Patriarca entra na Santa Sé e é descoberta igreja ancestral
Um grupo de arqueólogos anunciou recentemente a descoberta dos restos de uma igreja do Século IV em Artaxata, a antiga capital do Reino da Arménia, que, coincidentemente, ocorreu na altura em que o Papa Francisco nomeou o Patriarca da Cilícia dos Arménios, D. Raphaël Bedros XXI Minassian, como novo membro do Dicastério para as Igrejas Orientais.
Um repetido toque de sinos no convento patriarcal de Bzommar, no Líbano, anunciou a nomeação do prelado, nascido a 24 de Novembro de 1946, na capital do País, educado no Seminário Patriarcal da mencionada cidade e que anos depois, em Roma, estudaria Filosofia e Teologia na Pontifícia Universidade Gregoriana. Até então, D. Raphaël Bedros tinha exercido as funções de arcebispo titular de Cesaréia da Capadócia dos Armênios e Ordinário – serviu os fiéis católicos arménios da Europa Oriental, acabando por suceder, em 2021 a D. Gregory Peter XX Ghabroyan, falecido em Maio desse ano.
D. Raphaël Bedros cursou na Pontifícia Universidade Salesiana, onde se especializou em Psicopedagogia. Depois de quase duas décadas de actividades sacerdotais em diversas paróquias libanesas, mudou-se para os Estados Unidos, onde, até 2003, exerceu a pastoral junto dos católicos arménios da Califórnia, Arizona e Nevada. Exerceu funções na “Telepace Armenia” (sector audiovisual), que ajudou a fundar; é o actual presidente da Cáritas na Arménia.
ESCAVAÇÕES EM ARTAXATA
No que respeita aos restos da recém-descoberta igreja de Artaxata, foram desenterrados por uma equipa conjunta de arqueólogos da Universidade de Münster (Alemanha) e da Academia Nacional de Ciências da Arménia, que escavam naquele exacto local desde Setembro. A ruína “consiste num edifício octogonal com extensões cruciformes”, que “corresponde aos primeiros edifícios memoriais cristãos”, como referiu em comunicado de Imprensa a prestigiada Universidade alemã.
Durante as escavações foram encontrados fragmentos de mármore que demonstram “a riqueza decorativa” e a “extrema qualidade” dos materiais utilizados. Nas extensões em forma de cruz, os arqueólogos descobriram ainda os restos de plataformas de madeira, que depois de análise de radiocarbono apontam para meados do Século IV d.C. Esta datação permitiu que os pesquisadores determinassem que a estrutura “é a igreja mais antiga documentada arqueologicamente no País – evidência óbvia do Cristianismo primitivo na Arménia”, como salientou Achim Lichtenberger, professor da Universidade de Münster.
A cidade agora em ruínas de Artaxata, localizada no topo de uma colina no Sul da Arménia ao longo da fronteira com a Turquia, foi fundada em 176 a.C., tornando-se numa importante metrópole, especialmente durante o período helenístico; serviu como capital do Reino da Arménia durante quase seis séculos.
A mesma colina, que proporciona vistas espectaculares sobre o Monte Ararat, do outro lado da fronteira turca, alberga também o antigo mosteiro de Khor Virap, ainda activo e importante local de peregrinação.
A descoberta desta igreja faz todo sentido, pois o Reino da Arménia foi o primeiro Estado a adoptar o Cristianismo como religião oficial no início do Século IV. Vem dessa época o estabelecimento de uma comunidade arménia em Jerusalém, presença que se mantém ainda hoje.
O Reino da Arménia, então um “Estado cliente” do Império Romano, tornou-se formalmente cristão em 301 d.C., quando, de acordo com a lenda, Gregório, o Iluminador, converteu ao Cristianismo o rei arménio Tiridates III, precisamente em Artaxata. Tudo isto ocorreu muito antes do Concílio de Niceia em 325 d.C., que codificou e simplificou os vários dogmas do Cristianismo e, acima de tudo, antes mesmo do Édito de Milão em 313 d.C, com o qual o Imperador romano, Constantino, proibiu a perseguição aos cristãos e autorizou as suas práticas religiosas. Por esse motivo, a Arménia é considerada o primeiro reino cristão e a Igreja Ortodoxa Arménia uma das mais antigas denominações cristãs. O País também abriga um número significativo de católicos arménios, que têm tradições distintas e são leais ao Papa e à Igreja de Roma.
Convém lembrar que a Arménia ostenta já aquela que alguns consideram a catedral mais antiga do mundo: a Catedral de Etchmiadzin, construída em 301 d.C. na cidade de Vagharshapat, na época da conversão de Tiridates III, mas não se sabe bem qual estrutura detém “o título de igreja mais antiga”. Entre as mais ancestrais casas de oração cristãs conhecidas, temos a igreja doméstica Dura-Europos, na Síria, que se acredita ter sido uma casa particular convertida numa casa de culto cristã em meados do Século III d.C; a igreja Megiddo, em Israel, também datada do início do Século III e que se acredita ter sido reaproveitada de forma semelhante; e, finalmente, a igreja de Aqaba, na Jordânia do final do Século III, considerada “a primeira casa de culto cristã construída para esse fim já descoberta”.
A equipa germano-arménia, que trabalha em Artaxata desde 2018, disse que continuará as escavações e espera fazer novas descobertas, incluindo “a questão de saber a quem a igreja foi dedicada”.
Joaquim Magalhães de Castro