Pensar a China com os olhos no resto da Ásia
No seguimento de todo o sucesso e interesse que tem existido em redor dos cursos ministrados pela Universidade de Aveiro (UA) em áreas relacionadas com a China e, num âmbito mais geral, com a Ásia, foi criado em 1998 um centro dedicado ao estudo científico de tudo o que tenha a ver com esta parte do mundo.
O Centro de Estudos Asiáticos (CEA) tem como foco principal «promover actividades que contribuam para a aquisição e disseminação de conhecimento sobre a Ásia numa diversidade de domínios, da História e Cultura à Geografia e Economia, bem como fomentar a interação entre a Universidade de Aveiro e as instituições de ensino superior dos países asiáticos», explicou a’O CLARIM o director do CEA, professor Carlos Rodrigues.
Com uma abrangência tão alargada foi criado com natureza multidisciplinar, abarcando diversos domínios de especialização científica, de onde se salientam vários domínios de investigação: Ambiente e Desenvolvimento, Ciência e Tecnologia, Demografia, Desenvolvimento Local e Regional, Economia, Ensino Superior, Governo, Políticas Públicas, Língua e Cultura, assim como Planeamento Territorial, Sistemas de Inovação e Turismo.
Sem que tenha existência física – não há um edifício-sede – o Centro tem vindo a desenvolver diversas actividades, num trabalho de extrema importância, tanto para a região como para o resto do País e as suas relações com os países asiáticos. Segundo Carlos Rodrigues, a sua «área de acção extravasa um pouco a própria Ásia», tendo já aparecido «estudos e investigações relacionadas com países do Médio Oriente». Ainda assim, acima de tudo, «o foco principal é a Ásia», como nos garantiu o seu director.
O responsável não negou que o facto da UA apostar no ensino de áreas ligadas à China, nomeadamente nos campos da Economia e dos Negócios, «influencia o âmbito das actividades do Centro», mas nada que não diminua o interesse pela investigação em contextos nacionais e regionais «historicamente ligados a Portugal, designadamente da Índia, de Timor-Leste e da Região Administrativa Especial de Macau».
Nos últimos anos, a estratégia para a revitalização do Centro de Estudos Asiáticos, que nasceu em conjunto com o Mestrado de Estudos Chineses, em 1998, tem passado pelo «aproveitamento da investigação realizada no âmbito das dissertações do Mestrado em Estudos Chineses», reforçando a capacidade de criação de conhecimento do CEA. Pretende-se também criar sinergias com outras unidades e centros de investigação nacionais e internacionais, e estabelecer e consolidar relações de cooperação com entidades científicas, como o Observatório da China. Esta estratégia passa igualmente pela criação e consolidação de laços de cooperação com o Instituto Confúcio da Universidade de Aveiro e pelo reforço da presença da instituição de Ensino Superior na East Asia Network, entidade que reúne alguns dos maiores especialistas europeus em assuntos asiáticos e que poderá contribuir para a necessária inserção do Centro de Estudos Asiáticos em redes internacionais de investigação.
Ao mesmo tempo há a intenção de participar no European Think Tank Network on China, um dos principais grupos de reflexão crítica sobre as relações entre a União Europeia e a China.
De acordo com Carlos Rodrigues, outra das apostas é «o desenvolvimento de actividades de cooperação com entidades, cujo interesse esteja focado nos mercados asiáticos, principalmente no mercado chinês, dado que o número de empresas que negoceiam com a China têm vindo a aumentar significativamente nos últimos anos».
Por último, o CEA tem organizado actividades com a Câmaras Municipais e associações culturais.
Como o trabalho gerado até ao momento deve ser partilhado com o grande público, o Centro tem recorrido aos Meios de Comunicação Social e à Internet, sem descurar a realização de seminários, workshops e exposições.
Outro dos objectivos também apontados por Carlos Rodrigues é a «produção de conhecimento que possa alimentar uma dinâmica de publicação relevante», designadamente a elaboração de artigos científicos, passíveis de serem publicados em revistas nacionais e internacionais, e a edição de livros.
Quanto à sempre melindrosa questão do financiamento, o CEA tem procurado identificar potenciais fontes. Para além das consideradas como «óbvias» (por exemplo, o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) têm-se intensificado os protocolos de cooperação entre a Universidade de Aveiro e instituições ligadas à Ásia, para o estreitamento de relações com o meio empresarial e com organizações de relevo. Na lista encontra-se a Associação Empresarial de Portugal, a Fundação Oriente e o Centro Científico e Cultural de Macau. Ao mesmo tempo tem sido feito um esforço para a recolha de informação sobre os instrumentos de apoio à cooperação, disponibilizados quer pela União Europeia quer por Governos de vários países asiáticos.
João Santos Gomes