, decidiu fundar, em 1879, a sua própria publicação, A Sentinela de Sião e Arauto da Presença de Cristo, actualmente conhecida como Torre de Vigia e Arauto da Presença de Cristo, ou Zion’s Watch Tower and Herald of Christ’s Presence(também designado como A Atalaia). A partir desta publicação, encetaria uma vasta série de livros e publicações periódicas, em defesa das suas posições e demarcando-se do Adventismo.
A FUNDAÇÃO DAS TESTEMUNHAS DE JEOVÁ
O movimento que espoletou começaria a ser organizado por Russell na década de 1880. Em 1881, co-fundou a Sociedade Torre de Vigia de Zion, com William Henry Conley (1840-1897) como presidente. Em 1884, a sociedade foi oficialmente registada, mas já com Russell como presidente, com a denominação mudada para “Watch Tower Bible and Tract Society”. Russell escreveu muitos artigos, livros, folhetos, panfletos e sermões, totalizando aproximadamente cinquenta mil páginas impressas. De 1886 a 1904, publicou uma série de estudos bíblicos organizados em seis volumes, originalmente intitulada “Millennial Dawn”, mais tarde renomeada “Studies in the Scriptures”, de que seriam impressas e distribuídas quase vinte milhões de cópias em todo o mundo em vários idiomas ao longo da sua vida. Mesmo um sétimo volume foi ainda encomendado pelo seu sucessor na presidência da sociedade, Joseph Rutherford (1867-1942), que viria a ser publicado em 1917, no ano seguinte à morte de Russell. A “Watch Tower Society” terminou a publicação dos escritos de Russell em 1927, embora os seus livros ainda hoje continuem a ser publicados por vários grupos independentes.
O grupo continuou a pregar, converter e publicar a sua revista e, com o aumento do número de membros, o movimento expandiu-se para os Estados vizinhos da Pensilvânia. Pouco depois, ganharia a denominação actual, de “Testemunhas de Jeová”. Antes ainda, era comum que os seguidores do movimento se autodenominassem como “Estudantes da Bíblia”.
Em 1890 foi publicado o primeiro livro de hinos, os “Poemas e Hinos do Amanhecer Milenar”, que incluía mais de trezentos hinos e vários poemas. O movimento continuava a crescer e a irradiar nos Estados Unidos, entrando nesta dinâmica no Século XX. Em 1909, o trabalho tornou-se internacional e a sede da sociedade foi transferida para a localização actual em Brooklyn, Nova Yorque.
Os sermões impressos eram distribuídos em jornais e, em 1913, estavam a ser impressos já em quatro idiomas em três mil títulos periódicos nos Estados Unidos, Canadá e Europa.
Em 1904, o desenvolvimento doutrinário de Russell estava praticamente completo e a sua influência na espiritualidade e sentimento religioso do movimento tornavam-se marcantes. Por exemplo, na sua sexta e última parte de “Estudos das Escrituras”, “A Nova Criação”, estabelecia que o Apocalipse 7 aludia a duas classes celestiais de cristãos – 144 mil que serviriam como sacerdócio real com Cristo e uma Grande Companhia, o outro grupo, que seria levada à perfeição num plano inferior, semelhante ao dos anjos, servindo os referidos 144 mil eleitos. Russell acreditava também que o ano de 1878 marcou a “queda da Babilónia”, quando Deus terá julgado que a Cristandade se tinha mostrado infiel. O pastor Russell, como era conhecido, acreditava que o “tempo do fim” referido em Daniel 12 tinha começado em 1799 e iria até 191; acreditava também que Cristo regressara à terra em 1874, começado o Seu reinado em 1878 e que a partir dessa data os ungidos teriam ressuscitado para o céu por ocasião da sua morte (dos ungidos). Russell ensinou, praticamente desde sempre, que o Armagedão começara também em 1874 e que viria a culminar na anarquia mundial e no derrubar de todos os governos políticos em 1914, numa espécie de fim dos “tempos dos gentios”. Todavia, em 1897 começou a ensinar que o Armagedão afinal só viria a começar em 1914. Nesta cosmovisão, numa autêntica profecia sionista, anunciou que a parte terrestre do Reino de Deus seria administrada a partir de Jerusalém, numa nação restabelecida como “Israel” e sob o controlo dos antigos profetas judeus ressuscitados. Com o tempo, toda a Humanidade ressuscitaria na Terra na ordem inversa da morte, ou seja, retrocedendo até à Criação. Assim, Adão e Eva seriam os últimos a ressuscitar. A Humanidade, nessa ressurreição, receberia a instrução e orientação necessárias para que todos se mostrassem obedientes a Deus a fim de alcançarem a vida eterna. No início da ressurreição, “antigos dignos”, incluindo Abraão, Isaac e Jacó, seriam “recuperados”, para ocupar posições de supervisores e representantes do governo celestial invisível que governaria a partir de Jerusalém. A Idade Milenar, que Russell, acreditava ter começado em 1874, chegaria a 2874 ou 2914 (d.C.), altura em que seria efectuada uma avaliação à Humanidade, para esta decidir em relação aos seus destinos finais, se para a vida ou morte eterna. Mas, entretanto, em 1916 Russell morreria, depois de uma série de controvérsias e polémicas….
Vítor Teixeira
Universidade Católica Portuguesa