A nobreza ao serviço dos outros
Luís Eduardo Mendia de Castro orgulha-se de poder traçar as suas origens a uma época anterior à formação do Condado Portucalense. Mais precisamente, na pessoa de Maria de Alvarez de Castro, que em 1065 se casou com Fernando Sanchez, filho natural de Sancho I, rei de Aragão e Navarra. Originária do norte de Espanha, «essa gente andou depois de lado para lado», pela Ibéria fora.
Por sua sugestão, damos um salto até 1300. É agora protagonista Dom Pedro Fernandes de Castro, «senhor de Lemos», que teve dois filhos de um segundo casamento, «sendo o mais velho o meu antepassado, o conde de Trastamara». O nosso entrevistado informa, como curiosidade adicional, que este cavaleiro teve um filho de uma outra senhora, Dom Álvaro Pires de Castro, do qual viria a descender Dom João de Castro, «o grande vice-rei da Índia». Inês de Castro, que casou em 1320 com D. Pedro I, rei de Portugal, era irmã de Álvaro Pires de Castro. «Digamos que posso considerar a martirizada Inês como uma das tias da família», remata.
Percorramos, entretanto, um pouco da vida de Mendia de Castro, homem «educado a respeitar os assuntos de linhagem e tradição». Logo aos dezoito anos, «e porque era o único filho varão», sente o peso da responsabilidade, o que lhe torna a vida menos fácil. Esforça-se por ter as melhores notas, pois «tinha obrigação de formar-me». E formou-se. Em ciências económicas. Cumprida a tropa, inicia a actividade bancária, sendo convidado, em 1973, a abrir o primeiro banco português em Nova Iorque.
Após a revolução, «em vez de vir para Portugal discutir política e desenvolver pouco a actividade que nos interessava, que era económica e financeira», opta por rumar ao Brasil onde permanece nove anos. Esta decisão é facilitada pelo facto de a esposa ser brasileira. O ano de 1985 vê-o de regresso ao país natal, «de novo nas lides da banca e dos seguros».
Agora, já mais velho, resolve tratar das coisas da família. Nas suas palavras: «dedico-me a assuntos que limpam a alma».
Mendia de Castro é presidente da Associação Hípica Terapêutica, «fundada por um grupo de senhoras do maior mérito há cerca de 15 anos» e que tem como função colocar crianças deficientes a andar a cavalo. É conhecido o efeito benéfico que o acto de andar a cavalo produz no corpo e na psique humanas. Mendia de Castro dá o exemplo de uma criança «cuja deficiência é de tal forma profunda que precisa de ser entubada para comer», mas que no dia em que faz sessões a cavalo consegue ingerir alimentos de modo natural.
A designada hipoterapia é um programa essencialmente da área da saúde destinado a pessoas com deficiências físicas ou mentais. Neste caso, o praticante não reúne as condições físicas e/ou mentais para permanecer sozinho a cavalo, ou seja: não pratica a equitação, precisando, portanto, de alguém que conduza o cavalo.
«As crianças com disfunção neuromotora apresentam frequentemente grandes dificuldades de controlo muscular e postural e, como consequência dessa condição, as suas actividades funcionais e de descoberta do ambiente que os rodeia tornam-se deficitárias», explica Mendia de Castro.
A interferência da maturação cerebral normal presente no doente com disfunção neuromotora provoca um atraso nos estádios de desenvolvimento motor e permite a presença de padrões anormais de postura e movimento. O corpo humano é composto de componentes biomecânicos combinados para produzir posturas e movimentos variados.
«Ao analisar os componentes da postura do cavaleiro montado, teremos uma linha de base para determinar quais compensações ou desvios os nossos pacientes podem estar adotando na terapia equina e como podemos intervir para resolver o problema», acrescenta Mendia de Castro.
Em muitos casos, o praticante é capaz de exercer alguma acção sobre o cavalo e pode até mesmo dirigi-lo, dependendo, em menor grau, do auxílio auxiliar e lateral.
A actuação dos profissionais de equitação é mais intensa, embora os exercícios sejam programados por toda a equipa, de acordo com os objectivos pretendidos.
A Associação Hípica Terapêutica iniciou a sua actividade em 1989 no Hipódromo Manuel Possolo, em Cascais. Em 2005 mudou-se para o Real Clube de Campo D. Carlos I, onde passou a ter instalações próprias, sendo actualmente uma IPSS, Instituição Particular de Solidariedade Social. Para alcançar este objectivo conta com equipas multidisciplinares auxiliadas por grande número de voluntários. As sessões decorrem todos os dias da semana durante o período lectivo, contando com «cerca de 80 cavaleiros felizes e entusiasmados».
A associação vive das quotas dos sócios, «o que é insuficiente, pois há que pagar a tratadores de cavalos e a terapeutas».
JOAQUIM MAGALHÃES DE CASTRO