Cimeira sobre protecção de menores arrancou ontem no Vaticano.
O bispo de Macau, D. Stephen Lee, viajou na passada quarta-feira para Roma, onde participa desde ontem num encontro sobre a protecção de menores. A iniciativa foi convocada pelo Papa Francisco para discutir os alegados abusos cometidos por membros da hierarquia da Igreja.
A iniciativa reúne no Vaticano até ao próximo Domingo os líderes das conferências episcopais de todo o mundo e é vista como uma boa oportunidade para que a Cúria Romana envie uma mensagem inequívoca de que os casos de abuso são um desafio que diz respeito à Igreja como um todo.
A dois dias da cimeira, a Santa Sé publicou um inédito guia em que define as prioridades para o encontro que ontem teve início. O documento sublinha a importância de se ouvir todos quantos foram abusados sexualmente por clérigos, considerando que “entender a sua dor é o ponto de partida essencial para qualquer compromisso”.
Para o Vaticano, os testemunhos “são uma parte importante do encontro”. Em Dezembro, numa carta enviada aos responsáveis pelas conferências episcopais de todo o mundo, o Papa Francisco pediu que algumas das vítimas fossem ouvidas, com o propósito de “se perceber a gravidade do problema” nas diferentes jurisdições da Igreja.
A iniciativa promovida pelo Sumo Pontífice arrancou com a divulgação de um vídeo que apresenta o depoimento de cinco vítimas. Ao início da noite de ontem, num dos momentos de oração, uma outra vítima apresentou o seu depoimento, o que se repete hoje e amanhã com testemunhos diferentes: “Durante a reunião, os presentes serão instados a ouvir as vítimas de maneira habitual e permanente”, adianta o Vaticano, citado pela Agência ECCLESIA.
Durante a cimeira, em que participam 190 bispos e cardeais, não vai ser discutido um documento final. A conclusão dos trabalhos deverá ser da responsabilidade do Papa Francisco, que vai pronunciar, após a eucaristia dominical, um discurso em que serão abordados os principais aspectos discutidos durante os quatro dias. A intervenção tem transmissão em directo na Internet, a exemplo do que acontece com os principais momentos do “sínodo”.
A discussão não se deve ficar, de resto, pela cimeira. A Santa Sé incumbiu a comissão organizadora do encontro de se reunir com os responsáveis pelos “ministérios” do Vaticano com competência directa nos temas abordados, com o propósito de dar continuidade ao convite à reflexão feito pelo Papa Francisco: “O objectivo destas reuniões passa por identificar as propostas apresentadas durante a cimeira e as tarefas que devem ser realizadas, para que estas propostas possam ser colocadas em prática sem demora”, lê-se num comunicado divulgado pelo Vaticano.
Marco Carvalho