Ana Paula Laborinho, Presidente do Instituto Camões, anunciou nos Estados Unidos

Ensino de Português à distância.

Na sua segunda viagem à Califórnia enquanto presidente do Instituto Camões, Ana Paula Laborinho, no decorrer de uma recepção oferecida ao secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, salientou, em jeito de alerta, aquilo com que tem vindo a ser confrontada sempre que visita as comunidades portuguesas. «Estamos a lidar com terceiras gerações que já não têm a mesma relação com a língua portuguesa e se calhar temos de lhes passar o interesse pelo Português por outras razões».

Que para as ditas comunidades o Português é uma língua de identidade, «de profunda ligação às suas raízes», é ponto aceite. Mas cada vez mais, como realçou Laborinho, «o Português é uma língua internacional». E exemplificou: «Nós tivemos há pouco dias, no Brasil, um momento histórico que foi o compromisso, dentro da CPLP, de levar a língua portuguesa às Nações Unidas, o que hoje em dia ainda mais se justifica posto que temos agora à frente dessa organização um português. De facto, é também cada vez mais esta mensagem que nos esforçamos em passar, e é neste sentido que trabalhamos: o Português como grande língua de comunicação internacional. Felizmente, nos Estados Unidos, temos dado conta que há um interesse crescente pela língua portuguesa, nomeadamente ao nível das universidades. Portanto, estamos certos que vamos conseguir que o Português, também aqui nos Estados Unidos, tenha um crescimento que esteja de acordo com a sua dimensão internacional».

O Português é já a quarta ou quinta língua mais falada do planeta. Por isso urge continuar a apostar nele, não apenas, e já seria muito, por razões de identidade, mas também porque será uma ferramenta útil neste planeta globalizado. A verdade é que cada vez mais vemos países de língua oficial portuguesa a afirmarem-se e a crescerem, como é o caso do Brasil, mas também Angola e Moçambique. O Português está a crescer mas é preciso, como lembrou Ana Paula Laborinho, «que esse crescimento se faça na direcção da ciência e da inovação». O Instituto Camões tem-se batido por esse tópico e a responsável, aproveitando o facto de se encontrar no epicentro de «um vale tão simbólico» (o Sillicon Valley), não pôde deixar de introduzir essa tão premente questão da ciência e da inovação. «As línguas podem ser muito faladas internacionalmente, mas se não forem também línguas de conhecimento, línguas de inovação, não terão esse nível de projecção internacional que nós queremos que o Português tenha. O mesmo se aplica à inovação». E é nesse sentido que o Instituto Camões, em parceria com o Ministério dos Negócios Estrangeiros e o Ministério do Ensino Superior, Ciência e Inovação, enquanto divulga a língua portuguesa procura também estabelecer contactos entre universidades portuguesas e universidades dos países onde se ensina o Português, levando programas de ciência para que haja cada vez mais investigação conjunta, mobilidade de professores, mobilidade de alunos. «É preciso que o cruzamento que nós fazemos – e a língua portuguesa é uma boa forma de cruzar instituições – também nos possa levar mais longe».

Um dos projectos em curso, «e que muito provavelmente mais parceiros estrangeiros atrairá», vai situar-se precisamente nos Açores. É o designado projecto das Lages. «Aí está pensado um grande centro internacional, um grande centro de ciência dedicado às chamadas áreas de ponta, como o conhecimento do espaço, o conhecimento dos mares, ou seja, níveis de conhecimento muito avançados. Tem havido por parte das universidades americanas um grande interesse em aderir a esse projecto e pensamos que o Centro das Lages congregará no futuro o esforço de muitas instituições do Ensino Superior e será, definitivamente, uma forma de produzir ciência em língua portuguesa», acrescentou Laborinho.

Outra questão é a inovação. Uma língua não será uma grande língua internacional se não se ligar à inovação e, nesse aspecto, a presidente informou que a instituição que tutela está «empenhadíssimo em desenvolver projectos de inovação», nomeadamente aplicações para telemóveis e “tablets” que permitem a aprendizagem do Português. E avançou em primeira mão: «Ficará pronta em Dezembro uma plataforma de ensino português à distância, de forma a que as novas gerações de portugueses possam manter o contacto com o idioma dos seus antepassados. Sabemos que, sem esse tipo de instrumentos que os interessam de sobremaneira, será impossível conquistar os mais jovens», disse.

Também em Portugal se está a trabalhar no sentido de desenvolver o Português «como uma língua artificial que permita esse salto qualitativo de a fazer, de a tornar, uma língua de inovação, de conhecimento, e é este percurso que queremos seguir e estamos apostados em desenvolver».

Ana Paula Laborinho aproveitou a intervenção para congratular o trabalho que está a ser feito na baía de San Francisco pelos professores José Luís da Silva e Diniz Borges. «Temos de ir mais longe mas sobretudo mostrar aos mais novos que a língua portuguesa é uma língua de futuro. É uma língua de construção desse futuro. Por isso há razões para aprender Português, e essas razões são, para muitos de nós, razões das nossas raízes mas têm de ser, para muitos mais, razões de um futuro», concluiu.

Joaquim Magalhães de Castro

em San José, Califórnia

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