A história de Nossa Senhora da China e a sua Festa em Macau

CATÓLICOS LOCAIS CELEBRAM MÃE MARIA NO PRIMEIRO DIA DO ANO NOVO LUNAR

A história de Nossa Senhora da China e a sua Festa em Macau

Quando fazemos uma busca no “Google” sobre “Nossa Senhora da China”, aparecem muitas imagens de estilos diferentes, o que faz com que nos confundamos. Para se ser exacto, Nossa Senhora da China é na verdade denominada “Nossa Senhora de Donglu (東閭聖母)”. No primeiro dia do Ano Novo Lunar, os católicos de Macau celebram Nossa Senhora da China. Aliás, a diocese de Macau é a única que o faz, pois noutros lugares do mundo esta Festa é celebrada no sábado anterior ao segundo Domingo do mês de Maio.

Nossa Senhora da China é o nome dado à aparição da Mãe Maria em Donglu, cidade da província de Hebei, na China.

Os missionários católicos chegaram à China no Século XIII. Após várias centenas de anos de missionação, a fé católica floresceu em diferentes partes do País. Donglu, por exemplo, era uma pequena aldeia em que vivia uma pequena comunidade de cristãos fundada pelos Padres Vicentinos.

No final da Dinastia Qing, as potências estrangeiras derrotaram a China em várias guerras e impuseram diversos tratados desiguais, permitindo aos países ocidentais entrar livremente no comércio e promover o Cristianismo. Com o apoio da Imperatriz viúva Cixi, os aldeões do Norte da China foram alimentando um forte descontentamento pela presença de estrangeiros e viraram-se contra os missionários cristãos. Deu-se a Revolta dos Boxers e a aldeia de Donglu foi atacada. Diz-se que um sacerdote chinês invocou constantemente a Mãe de Deus para salvar o seu povo. Apareceu então a Santíssima Virgem Maria, vestida de branco, e as balas dos rebeldes não conseguiram trespassar a aparição que protegia a igreja. Outras fontes relatam que os rebeldes foram postos em fuga por um “cavaleiro estranho”. Para os crentes, a aparição era Nossa Senhora e o referido cavaleiro, São Miguel, pelo que a ambos atribuíram a defesa da aldeia e a protecção dos aldeões. Como forma de agradecimento, os católicos de Donglu construíram uma igreja de estilo gótico no meio da aldeia, dedicada a Nossa Senhora. Esta é hoje uma das maiores e mais famosas igrejas do Norte da China.

À época, o pároco, padre Padre Giron, contratou uma senhora para pintar uma imagem de Nossa Senhora, com o Menino Jesus nos braços, que designou como “Nossa Senhora da China” (também conhecida por “Nossa Senhora de Donglu”). Depois, ofereceu-a ao altar da igreja.

Alguns anos mais tarde, outro pároco, padre P. Flament, de nacionalidade francesa, aperfeiçoou alguns detalhes da pintura. Para o efeito, convidou um amigo francês que logo se predispôs a pintar uma nova versão da imagem de Nossa Senhora de Donglu. O padre Flament solicitou apenas que a imagem cumprisse três requisitos: 1– vestida com trajes de imperatriz chinesa; 2– tivesse a aparência de uma senhora chinesa e ostentasse uma coroa, por forma a indicar que Nossa Senhora é a rainha do céu e da terra; e 3– aparecesse a abraçar, solenemente, o Menino. Quem hoje olha para a imagem identifica vestes idênticas às da Imperatriz Cixi e de vários imperadores. Nossa Senhora enverga o tradicional manto da Dinastia Qing, e o Menino Jesus calça sapatos de estilo chinês, com uma pomba no peito, simbolizando o Espírito Santo. Jesus está envolto por uma túnica vermelha, com faixa roxa, ao estilo dos imperadores. Bem visível estão os monogramas JHS (Jesus Hominum Salvator, Jesus Cristo Salvador) e HM (Ave Maria). No topo da imagem, uma frase em Chinês “Rainha de Donglu, Mãe de Deus, rogai por nós”. A pintura a óleo tem cerca de dois metros de altura e foi oficialmente concluída em 1908.

NOSSA SENHORA DA CHINA EM MACAU – (N.d.R.: Esta parte do texto é retirada do artigo “Festa de Nossa Senhora da China em Macau”, redigido por Magdalene Chan e traduzido para Inglês por Jasmin Yiu).

Após a Conferência Nacional dos Bispos, realizada em Xangai a 18 de Junho de 1924, o representante do Vaticano, arcebispo D. Celso Benigno Luigi Costantini, que havia presidido aos trabalhos, publicou uma oração intitulada “Consagre a China a Nossa Senhora”, tendo utilizado a imagem de Nossa Senhora de Donglu, como padrão da figura de Nossa Senhora da China. Desde essa altura, todos os anos na China, por ocasião da Festa de Nossa Senhora da Imaculada Conceição, era reservado um período para a consagração da China a Nossa Senhora.

Em 1941, a pedido do arcebispo D. Mario Zanin – um prelado italiano e diplomata papal, que exerceu as funções de Delegado Apostólico na China, entre 1933 e 1946 –, o Papa Pio XII anunciou a Festa de Nossa Senhora da China e classificou Donglu como destino oficial de peregrinação católica.

Outras fontes atribuem a decisão ao Papa Pio XI, no ano de 1937, mas a veracidade desta informação necessita de mais estudo e pesquisa.

Depois do Concílio Vaticano II (1962-1965) e da reforma do Calendário da Igreja, a conferência episcopal de Taiwan solicitou à Congregação para o Culto Divino, em 1973, que autorizasse a celebração da Festa de Nossa Senhora da China na véspera de Dia da Mãe, ou seja, no sábado anterior ao segundo Domingo de Maio – Taiwan e Hong Kong ainda mantêm esta prática.

E quanto a Macau? Em resultado da Revolução dos Cravos, a 25 de Abril de 1974, Portugal anunciou que desistiria de todas as suas colónias ultramarinas e que devolveria a administração de Macau à China. Depois de algumas conversações, por vontade da China ficou estipulado que Macau continuaria a ser administrado por Portugal até ao final de 1999.

Com o objectivo de se adaptar à nova realidade política e económica do território, a diocese de Macau procedeu a diversas mudanças, entre as quais a recalendarização dos feriados religiosos.

D. Arquimínio Rodrigues da Costa (bispo de Macau entre 1976 e 1988), reclassificou as Festas litúrgicas, passando-as de “feriados obrigatórios” para “feriados não obrigatórios”, ou transferindo-as para o Domingo (foi o caso da Festa da Ascensão de Jesus, Festa de Corpus Christi, Festa da Assunção da Bem-aventurada Virgem Maria ou da Festa de Todos os Santos). À época vigário-geral da Diocese, o ainda padre Domingos Lam propôs manter uma das Festas Marianas como obrigatória, pelo que os párocos decidiram manter obrigatória a “Festa da Imaculada Conceição”. Ao mesmo tempo, alguns padres propuseram que se celebrasse a Festa de Nossa Senhora da China no primeiro dia do Ano Novo Lunar, para que o ano novo pudesse ser confiado à protecção de Nossa Senhora, tal como se celebra a Festa da Mãe de Deus no primeiro dia de Janeiro. Com a plena concordância do Bispo e de todos os sacerdotes, foi enviada uma proposta à Congregação para o Culto Divino, solicitando a devida autorização. A Santa Sé viria a responder de forma positiva!

Jasmin Yiu

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