ASSOCIAÇÃO WARAYNON JÁ DISTRIBUIU CENTENAS DE CABAZES ALIMENTARES A NÃO-RESIDENTES

ASSOCIAÇÃO WARAYNON JÁ DISTRIBUIU CENTENAS DE CABAZES ALIMENTARES A NÃO-RESIDENTES

Há mais de um ano a combater a pobreza

Desde meados de Julho, a Associação Waraynon em Macau já distribuiu cerca de quinhentos cabazes alimentares por trabalhadores não-residentes em situação de carência. Só no último fim-de-semana, a organização leiga católica fez chegar ajuda a mais de cem pessoas e está tudo a postos para voltar a fazê-lo já amanhã e Domingo.

A pior fase do mais grave surto de Covid-19 que afectou Macau parece fazer parte do passado, mas para centenas de trabalhadores não-residentes a chamada “normalização” não trouxe garantias imediatas de sobrevivência. Atenta às dificuldades que enfrentam dezenas de migrantes, a Associação Waraynon distribuiu, no passado fim-de-semana, mais de cem cabazes alimentares.

Fundada há pouco mais de um ano, a organização leiga católica agrupa, sobretudo, fiéis de nacionalidade filipina.

Reforçada pelo apoio de alguns círculos da Igreja Católica no território, a associação teve ao longo das últimas semanas a sua primeira grande prova de fogo, depois de confrontada com a situação de grave carência alimentar em que caíram centenas de trabalhadores não-residentes devido à pandemia de Covid-19. «Ainda temos cabazes alimentares para distribuir no [este]fim-de-semana. Enquanto tivermos algo para partilhar, vamos continuar a fazê-lo», assegurou Janette Waray, em declarações a’O CLARIM. «Este mês é para muitos trabalhadores o período mais crítico, porque muitos só agora voltaram a trabalhar depois de terem estado durante mais de um mês sem auferir um vencimento. Acredito que sim, que a situação só pode melhorar a partir daqui, mas no último fim-de-semana ainda distribuímos 103 cabazes alimentares», acrescentou a dirigente da Associação Waraynon.

O confinamento parcial decretado pelas autoridades com o intuito de travar a disseminação do SARS-CoV2 deixou centenas de migrantes temporariamente sem emprego e sem rendimentos. Imagens de vídeo amador recolhidas em meados de Julho à porta de um restaurante tornaram-se símbolo do desespero em que mergulharam centenas de trabalhadores não-residentes e levaram a sociedade civil a mobilizar-se. Ao longo de quatro semanas, a Associação Waraynon distribuiu mais de quinhentos cabazes alimentares, mas a ajuda dada pelo organismo a quem se encontra em situação de risco não se resume a alimentos e bens de primeira necessidade. «Toda a ajuda que pudermos oferecer, oferecemos. Distribuímos cabazes alimentares e alguns bens de primeira necessidade, mas também pequenas quantidades de dinheiro pelos nossos membros que estiveram todo este tempo sem trabalhar e sem receber. Para além disso, também fizemos chegar algum dinheiro a alguns que adoeceram ou que têm problemas de saúde e que não dispunham de liquidez suficiente. Mas, acima de tudo, assumimos o compromisso de divulgar a Boa Nova. Durante todo este tempo, as pessoas ficaram muito focadas em notícias negativas, o que só contribuiu para piorar ainda mais a situação», disse Janette Waray. «Esta colaboração só se tornou possível graças ao apoio de uma série de dadores generosos. Sem eles, não teria sido possível esta partilha. Estamos também agradecidos a todos os nossos membros que facilitaram o processo de distribuição dos cabazes alimentares. Eu limito-me a gerir esta equipa. É uma grande responsabilidade, mas seria uma responsabilidade inconsequente sem a ajuda deles», sublinhou.

Apesar das inúmeras dificuldades com que muitos trabalhadores não-residentes se depararam ao longo dos últimos dois meses, a dirigente considera que falar de fome ou de inacção entre a população migrante é um manifesto exagero. No entanto, reconhece que há trabalhadores em situação financeira grave, incapazes de cumprir os compromissos que assumiram. «Devo dizer que a situação é bastante grave em termos financeiros, porque todos estes trabalhadores estão dependentes do seu trabalho. Dependem do salário para pagar a renda da casa, para comprar bens de primeira necessidade e, principalmente, para suprir as obrigações financeiras que temos para com as nossas famílias, nos nossos países», explicou. Quanto à questão da existência de fome, esclareceu: «No que diz respeito à questão de haver fome, de facto alguns trabalhadores começaram a reduzir a quantidade de alimentos que habitualmente comiam. Isto acontece porque chegam a um ponto em que não têm estabilidade suficiente para se sustentarem a eles próprios. Um grande número deixou de trabalhar e de auferir rendimentos. Falar, ainda assim, em fome é um manifesto exagero».

Fundada a 4 de Abril de 2021, em plena pandemia, a Associação Waraynon foi constituída com o objectivo de assegurar apoio material e espiritual aos seus associados e à comunidade em geral. Antes ainda de usar a sua rede de associados e de contactos para ajudar os trabalhadores não-residentes em situação de carência alimentar, a associação mobilizou-se ao longo do último ano no sentido de ajudar nos processos de repatriamento. «Decidimos fortalecer a nossa relação de amizade no sentido de construir uma relação mais profunda e com propósito de unir e de ajudar todos quantos necessitam de ajuda. Foi assim que a associação se constituiu. Desde o início que procuramos dar alguma assistência financeira a quem mostre o desejo de ser repatriado e fazemos chegar ajuda médica aos nossos membros. Também assumimos o compromisso de ajudar a comunidade, de uma forma geral, dentro das nossas possibilidades», salientou Janette Waray. «Este ano, por ocasião da celebração do nosso primeiro aniversário, organizámos um festival desportivo na praia de Hac Sá, chamado “Fiesta Palaro”. A associação também solicitou uma licença para poder fazer um pouco mais. Esperamos que possa ser aprovada ainda este ano», concluiu a dirigente.

Marco Carvalho

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