A (momentânea?) limpeza do ar que respiramos

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A (momentânea?) limpeza do ar que respiramos

O céu está mais limpo nas cidades, os aviões desapareceram e estão a ser substituídos pelo chilrear de pássaros que até há bem pouco tempo se afastavam do buliço. Os níveis da poluição do ar têm baixado para mais de metade em alguns países. Em locais normalmente cobertas por densas nuvens de poluição como Beirute, no Líbano, há relatos com imagens de pelicanos a sobrevoar a cidade. Em praias vazias (leia-se, sem turistas e sem lixo) na Tailândia e na Florida bandos de tartarugas marinhas raras foram avistadas vários anos depois de terem desaparecido dali. Os efeitos mediatos da quarentena na atmosfera podem não ser para ficar, mas não faltam vozes a pedir que este seja o momento para repensar os efeitos do Homem no Meio Ambiente.

A
s medidas de quarentena – ou isolamento – implementadas por vários países para impedir a propagação do Covid-19 levaram a uma diminuição repentina das actividades económicas e da circulação de pessoas, incluindo uma queda no transporte rodoviário em muitas cidades, com consequências imediatas na poluição e nas emissões de gases com efeito de estufa.

Esta redução das actividades e da mobilidade por causa da pandemia diminuiu de forma drástica as emissões de dióxido de azoto em Portugal, que em Lisboa chegaram aos oitenta por cento e nalguns locais do Porto aos sessenta por cento.


De acordo com uma nota do Ministério da Ciência, Tecnologia e do Ensino Superior de início de Abril, divulgada pela agência LUSA, as imagens obtidas pelos peritos do Laboratório de Observação da Terra do Centro Internacional de Investigação do Atlântico (Air Centre), entre os dias 10 e 28 de Março, revelam uma redução drástica nos níveis de dióxido de azoto, gás que resulta da queima de combustíveis fósseis, nomeadamente da combustão dos motores dos carros e da indústria.

A Agência Portuguesa do Ambiente (APA) aponta a poluição do ar como causa de cerca de seis mil mortes por ano, principalmente nas cidades do País.

De acordo com as mais recentes medições de um dos satélites europeus, a Agência Espacial Europeia anunciou em Abril que as concentrações no ar de dióxido de azoto – um dos principais gases poluentes na atmosfera e que provoca problemas respiratórios – entre 13 de Março e 13 de Abril baixaram 54 por cento em Paris, por comparação com o mesmo período do ano passado. Em Madrid, a descida foi de 48 por cento, enquanto o ar em Roma tinha menos 49 por cento de dióxido de azoto. Em Milão, a descida atingiu 47 por cento.

MENOS MORTES POR POLUIÇÃO

Na China, um dos maiores poluentes do mundo e onde morrem todos os anos milhares de pessoas por causas relacionadas com a poluição, estima-se que a sua redução drástica já tenha salvado pelo menos 77 mil pessoas, vinte vezes o número de pessoas que morreram com vírus Covid-19.

Um cientista e docente da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, Marshall Burke, usou dados de sensores do Governo dos EUA para comparar os níveis de PM2,5 – partículas finas poluentes, invisíveis, e inaláveis que medem menos de 2,5 micrómetros de diâmetro e são consideradas a principal causa de morte por poluição do ar – em quatro grandes cidades chinesas. O professor considerou também a queda nos níveis de poluição durante a quarentena chinesa e calculou os seus efeitos no número de mortes em toda a China.

“Calculo que estes dois meses [Março e Abril] de reduções das PM2,5 tenham salvado a vida de quatro mil crianças com menos de cinco anos e de 73 mil adultos acima de setenta anos na China. Usando estimativas ainda mais conservadoras, 
que tenham sido salvas mil e 400 vidas em crianças abaixo dos cinco anos e cerca de 51 mil em adultos acima dos setenta anos. Mesmo com esta perspectiva mais conservadora, o número de vidas salvas devido à redução da poluição é aproximadamente vinte vezes superior ao número de mortes por causa do vírus, com base nas estimativas de 8 de Março que correspondem a três e 100 mortes na China”, escreve o investigador no G-Feed, um blogue escrito por sete cientistas de várias instituições norte-americanas.

PODEM AS RENOVÁVEIS AJUDAR NA RECUPERAÇÃO ECONÓMICA?

As energias renováveis podem impulsionar a recuperação económica do Covid-19, estimulando ganhos globais do PIB na ordem dos noventa triliões de euros até 2050, de acordo com um relatório da Agência Internacional de Energia Renovável.

O director geral da agência, Francesco La Camera, disse ao jornal The Guardianque a crise global desencadeada pelo surto de coronavírus expôs «as profundas vulnerabilidades do sistema actual» e instou os Governos a investir em energia renovável para impulsionar o crescimento económico e ajudar a cumprir as metas climáticas.

O apelo a uma recuperação económica verde da crise do coronavírus já teve ecos em Espanha, onde Ignacio Galán, presidente e CEO da gigante espanhola de energias renováveis lberdrola, disse que a empresa vai continuar a investir em energia renovável, bem como formas de integrar outras energias limpas com a electricidade.

«Uma recuperação verde é essencial à medida que emergimos da crise do Covid-19. O mundo beneficiará de formas económica, ambiental e social, ao concentrar-se nas energias limpas», afirmou. «Alinhar estímulos económicos e pacotes de políticas com metas climáticas é crucial para uma economia viável e saudável a longo prazo».

LETÍCIA AMORIM (*)

In Boa Nova – atualidade missionária

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