Nunca é tarde demais para O encontrar.
O arquitecto Francisco Vizeu Pinheiro e o antigo cônsul-geral de Portugal em Macau e Hong Kong, Carlos Frota, associaram-se aos esforços da pastoral em língua portuguesa da diocese de Macau para consolidar a Palavra de Deus junto dos que só agora descobrem Cristo ou dos que se afastaram dos caminhos da Igreja. Nos preceitos do catecumenato em língua portuguesa estão inscritas cerca de duas dezenas de pessoas, com diferentes níveis de vivência da fé católica.
Têm percursos de vida muito distintos, pertencem a diferentes gerações e apresentam ainda níveis desiguais de envolvimento com a vida da Igreja, mas partilham um desígnio comum: o do fortalecimento da fé, movido por um conhecimento mais enraizado da Palavra de Deus.
Para além de garantir formação às crianças, a pastoral em língua portuguesa da diocese de Macau faculta também desde há dois anos cursos de catequese para adultos. São mais de duas dezenas os novos e velhos católicos que responderam afirmativamente à chamada da Igreja, numa iniciativa que propicia uma viagem de descoberta da mensagem dos Evangelhos e da Doutrina da Igreja.
Coordenados pelo padre Daniel Ribeiro, vigário-paroquial da Sé Catedral, os preceitos do catecumenato propostos pela pastoral materializam-se todos os Domingos e reúnem no principal templo católico do território discípulos com expectativas muito distintas. «São pessoas que, por um motivo ou por outro, não foram baptizadas, não receberam a Primeira Comunhão e não foram crismadas», explicou o padre Daniel Ribeiro. «Estas pessoas não se sentiam à vontade de participar na catequese com as crianças. Muitas chegam à conclusão que perderam o seu tempo, que deixaram a fé para trás e querem ser crismadas, mas não se querem submeter ao sacramento da Confirmação ao mesmo tempo que as crianças. A Diocese propôs estas aulas de catequese para adultos e a experiência tem sido muito positiva», acrescentou o vigário-geral da Sé Catedral.
O sacerdote sugeriu ao Paço Episcopal um programa de catecumenato há pouco mais de dois anos, depois de ter lançado uma iniciativa-piloto na igreja de Nossa Senhora do Carmo, na Taipa. Para o efeito, convidou o arquitecto Francisco Vizeu Pinheiro e o antigo cônsul-geral de Portugal em Macau e Hong Kong, Carlos Frota, com o intuito de o ajudarem a administrar as aulas – missão a que ambos se associaram quase sem pensar duas vezes.
Também docente na Universidade de São José, Vizeu Pinheiro reconhece que a tarefa de transmitir a Palavra de Deus a adultos é exigente, mas também gratificante. «Há pessoas que frequentam a catequese para serem baptizadas, outras para fazerem o Crisma e outras há ainda que se juntam a nós só para saberem um pouco mais sobre a doutrina cristã», sublinhou o arquitecto. «O grande desafio é estar aberto a todos os tipos de dúvidas e de perguntas, e realmente nestas aulas são colocados todos os tipos de questões: como é que a pessoa pode ser santo, que processo pode ser seguido, no que consiste a santificação ou, por exemplo, a encarnação. Há dúvidas que nos são colocadas que são muito interessantes», referiu.
A enorme variedade de dúvidas e de questões colocadas pelos catecúmenos exigem aos catequistas um domínio sólido da doutrina cristã e obrigam Vizeu Pinheiro a redescobrir as raízes da sua formação enquanto católico. O arquitecto procura preparar-se o melhor possível, no sentido de dar resposta às interrogações que lhe são colocadas. «A minha preocupação passa, um tanto ou quanto, por rever tudo o que estudei antes, tanto no que diz respeito a Teologia, como a Filosofia», admitiu. «Continuo a ensinar e a estudar, sendo um processo que nunca mais acaba: quanto mais estudamos, mais coisas vamos redescobrindo. Há um aspecto central de investigação que constitui para mim o desafio principal. Considero que tenho que estar sempre actualizado de forma a poder responder às minhas dúvidas e às dúvidas com que sou confrontado pelas outras pessoas».
Dúvidas há, no entanto, a que nunca é fácil dar resposta. Numa das últimas reuniões, a eterna questão da dicotomia entre o bem e o mal voltou a dar pano para mangas. «Houve uma pergunta que me foi colocada numa das últimas aulas a que não é fácil dar resposta: o problema do bem e do mal. Se Deus é bom porque é que existe o mal», exemplificou Vizeu Pinheiro. «A pergunta é importante, mas é algo a que cada um deve responder por si mesmo. O problema do mal não se resume a guerras, a doenças e à fome. É um problema intrínseco às pessoas. O problema do bem e do mal, ao fim e ao cabo, é que a escolha não depende de Deus. É uma escolha pessoal, que depende da nossa liberdade e do nosso arbítrio», rematou.
Para Carlos Frota, o maior dos desafios do catecumenato é o de procurar transmitir a ideia de que a doutrina católica pode e deve ser um instrumento para uma vivência da fé ancorada no quotidiano. No seu entender, a procura de uma maior espiritualidade acaba por ser uma resposta óbvia face ao actual desconcerto do mundo: «Ensinar a doutrina cristã a adultos é convidar cada cristão a inserir a sua fé nas variadíssimas dimensões da sua vida concreta: na sua condição de pai ou de mãe, de estudante ou de profissional, de cidadão e de consumidor, mas também – e cada vez mais – de amigo do Ambiente», explicou o diplomata. «Contrariamente ao que sucedia no passado, onde a ordem civilizacional estava subordinada a uma religião e a uma ética, as bases da nossa civilização estão alicerçadas na economia, no mercado e nas suas exigências. Isso deixa um enorme vazio em pessoas que sabem que o Ser Humano é muito mais do que isso», explicou.
O desafio que lhe foi colocado pela diocese de Macau constitui, antes de mais, uma oportunidade para viver na partilha e uma forma de exponenciar ao máximo a sua condição de cristão. «É uma oportunidade mais para ser aquilo que sempre fui, um cristão. Agora com mais tempo para aprender com os outros a viver este tempo tão cheio de perplexidades», assumiu Carlos Frota, também ele antigo docente na Universidade de São José.
A Francisco Vizeu Pinheiro o catecumenato propiciou sobretudo a oportunidade de agir e de contrariar a inacção que muita vezes pauta a vivência que os católicos têm da sua fé. O arquitecto mostra-se grato por poder contribuir para uma maior aproximação a Deus de quem decidiu fortalecer a sua fé. «É um dos actos de caridade do Espírito-Santo: ajudar a iluminar aqueles que precisam. Às vezes, mais do que dar de comer a quem tem fome, importa dar-lhes esse alimento espiritual, algo que possa fomentar a sua vida intelectual e a sua vida espiritual», defendeu. «Para mim é um desafio, mas é um bom desafio porque ao fim e ao cabo estou a dar algo à sociedade», concluiu Vizeu Pinheiro.
Marco Carvalho