Rohingya, il Vaticano è con voi.
D. Gervas Rozario, bispo da diocese de Rajshahi, em Daca, disse a’O CLARIM que a visita do Papa Francisco ao Bangladesh, após deslocação ao Myanmar, ficou marcada pelo entusiasmo dos católicos locais e pela abertura de falar da crise que afecta a minoria Rohingya.
«Para o Bangladesh a visita pastoral e de Estado do Santo Padre foi realmente um grande acontecimento. Foi como uma alegre festa para todos nós. Era um acontecimento há muito aguardado. Após a visita do Papa João Paulo II, em 1986, [a da semana passada] deu-nos o sentimento de solidariedade e de apoio da Igreja Universal à Igreja local», referiu D. Gervas Rozario, a partir de Daca.
Embora reconhecendo que a Igreja Católica é de pequena dimensão no seu país, o prelado frisou que esta visita papal vai dar um impulso ao espírito da Igreja e ao de cada católico individualmente. «É algo que nos encorajou. É um reconhecimento e apreço pela periferia, da qual o nosso Santo Padre fala com frequência. A maior parte de nós não pode ir a Roma ver o Santo Padre e ter a sua bênção, mas aqui no Bangladesh ele esteve muito perto de todos nós», notou.
O fluxo de refugiados Rohingya para o Bangladesh é uma grande crise para o País, considerou D. Gervas Rozario, sendo algo que atraiu muita a atenção e interesse internacional. «Os militares do Myanmar perseguiram e expulsaram os muçulmanos Rohingya, dizendo que são bengalis. Todavia, são bengalis que vivem há séculos no Arracão [Estado de Rakhine, no Myanmar]. São pessoas dessa terra. Nenhum Estado pode tornar qualquer comunidade étnica apátrida, mas os militares do Myanmar estão a fazer isso à força, o que é muito desumano», sustentou.
Segundo ele, o Bangladesh deu-lhes refúgio, mais por razões humanitárias. «O Bangladesh quer que esses Rohingya sejam reabilitados nas suas casas ancestrais no Estado de Rakhine, com direito a cidadania. O Governo das autoridades do Myanmar pediu ao Santo Padre para não usar a palavra Rohingya, o que significa que nega os direitos dessas pessoas», vincou D. Gervas Rozario, acrescentando que «o Papa não pronunciou o nome Rohingya no Myanmar como estratégia para continuar o diálogo».
No país vizinho, o Santo Padre falou sobre os direitos de todas as comunidades étnicas e da necessidade de coexistência pacífica para o desenvolvimento do Myanmar, enquanto no Bangladesh era esperado que falasse do grupo étnico de minoria muçulmana, especialmente quando um grupo de refugiados Rohingya lhe foi apresentado. «Mostrou a sua empatia por eles e deu-lhes apoio. Pediu à comunidade internacional que fizesse algo para resolver a crise», realçou.
No seu ponto de vista, «os Rohingya também são seres humanos», razão pela qual «deveriam ter direito à cidadania de um país». Referindo que «é o direito fundamental que Deus lhes concedeu», salientou que «não podem tornar-se apátridas por qualquer autoridade humana», ao recordar que «foram perseguidos e expulsos à força das suas casas».
«À imagem de todos os outros, também eu condeno isso. Vi as condições desumanas e as situações precárias a que estão votados no presente. São pessoas que devem ser repatriadas o mais rapidamente possível. O Santo Padre também orou por elas, para que voltem para as suas casas no Estado de Rakhine, no Myanmar», concluiu.
PEDRO DANIEL OLIVEIRA
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