O que é a Fórmula E?
Esta tem sido a pergunta que mais me têm colocado nos últimos dias, o que não admira já que estamos a menos de duas semanas do início do 1º Campeonato FIA de Fórmula E.
De momento, é um campeonato monomarca, com carros totalmente iguais para todos os pilotos e equipas inscritos. Os carros foram desenhados e construídos por um conjunto de entidades europeias que incluiu a McLaren Electronic Systems, a Renault Sport Technologies, a Williams Advanced Technology, e a Michelin Pneumatiques. A soma final de todos estes componentes foi montada num chassis estudado e construído pela Dallara Racing e o conjunto foi baptizado como Spark-Renault SRT-01E. Sendo um carro destinado a um Campeonato da FIA, os protótipos foram sujeito a todos os testes mandatórios para os carros de Fórmula 1 actuais.
Há 40 carros que foram entregues a dez equipas, cada uma com dois pilotos por corrida, podendo no entanto inscrever mais dois como reservas. As Ecorridas, que deverão ter uma duração de 45 minutos, poderão parecer estranhas no início, pois como cada piloto dispõe de dois carros, e será praticamente impossível recarregar as baterias em pouco tempo, cada piloto fará três “turnos” por corrida.
Depois de efectuada a largada, de maneira normal, com os 20 carros parados nos lugares conseguidos nas duas diferentes provas de qualificação, os concorrentes levarão os seus carros até onde eles puderem ir, isto é, até onde a carga da bateria do primeiro carro chegar. Espera-se que será nas boxes… O piloto troca de carro e voltar a sair para a pista, repetindo-se o espectáculo mais um vez.
Não há troca de pneus, porque de cada vez que o carro parar para ser substituído o carro que o piloto vai utilizar estará em estado de “novo”, incluindo baterias, pneus e acertos aerodinâmicos.
A expectativa é muito grande. Durante o último mês a organização tem praticado largadas, mudanças de carro, com todos os pilotos e equipas envolvidas. No passado dia 17 deste mês foi efectuada pela primeira vez uma corrida de teste, com todas as equipas, pilotos, field-marshals, cronometragens, segurança, etc., exactamente como se como se fosse uma corrida “a sério”. Aparentemente tudo correu bem, se bem que os delegados da FIA tenham dito que há pequenas coisas a melhorar e outras a rever. O tempo é curto, mas tudo estará a postos em Beijing no próximo fim de semana.
A parte do espectáculo não deverá defraudar os milhares de pessoas que já mostraram interesse nesta nova fórmula de competição automóvel. O circuito de Donnington Park, no Reino Unido, esteve sempre repleto de espectadores, curiosos e jornalistas, durante todas as acções de treino e afinação da nova categoria de desporto motorizado. Mas os “puristas” acham que ainda é cedo de mais para se avançar com uma tecnologia 100% eléctrica no desporto automóvel. Não se conseguiu perceber se estes “receios” eram simplesmente o fruto de sentimento sincero de que ainda é mesmo muito cedo, ou se um sentimento de medo de um futuro que não é bem aceite por quem prefere o “status quo” actual.
Haverá problemas de adaptação, que estamos certos irão desaparecendo aos poucos como desapareceram as queixas sobre o som dos carros de Fórmula 1 este ano. O som dos carros desta novel fórmula será um misto do ruído produzidos pelos pneus em contacto com o solo, o ruído do vento nos apêndices aerodinâmicos, e um “zuuuiiiiinnn” muito futurista e próprio de um bom filme de ficção, produzido pelo motor 100% eléctrico em alta rotação…
Os carros têm uma velocidade máxima de 225Kph, enquanto que os Fórmula 1 actuais andam muito perto dos 300. Por outro lado, o facto de que os carros não perdem peso ao longo da corrida à medida que a energia se gasta, faz com que a gestão dos pneus deixe de ser uma preocupação para o piloto, mais a mais mudando completamente de carro, duas vezes durante a duração de cada corrida.
O campeonato começa no próximo sábado, dia 13, em Beijing. O calendário terá mais nove provas, assim distribuídas: 2014 – Malásia, Putrajaya, 18 de Outubro; Brasil, Rio de Janeiro, 15 de Novembro; Uruguai, Punta Del Este, 13 de Dezembro. 2015 – Argentina, Buenos Aires, 10 de Janeiro; Estados Unidos da América, Miami, 14 de Março; Mónaco, Monte Carlo, 9 de Maio; Alemanha, Berlim, 30 de Maio; e Reino Unido, Londres, 27 de Junho.
Pessoalmente, estamos em dívida sobre muitas coisas nesta nova Fórmula, que irá, não para já mas a curto prazo, entrar em rota de colisão com a Fórmula 1.
Uma delas é o facto de ser uma categoria monomarca, o que afasta muitos espectadores. Durante os últimos 40 anos viram-se aparecer, e desaparecer, inúmeras fórmulas monomarcas, algumas ainda muito recentemente. Todas se revelaram efémeras, apesar da grande espectacularidade de muitas delas, que contavam ainda com o factor ruído do motor, que é apesar de tudo uma das coisas que os fãs gostam e querem ouvir.
A fórmula E poderá evoluir para um campeonato aberto, com vários chassis de fabrico diferente, ou mesmo apenas com um fabricante de chassis, que é o caso da Fórmula 3 actual, onde, por coincidência, ou não, o único chassis competitivo é o da Dallara, a construtora dos chassis da Fórmula E. Em aberto terá de estar a possibilidade de utilizar vários motores diferentes e em alguns campeonatos a escolha livre dos pneus.
Gostávamos que a Fórmula E vingasse, crescesse e se tornasse uma categoria respeitada, pois pensamos que a solução, a curto prazo para o transporte automóvel terrestre e para todo desporto a ele associado, passará obrigatoriamente por motorizações que não terão nada a ver com combustíveis fósseis e não renováveis.
Manuel dos Santos