Minority Report.
O irmão dominicano de nacionalidade birmanesa Francis Nge Nge disse a’O CLARIM que a visita do Papa Francisco ao Myanmar serve como bálsamo para a comunidade católica, em minoria no seu país.
«Do ponto de vista religioso é algo muito bom que tenha visitado o meu país. Como é sabido, os católicos estão em minoria, razão pela qual se sentem de alguma forma inferiorizados em relação à maioria budista. A visita é um grande encorajamento para eles [católicos]. Tal como o Papa disse: a visita serve como encorajamento e também como fortalecimento da fé. Pelo menos, podem ver o líder da Igreja, o que é bom», referiu o irmão dominicano, a frequentar o Seminário de São José em Macau.
A visita do Sumo Pontífice coincidiu com a turbulência que nos últimos tempos tem atingido a minoria muçulmana rohingya. «É um assunto bastante sensível. A expressão [rohingya] é de alguma forma proibida de usar [no Myanmar]. Não podemos usar a palavra rohingya em termos políticos, pois já foi declarado que não existe esse grupo. A outra expressão que temos é bengali, pois foram aceites como pessoas do Bangladesh. É um assunto político bastante delicado no meu país. É também muito complicado haver uma solução, pois há tensão entre este e outros grupos étnicos», explicou Francis Nge Nge.
Neste âmbito, sublinhou que os rohingya «não têm qualquer passaporte» e «são oficialmente pessoas sem nada». Realçando que a política não é o seu forte, o irmão dominicano frisou que a situação tornou-se «num problema entre o Myanmar e o Bangladesh».
Embora a deslocação do Papa Francisco ao continente asiático seja apenas aos dois países vizinhos – chegou no passado Domingo ao Myanmar, tendo ontem viajado para o Bangladesh, onde permanecerá até amanhã – o seminarista dominicano disse estar convicto que o Sumo Pontífice não deverá ter um papel importante a desempenhar na resolução do problema, porque a sua intervenção pode causar problemas na minoritária comunidade católica do Myanmar.
«Julgo que o Papa deve estar a ser bastante cuidadoso nesta visita, que surgiu do nada, pois não foi planeada com bastante antecedência, mas sim em coisa de vários meses», sustentou, em jeito de conclusão.
Francis Nge Nge juntou-se à Ordem Dominicana em 2012 e está a completar o último ano dos seus estudos académicos no Seminário de São José.
PEDRO DANIEL OLIVEIRA
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