O “pai dos pobres”
O auditório do Paço Episcopal acolhe hoje, ao final da tarde, o lançamento de dois livros em língua chinesa sobre a vida e a obra de duas das mais relevantes figuras da vida da Igreja Católica em Macau na segunda metade do século XX, o sacerdote, músico e pedagogo Áureo Castro e o missionário jesuíta Luis Ruiz Suarez.
O lançamento das duas obras é o resultado de um esforço conjunto do Instituto Internacional de Macau e da diocese do território, em estreita colaboração com a Associação dos Antigos Alunos do Seminário de São José.
As obras – integram a colecção “Missionários em Macau” – têm a assinatura do jornalista e investigador João Guedes e do professor Ieong Chi Chau, antigo vice-presidente da direcção da Associação de Educação de Macau.
Se o volume sobre o padre Áureo Castro não é mais do que a tradução para Chinês da obra homónima escrita por João Guedes e publicada em 2016, a biografia de Luis Ruiz – a primeira alguma vez escrita sobre o missionário espanhol, falecido em Julho de 2011 – é uma obra inédita, cuja tradução para Português está actualmente em curso.
Pioneiro no acolhimento aos refugiados que fugiram da China na sequência da guerra civil entre as forças do Kuomintang e do Partido Comunista Chinês, fundador da Cáritas Macau e mentor dos Serviços Sociais da Casa Ricci, Luiz Ruiz Suarez ganhou ainda em vida o cognome de “pai dos pobres”. Para o sacerdote Fernando Azpiroz, discípulo do jesuíta asturiano e seu sucessor à frente dos destinos da Casa Ricci, o livro agora lançado constitui uma merecida homenagem a quem sempre carregou a China no coração: «O seu coração estava na China. Ele costumava ir à China com o propósito de tomar o pulso a diferentes realidades, nomeadamente para se familiarizar com quem mais necessitava de apoio», explicou o jesuíta argentino.
«Quando chegou a Macau, o padre Ruiz era também – e até certa medida – um refugiado. Estava doente e vivia na casa onde agora temos as nossas instalações. Durante o período de convalescença, apercebeu-se que havia milhares de pessoas que, tal como ele, se tinham visto forçadas a fugir da China. A grande diferença é que ele tinha uma comunidade que o apoiava e tinha o que comer», acrescentou o padre Fernando Azpiroz.
Confrontado com as necessidades do enorme fluxo de almas que acorria ao território no início da década de 50, “o pai dos pobres” tomou uma decisão que acabaria por mudar para sempre a forma como o serviço social era encarado em Macau: «Enquanto estava em recuperação, decidiu abrir as portas da Casa Ricci aos outros refugiados que fugiam da guerra civil e começou pelo mais básico: a distribuir arroz e farinha», contou o sacerdote.
Quase quatro décadas depois de ter sido forçado a abandonar a China, Luis Ruiz regressou ao Continente e assumiu a missão de cuidar dos “mais pobres entre os pobres”, as vítimas de lepra e do HIV/SIDA. Mais de três décadas depois, os Serviços Sociais da Casa Ricci ajudam directamente cerca de quatro mil pessoas em quase duas dezenas de centros espalhados um pouco por toda a China.
A cerimónia de lançamento das duas obras, com início agendado para as 18 horas e 30, vai ser abrilhantada pela actuação do Coro de São Tomás, que se propõe interpretar algumas das mais conhecidas composições do padre Áureo Castro, numa homenagem singela ao compositor, músico e professor açoriano, falecido em 1993.
Marco Carvalho